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Tríade: museu Vale recebe exposição com obra vista da baía de Vitória

Tríade: museu Vale recebe exposição com obra vista da baía de Vitória

Exposição com obras de Fredone Fone, Bruno Zorzal e Sandro Novaes fica em cartaz até fevereiro de 2020

Publicado em 28 de novembro de 2019 às 16:08

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Fotos da exposição "Tríade: linha, plano, imagem", no Museu Vale: obra de Fredone Fone. (Sergio Araujo/Divulgação)

Um grafite em forma de mosaico, com rupturas abstratas em tons preto, branco, cinza e vermelho, ocupa 420 m² da lateral externa do galpão de exposições do Museu Vale, em Argolas, Vila Velha. A ideia é mostrar o gigantismo da arte pós-moderna.

A pintura, inclusive, flerta com o “olhar mimético”, uma espécie de contraponto com a paisagem da Baía de Vitória e do porto da Capital capixaba. Um projeto ambicioso, de encher os olhos.

Conceitos estéticos à parte, obviamente estamos falando da obra de Fredone Fone para a exposição “Tríade: Linha, Plano, Imagem”, que estará em cartaz no museu, de sábado (30) até 23 de fevereiro de 2020, com entrada franca.

Além da pintura em spray na parede panorâmica do espaço cultural, a mostra também conta com obras de Bruno Zorzal (uma série de representações plotadas, coladas sobre a parede no estilo de imagens dos nostálgicos fotógrafos lambe-lambe) e Sandro Novaes (um labirinto imaginário composto por linhas monocromáticas).

Fotos da exposição "Tríade: linha, plano, imagem", no Museu Vale: obra de Bruno Zorzal . (Sergio Araujo/Divulgação)

Ah, sim: na composição de Novaes, paredes inclinadas compõem uma sensação tridimensional por meio de cordas de elástico e vídeoinstalações. Bruno (acertadamente) abusa de elementos da pop art, em um conceito estético de extremo bom gosto.

Fotos da exposição "Triade: linha, plano, imagem", no Museu Vale: obra de Sandro Novaes. (Sergio Araujo/Divulgação)

IMENSIDÃO

Conhecido no universo do grafite capixaba, Fredone avisa que, para compor sua obra (de acordo com os organizadores da mostra, ela pode ser vista do outro lado da baia de Vitória) tentou ser o mais minimalista possível.

“Desde 2009, para continuar carregando algo das minhas raízes, pensei em fazer um trabalho que não me obrigasse a abandonar a rua e que utilizasse o spray. O grafite me apresentou outras formas de arte”, contextualiza, dizendo que sua criação acaba se confundindo (no bom sentido, é claro) com a zona portuária, como se fosse a paisagem do porto, com seus guindastes e plataformas. Abaixo, veja uma parte do bate-papo do “Divirta-se” com Fredone Fone, que dá detalhes sobre sua obra: "Alguns Planos que a Gente Fez".

Como nasceu a concepção artística de "Alguns Planos que a Gente Fez"?

  • Eu já havia participado da exposição "20/20" no Museu Vale,, em 2018, pintando a entrada da galeria. Desta vez, me convidaram para fazer uma pintura ainda maior. Que seria a lateral do galpão de exposições, de frente para o canal. Gostei do desafio! Decidi construir - através da pintura,  com utilização da tinta - pequenas habitações, ou kitnets, que representam o sonho da casa própria. A dificuldade e a luta enfrentada por moradores das periferias em realizar este sonho difícil.

Qual material foi usado e em quanto tempo a obra ficou pronta? Há um forte teor de contestação social na pintura.  Sua ideia sempre foi passar essa sensação no público?

  • Para mim é inevitável estar no Museu Vale, correr os olhos pela grande vista panorâmica e não notar o contraste social demarcado pela arquitetura e pelo modo de se construir de cada parte ou bairro da cidade. Posso ver paredes sem reboco, prédios altos, zona portuária, telhados e inacabadas construções improvisadas. Este trabalho é uma pintura de parede. Portanto, usei apenas tinta para piso, não usei spray. Na verdade, foi um projeto rápido. Foram dez dias entre pesquisa e elaboração do desenho e 25  entre início e fim da pintura.

Você é muito conceituado no mundo da arte urbana, tem alguma referência que norteia a sua inspiração artística?

  • Minhas principais referências são a construção civil, a arquitetura e o modo de vida na periferia. Meu pai é pedreiro e o ajudei no ofício durante dez anos, pintando e construindo casas no bairro onde cresci, em Serra Dourada, na periferia da Serra. Também tenho influência do skate, da "pixação", do graffiti e do hip hop.

Vista panorâmica da obra "Alguns Planos que a Gente Fez", de Fredone Fone. (Divulgação)

Sua experiência com o graffiti é ampla. A arte, que tem um forte viés contemporâneo e é respeitada em várias partes do mundo, ainda é vista com preconceito por parte da sociedade brasileira?

  • Comecei a pintar paredes com spray aos 14 anos, fazendo o que no Brasil chamam de "pixação". Esta palavra só existe no Brasil. Lá fora, chamam de graffiti também. Não é de hoje que tem saído muitas matérias falando sobre pixação e graffiti como inimigos, classificando os pixadores como bandidos perigosos. Incentivando, inclusive, que seja usada a violência contra quem for pego fazendo este tipo de escrita. Estou neste mesmo grupo de pessoas que pintam no espaço público. Faço minha arte na rua desde a adolescência. Pelo fato de ser uma arte sem muitos holofotes nas galerias, feita por pessoas jovens e, quase sempre, periféricos, o graffiti tende a ser discriminado, muito antes de ser classificada como crime.  Oficialmente, só estudei até o ensino médio. Hoje defendo muito o acesso à universidade, mas não gostava do ambiente escolar. Minha formação se deu ao longo destes quase 25 anos pintando nas ruas, visitando galerias, indo em bate-papos com os artistas. Também teve muita conversa com meus amigos na rua, ouvindo rap e pintando paredes com o meu pai. O hip hop me fez ter vontade de ler e descobrir muita coisa.

“TRÍADE: LINHA, PLANO, IMAGEM”

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