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Três nomes em ascensão no rap e R&B do ES para ficar de olho

Três nomes em ascensão no rap e R&B do ES para ficar de olho

Afronta, Sayra e Matheus Nascimento mostram que estão prontos para levantar suas bandeiras por meio das rimas e swing

Publicado em 12 de novembro de 2020 às 19:05

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Afronta, Sayra e Matheus Nascimento são os nomes em ascensão no rap e R&B do ES
Afronta, Sayra e Matheus Nascimento são os nomes em ascensão no rap e R&B do ES . (Brenda Lima, Yuri Maretto & Matheus Rodrigues e Jason Vieira )

"O rap é compromisso. Não é binárie". Essa é a descrição que você vai ler ao visitar o perfil da artista capixaba Afronta MC no Instagram. Em referência a um dos maiores nomes do rap brasileiro, o Sabotage, ela convida o público a refletir sobre o machismo e a homofobia dentro do movimento Hip Hop e também na sociedade. O tom de protesto aparece no trabalho da jovem de 20 anos que viu a música como instrumento de denúncia e de conscientização.

Nascida e criada no Morro do Jaburuna, em Vila Velha, Afronta conta que sua vivência e trajetória refletem nas composições e performances artísticas. “Estou dentro do guarda-chuva das pessoas trans, mas como uma pessoa não-binária: que é alguém que não se reconhece dentro da binaridade dos gêneros, homem ou mulher. Sou bicha, sou preta e pobre”, se descreve com orgulho.

A MC tem uma caminhada recente na música, mas sempre acompanhou de perto o movimento Hip Hop capixaba. Além de cantora, Afronta também é atriz e possui formação técnica em teatro.

Sua inserção na cena rap foi frequentando as batalhas de rima: encontros para competição de versos improvisados entre os aspirantes do gênero. Assistindo aos "confrontos", nasceu dentro da artista a vontade de também cantar. Porém, como ela mesma relata, o espaço ainda era hostil. “Sempre gostei do estilo e de ir aos eventos, mas nunca me vi como parte do movimento por ser um lugar machista, transfóbico e homofóbico. Eu não me via representada ali”, conta.

A vida da artista mudou completamente a partir de 2019 quando assistiu a um vídeo da rapper paulista Monna Brutal competindo em uma batalha de rimas. Inspirada na artista trans, Afronta criou coragem para também entrar para as disputas líricas. E foi aí que a jovem começou a ganhar espaço e se tornou, como ela mesma diz: “a primeira bicha a batalhar nas competições de rap capixaba”.

Afronta MC se mostra como uma potência em ascensão no mercado musical do estado.
Afronta MC se mostra como uma potência em ascensão no mercado musical do estado. (Arquivo Pessoal)

Durante todo aquele ano, Afronta conciliava os estudos em Serviço Social, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e os rolês das batalhas que estouravam por vários cantos da cidade. As batalhas da Escadaria do Rosário, Batalha do Atlântica e do Projeto Boca a Boca foram as que a artista mais frequentou e onde aprimorou a técnica da rima improvisada, seja batalhando ou observando outros rappers duelando.

Em pouco tempo, ela ganhou visibilidade e conseguiu, alguns meses depois, lançar sua primeira produção no YouTube. O trabalho teve uma boa repercussão nas redes sociais e jogou luz sobre a artista. Visualizando um espaço para mostrar seu trabalho na arte, ela seguiu compondo mais e mais.

Sua escrita ganhou peso com as denúncias contra o racismo, o machismo e a homofobia. E essa é a base do trabalho da artista que como o próprio nome já diz, veio para afrontar. “Temos muitos desafios pela frente, mas vamos driblando tudo com a força da beleza do sol, como diria Emicida”, cita.

Há um mês, Afronta MC lançou o clipe de "Se Morde de Raiva" pelo selo independente da PERC Produções. Apesar de ter poucos recursos e a realização ser praticamente coletiva, o clipe é uma excelente obra audiovisual que mistura referências do vogue, estilo de dança popularizado entre pessoas LGBT e negras nos Estados Unidos na década de 1980, e o Hip Hop. 

A mensagem da canção é toda trabalhada em metáforas e ironias com pitadas de críticas sociais. Afronta MC é um dos mais novos nomes do rap capixaba e se mostra como uma potência em ascensão no mercado musical do estado.

BATALHAS DE RIMA SÃO ESCOLAS PARA RAPPERS

As batalhas de rimas tem sido incubadoras para os artistas que desejam crescer com a música e serem representantes do gênero rap no Estado. Diversos rappers capixabas que já ganham espaço nacionalmente como César MCAfari MCNoventa e Dudu têm as batalhas como início de suas trajetórias. É na rua e travando uma disputa de versos improvisados que surgem os novos nomes.

Sayra, de 21 anos, também tomou gosto pela rima neste espaço. Mas o apreço pela música vem de dentro de casa, isso porque a mãe da artista, que mora em Laranjeiras, na Serra, sempre colocava alguma canção para a filha escutar antes de dormir. O hábito inocente fez crescer nela o desejo em se desenvolver artisticamente. Com 12 anos, a artista aprendeu a tocar violão e foi nessa mesma idade que passou também a compor e a cantar.

Sayra faz parte da nova geração de rappers que vem surgindo através de diversas iniciativas de batalhas de rima no Estado.
Sayra faz parte da nova geração de rappers que vem surgindo através de diversas iniciativas de batalhas de rima no Estado. (Yuri Maretto e Matheus Rodrigues)

O contato com o rap aconteceu quando ela estava no ensino médio. Durante as aulas de geografia, ministradas pelo professor André Luiz Angelo Martins, conhecido no universo Hip Hop capixaba como Adikto, a jovem se interessou pelo gênero. Encantada pelo movimento, Sayra passou a frequentar, assim como Afronta MC, as batalhas de rimas que aconteciam na cidade.

A primeira vez que assistiu uma foi na Escadaria do Rosário, santuário do movimento Hip Hop na Capital, e sua primeira participação encarando uma batalha de rima aconteceu no centro cultural Casa da Barão. Ela conta que a experiência não lhe garantiu uma vitória de primeira, mas isso não a impediu de continuar, pelo contrário, fez a jovem querer aprimorar e voltar para outra batalha. “Eu perdi, mas faz parte. E por um ano eu segui batalhando”, diz.

Como Afronta MC, a rapper Sayra também faz parte do selo independente PERC Produções que vem investindo nos novos artistas de rap e R&B do Espírito Santo. Em 2019, ela lançou o primeiro single intitulado “Mente Avante” com a produtora.

Adikto, um dos precursores dos projetos de batalhas de rima no ES, vê a nova safra com bons olhos, orgulhoso do que plantou em 2006. “Em 2006 eu batalhei com o Emicida, fui para a final com ele. Quando voltei, iniciei o projeto ‘Escola de Rima’, precursora para várias outras rodas de rimas que foram surgindo como o ‘Projeto Boca a Boca’. Eu continuo de fora observando todos os novos nomes e a maioria é formada por meus alunos. É muito bom saber que o trabalho feito lá atrás não foi em vão. Fico feliz em ver esse crescimento e por fazer parte de tudo”, conta Adikto.

INTERNET É UMA ÓTIMA VITRINE

Mas nem só de batalhas surgem os novos nomes. A internet possibilitou aos artistas independentes mostrarem seus trabalhos para um número maior de pessoas e com um custo menor.

É o caso do capixaba Matheus Nascimento que, desde 2018, vem mostrando ao mundo sua voz carregada no Rhythm and Blues. Naquele ano, o rapaz de 22 anos publicou em seu canal do YouTube o primeiro EP de quatro faixas autorais: “Quando cê vem me ver”, “Comigo não”, “No peito” e “Dose over”.

Toda a produção da obra foi feita pelo artista que apenas com um violão e um celular registrou em áudios suas composições. Com as canções gravadas de forma caseira, Matheus preparou um material visual de divulgação e publicou o trabalho na Internet. Ele conta que ficou surpreso com a repercussão positiva que teve, especialmente em suas redes sociais, e que recebeu incentivos de amigos e familiares para continuar com a música.

A trajetória do músico tem início dentro de uma igreja. Ainda criança, ele integrou o coral religioso e foi durante um culto evangélico que ele cantou pela primeira vez para um público. Desde os 13 anos, quando começou a tocar violão, Matheus escreve suas canções. As inspirações vêm de dentro, dos próprios sentimentos que perpassam o jovem. E por já ter algumas letras escritas é que ele decidiu em 2018 compilar e gravar dentro de casa seu primeiro trabalho.

Matheus Nascimento tem uma voz rouca e a língua presa, o que não prejudica sua musicalidade, ao contrário, agrega como características exclusivas do artista. Ele conta que bebe da fonte do R&B e da black music brasileira, tendo como primeiras referências musicais o grupo Fat Family. Pela infância no meio religioso, ele também carrega consigo inspiração em cantores da música gospel, como Cassiane e Aline Barros.

“Tenho minhas limitações financeiras. Mas ter pouco dinheiro não vai me parar
“Tenho minhas limitações financeiras. Mas ter pouco dinheiro não vai me parar", diz o artista Matheus Nascimento. (Jason Vieira)

Morador de Cobilândia, em Vila Velha, o cantor diz que sendo um artista independente e novo no cenário musical, enfrenta algumas dificuldades, mas, por conta da Internet, percebe uma colaboração e incentivo vindo do próprio público que o acompanha. “Tenho minhas limitações financeiras. Mas ter pouco dinheiro não vai me parar. A arte não é feita sozinha. O apoio é muito necessário para os artistas iniciantes e eu vejo essa onda colaborativa na Internet. Eu sou a prova viva disso, meu microfone é de uma doação”, revela.

VALORIZAÇÃO

O cantor diz perceber ainda um olhar mais atento do público capixaba que passa a perceber e a valorizar mais os talentos da casa. Para ele, isso é por conta da projeção nacional de alguns nomes, como SILVA, por exemplo. “Há dez anos, era muito mais difícil de ter visibilidade, agora temos cantores mais famosos conquistando o seu espaço. Eles que já estão mais em evidência atraem o olhar para cá e isso já muda um pouco o cenário”, avalia.

E é neste contexto de possibilidades com a internet e aproximação do público capixaba com os artistas da terra que o cantor Matheus Nascimento apostou em lançar sua primeira canção produzida em estúdio. “Pirar” chegou ao mundo e às plataformas digitais na última quarta-feira, 11.

De forma independente ou com uma produtora, essa turma promete movimentar a cena da black music no Espírito Santo. Vale muito ficar de olhos e ouvidos ligados, pois tem muita produção chegando por aí.

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*Lorraine Paixão é aluna do 23° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob orientação do editor Erik Oakes.

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