> >
Teatro por lives se mostra favorável a produtores do ES na pandemia

Teatro por lives se mostra favorável a produtores do ES na pandemia

Trupes e produtoras aprovam o novo normal para o período de distanciamento, mas ainda esperam medidas do governo para voltar aos teatros. Até apresentação drive-in estão nos planos

Publicado em 20 de agosto de 2020 às 16:15

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
A peça
A peça "O Gato do 303" investe no Teatro Virtual, também apostando na interação com a plateia. (Leonardo Magalhães)

Em meio a uma crise sanitária poucas vezes vista na história recente do país - o que evidencia ainda mais a carência de políticas públicas em diversos setores da sociedade, especialmente a Educação e a Cultura -, os espetáculos teatrais, um produto essencialmente presencial, precisaram se reinventar para continuar com suas atividades. Por conta da pandemia do novo coronavírus, alguns grupos e artistas buscaram alternativas na internet e nas redes sociais, apostando em transmissões ao vivo, principalmente pelo Instagram, Zoom e YouTube.

O "Divirta-se" conversou com diretores e produtores que fazem teatro no Espírito Santo. Eles afirmaram que o retorno das atividades, mesmo que apenas em formato virtual, está valendo a pena. "Adiamos vários projetos e ficamos afastados do público mais de quatro meses. Apostar nesse formato é a nossa única saída no momento. O poder de alcance da internet é grande e traz visibilidade ao nosso trabalho", acredita Bruna Dornellas, uma das sócias da WB Produções.

Com o agravamento da pandemia, muitos projetos da WB  - uma das maiores companhias teatrais em atividade no Estado - tiveram que ser replanejados. A primeira experiência da empresa nesse novo mundo virtual, o show musical "Amor de Pai", foi exibido pelo YouTube, direto do Convento da Penha, há uma semana. Quase quatro mil pessoas acompanharam de suas casas. A segunda delas, o espetáculo "O Canto da Guerreira - Uma homenagem a Clara Nunes", com Monique Rocha, será transmitido ao vivo pelas redes sociais, do Teatro da Ufes, no próximo dia 29.

"Estamos trabalhando com uma nova linguagem, que pretende ser uma junção do teatro com o audiovisual. Nossa primeira peça teve uma ótima aceitação, com uma participação popular que nenhum espaço físico poderia nos dar. Então, vejo como uma oportunidade de levarmos a nossa arte para o mundo inteiro", acrescenta a produtora. 

CRIATIVIDADE

Com uma pitada de criatividade, sempre há chance de conferirmos materiais, no mínimo, inusitados. O espetáculo "O Gato do 303" - com sessões pelo Zoom, de sexta a domingo, até 23 de agosto - é um bom exemplo disso.  

Com direção de Leonardo Magalhães, a atração é o primeiro espetáculo on-line da CENA Escola de Atores. A ideia, de acordo com o diretor, é explorar as possibilidades criativas da plataforma, em uma linguagem que mescla a experiência teatral com a cinematográfica. Uma inovação para escapar da paralisação imposta pelo vírus. 

"Os alunos foram responsáveis pela criação da história e atuam de suas casas, cuidando da câmera e da iluminação. A produção nasceu a partir da necessidade de continuar os estudos em interpretação, em meio à pandemia. Com a suspensão das atividades presenciais, nos vimos diante do desafio de migrar para o ambiente digital de maneira criativa", explica Magalhães. 

De acordo com o diretor, apostar na interação é a chave do sucesso de uma montagem digital e o resultado está sendo bastante positivo. "Na semana passada, nossas apresentações contaram com expectadores de outros estados e até de outros países. O espetáculo dura 35 minutos, mas, no final, sempre rola um bate-papo com os internautas. Essa troca de experiências é enriquecedora para o artista em formação", acredita. 

Cena do espetáculo digital
Cena do espetáculo digital "O Gato do 303", transmitida pela plataforma Zoom. (Reprodução)

O teatro digital, especialmente o transmitindo pelo Zoom, de acordo com Leonardo, cria novas possibilidades do artista trabalhar questões corporais, também treinando o olhar para metalinguagens, como o audiovisual. 

"Influencia até na aparição dos atores em cena. Nas lives, podemos deixar em foco apenas quem está falando, criando a possibilidade também de inserir vídeos, galerias e cenários virtuais, através do Chroma key. Há, também, uma possibilidade do próprio público decidir o desenvolvimento da trama, por meio de enquetes", explica. 

EXPERIÊNCIAS

Em meio ao avanço da Covid-19, a interatividade parece ser um instrumento da "nova realidade" do teatro. Adriana Almeida, coordenadora do projeto "Diversão Em Cena", que, desde abril, apresenta suas atrações infantis pelo Facebook Youtube, relata que as montagens precisam encontrar uma forma de despertar a atenção da plateia virtual. 

"As lives têm dado um bom retorno e revelaram um público muito diverso. Desde abril, nossos espetáculos foram vistos por cerca de 100 mil pessoas. Muitos, por exemplo, assistem apenas uma parte ou preferem ver depois, pois sabem que uma gravação de qualidade estará disponível na plataforma", detalha, dizendo que, durante as performances, a troca de informações entre público e ator é primordial. 

"Tentamos criar elementos surpresas. Sempre lemos os recadinhos enviados ao vivo. Além disso, criamos promoções interativas. Há uma semana, durante a exibição de 'O Pequeno Príncipe', pedimos à plateia para enviar desenhos", detalha. 

E quem não tem acesso a uma internet de qualidade? Como acompanhar esse novo momento do teatro? O "Diversão Em Cena" também pensou nessa fatia de público, apostando no antigo lema: "o artista vai aonde o povo está".  "Em outubro, vamos começar a enviar para as pequenas cidades mineiras um kit chamado 'Teatro de Sombras'. A criança vai fazer suas próprias apresentações, sem precisar de internet", revela, informando que o Espírito Santo, em um primeiro momento, não faz parte do projeto.

EXPECTATIVAS

Se a pandemia não se estabilizar em um curto período de tempo, Bruna Dornellas, da WB, não descarta a possibilidade de investir em peças de teatro em formato de drive-in, agora permitidas no Espírito Santo. "Temos essa opção, que estamos estudando a viabilidade. Porém, continuamos na esperança de ter um protocolo do Governo do Estado, no que diz respeito ao retorno do teatro presencial.  Vamos tomar todas as medidas de segurança, assim como estão seguindo outros setores da economia", avalia. 

Para o teatro especificamente, o governador Renato Casagrande (PSB) permitiu que esses espaços sejam usados, a partir de setembro, apenas para transmissões de lives e ensaios cênicos, ainda sem a presença do público. 

FUTURO

Os números dos prejuízos do setor cultural - e da economia criativa - revelam um abismo financeiro sem precedentes. De acordo com dados divulgados recentemente pelo Governo Federal, o setor movimenta R$ 171,5 bilhões por ano, o equivalente a 2,61% de toda a riqueza nacional, chegando a empregar 837,2 mil profissionais. Antes da pandemia, esse segmento cultural tinha previsão de gerar R$ 43,7 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) até 2021. 

Em meio a planos para a retomada, mesmo que ainda sem previsão de acontecer, os profissionais de cultura garantem que, em um  cenário pós-pandemia, o comportamento do público vai decidir se as companhias devem investir em um formato híbrido, com apresentações presenciais e com parte do público acompanhando de suas casas. 

Adriana Almeida é uma das defensoras dessa teoria. "Estamos caminhando por partes. Com o afrouxamento de algumas medidas sanitárias, começamos a transmitir nossas lives dos teatros. Sentimos, porém, que à medida que as pessoas vão deixando o isolamento social, acabam buscando outras formas de entretenimento e o on-line vai perdendo sua força. Queremos continuar com duas frentes, mas vai depender do feedback do público", pondera. 

"Nosso futuro ainda é incerto. Portanto, estamos estudando todas as possibilidades. Acredito que as lives para o teatro vieram para ficar. Veja o exemplo da educação, cada vez mais apostando no ensino à distância", pontua Bruna Dornellas.

Leonardo Magalhães aponta que apresentações futuras devam ser feitas de maneira independente. "Existem montagens que têm uma linguagem que funciona apenas no palco. Lógico que há possibilidade de pensá-las também em formato on-line, mas o produtor teria que fazer um investimento gigantesco, com várias câmeras e gruas, para que a imersão do espectador em casa seja a mesma de quem está assistindo presencialmente. Os custos seriam muito altos", avalia. 

TEATRO ON-LINE

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais