A primeira vez em que Thiaguinho subiu em um palco para cantar, ele tinha 12 anos, e foi tudo de forma improvisada, na escola em que estudava em Ponta Porã (MS), com a ajuda dos pais e amigos. A música escolhida foi "Temporal", do Art Popular.
Quatorze anos depois, em dezembro de 2019, Thiaguinho apresentou a mesma canção no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para 40 mil pessoas. O show encerrou o "Tardezinha", iniciativa idealizada por ele e por seu sócio e amigo, o ator Rafael Zulu, como uma roda de samba entre amigos para tocar pagodes antigos, especialmente dos anos 1990.
O projeto, que surgiu para durar um mês, logo agradou o público e tomou proporções grandiosas. Em quatro anos foram 162 edições em 22 estados, em um total de quase 1 milhão de espectadores. Agora, uma série documental do Globoplay, lançada nesta quinta-feira (15), se propõe a mostrar os bastidores, os desafios e as alegrias dessa jornada, com destaque para a performance no Maracanã -"o dia mais feliz da minha vida", diz ele- e depoimentos de cantores como Alexandre Pires, Belo, Rodriguinho, Péricles, entre outros.
Também nesta quinta (15), a Som Livre lança nas principais plataformas de música o álbum "Tardezinha no Maraca", com 20 faixas -entre as quais os hits "Cheia de Manias" (Raça Negra), "Que se Chama Amor" (Só Pra Contrariar), "Marrom Bombom" (Os Morenos) e "Temporal".
Para Thiaguinho, a canção composta por Leandro Lehart, a primeira que ele cantou em um palco, é a que mais o emocionou dentro do projeto. "É difícil explicar... 'Temporal' representa bastante isso, esse sonho na minha cabeça de viver da música", diz ele, em conversa com jornalistas por videoconferência na terça passada (13).
No primeiro dos quatro episódios da série, o cantor, que começou a carreira profissionalmente após participar do reality show Fama (2002, Globo), conta como era vidrado no pagode dos anos 1990 a ponto de ler e decorar as fichas técnicas dos CDs de seus ídolos. "Eu sei mais da carreira dos cara do que eles mesmos [..] Eu sou viciado, eu sei os compositores, os arranjos [...] sei o técnico de som, quem fez a mixagem", diz, em trecho do projeto.
Thiaguinho também relata que, embora desejasse muito ser cantor, nunca vislumbrou que seria amigo desses artistas. "Sempre imaginei esses caras muito distantes: Belo, Alexandre [Pires], Péricles, Rodriguinho. Para mim, era um negócio muito longe", afirma.
Na conversa com jornalistas, o músico destaca que muito desses cantores também ajudaram a formar a sua autoestima enquanto homem negro. "Influenciaram o meu corte de cabelo, a maneira de me vestir e, principalmente, ao me olhar no espelho. Via as meninas da escola falando que eles eram bonitos e pensava: 'Há uma esperança'."
O cantor diz se sentir feliz por poder ser uma inspiração para crianças negras. "A continuidade dessa reafirmação da beleza do homem negro [...] Deveria ter muito mais espaço para isso. Mais da metade do nosso país é negra, se comparar em exposição, ainda tem muito a crescer."
Perguntado sobre um possível retorno dos shows de "Tardezinha", Thiaguinho diz que, existe, sim, essa possibilidade, mas ainda avalia ser cedo para pensar sobre o assunto. O último show foi justamente o do Maracanã. "É muito gostoso saber que as pessoas têm essa vontade", afirma.
Antes disso, ele pensa em outras iniciativas como retomar os shows acústicos que já vinha realizando pelo país. Outra proposta é fazer uma retrospectiva dos principais sucessos da sua carreira, mesclado com inéditas.
"Chegaram muitas pessoas novas para me ouvir e que não conhecem muitas coisas que foram cantadas e compostas por mim na época do Exaltasamba. Já está na hora de fazer um resumo do que aconteceu nos últimos 10, 12 anos, sei lá... Músicas como 'Desencana', 'Sou o Cara pra Você', 'Buquê de Flores' [todas do álbum 'Ousadia & Alegria', de 2012]".
Sete meses sem fazer apresentações por causa da pandemia do novo coronavírus, Thiaguinho afirma que não vê a hora de voltar aos palcos. Embora ainda não exista uma data certa para o retorno aos shows, ele diz acreditar que isso possa ocorrer entre o fim deste ano e início de 2021.
"Cantar é o que me move, é a minha vida. Não vejo a hora de as coisas voltarem ao normal ou ao 'novo normal'. Assistindo o documentário ['Tardezinha'] então, mexe mais ainda comigo, espero que isso em breve se resolva para voltar a fazer o que ama e levar esperança e alegria para as pessoas", acrescenta.
Segundo o Globoplay, ainda no mês de outubro, as 20 faixas lançadas no álbum "Tardezinha" também serão apresentadas em vídeos, gravados no show do Maracanã, exclusivamente na plataforma.
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