Em 23 de maio de 1535, Vasco Fernandes Coutinho chegava a Prainha, em Vila Velha, a bordo de sua caravela Glória, com o intuito de colonizar a então criada Capitania Hereditária do Espírito Santo. A dois dias de completar 485 anos, a cidade canela-verde, hoje um centro regional de quase meio milhão de habitantes, é uma referência para a economia capixaba.
Mesmo com a visível prosperidade, a segunda cidade mais populosa do Estado chega à semana de comemoração do aniversário e Colonização do Solo Espírito-Santense sem ver as reformas de seus maiores símbolos culturais e históricos concluídas.
Espaços como o Museu Homero Massena e a Casa da Memória ainda estão em obras, algumas com atraso, especialmente a última. O projeto de reestruturação da Gruta de Pedro Palácios, prometido para iniciar em 2019, ainda não saiu do papel.
Em situação pior encontra-se a Caravela Espírito Santo. Construída para as comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, a navegação está parcialmente afundada na região do bairro da Glória, em Vila Velha, desde 2011, e ainda se encontra sem previsão de restauro.
Apesar da pandemia do novo coronavírus, que mantém as pessoas em casa por conta dos locais fechados, turistas, alunos das escolas públicas e privadas, e moradores de Vila Velha não podem usufruir do melhor que esses centros têm a oferecer: uma parte da história sobre a criação da identidade capixaba. O motivo: a demora na realização de obras de revitalização.
Interditado pela Defesa Civil desde agosto de 2018, a reforma do Museu Homero Massena, de acordo com a Prefeitura de Vila Velha, continua prevista para o terminar até o final de 2020. Aparentemente, nem a pandemia da covid-19 foi capaz de atrasar os trabalhos.
Fontes ligadas à reportagem garantem que, por enquanto, apenas um muro foi construído ao redor do museu. As obras, especificamente, ainda não começaram. Em nota oficial, a PMVV informa que "a construção foi iniciada e está em fase de proteção das obras, seguindo o cronograma".
O trabalho, que começou no início de janeiro com um custo estimado em R$ 303 mil, também engloba o restauro das pinturas, obras de arte e afrescos tombados. Entre os reparos físicos, está a reforma do telhado, que ganhará uma nova cobertura para evitar infiltrações.
A reforma da Casa da Memória, outra ação prometida pela atual administração canela-verde, finalmente começou nesta semana. A obra vai possibilitar a utilização de mais duas salas para acervo permanente e espaços para exposições itinerantes, além de uma galeria para acolher exposições de artistas capixabas.
Estão previstas melhorias no telhado, piso, paredes e adequação para acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência, entre outros serviços. A previsão para conclusão é de 120 dias e conta com um investimento de R$ 407 mil.
Em entrevista para anunciar o início da construção - que estava prometida para o início de fevereiro -, Peterson de Castro, secretário de cultura de Vila Velha, afirmou que o centro é um dos principais pontos turísticos e culturais da cidade. "A casa abriga estátuas de personagens importantes da história capixaba e todo o acervo preserva a memória, a identidade e a produção cultural do município", garante.
O acervo contendo as obras de artes expostas na Casa da Memória pertencem ao Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha, que, há cerca de 20 anos, mantém uma parceria com a prefeitura da cidade para a preservação do espaço.
Local onde teve início a Colonização do Solo Espirito-Santense, a gruta de Pedro Palácios também será restaurada, em uma obra prometida desde junho de 2019. Entre as ações previstas na restauração, estão a retirada da grade que cerca o espaço e a demolição de uma caixa d'água na tentativa de recuperar ao máximo as características originais da região.
Há, também, a previsão de restauro da imagem de Frei Pedro, que está em frente à Câmara dos Vereadores de Vila Velha, e reposicioná-la no centro daquele espaço, criando na cidade mais um ponto de atração turística. O projeto está sendo tocado em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Convento da Penha.
Em nota oficial, a PMVV afirmou que "o projeto do Largo do Frei Pedro Palácios foi apreciado pelo Conselho de Patrimônio de Vila Velha e foram feitas solicitações sobre adequações do projeto, e, em seguida, encaminhado para a empresa responsável pela elaboração de um novo projeto. A previsão de entrega é final de 2020. O recurso das obras está dentro do orçamento de 2020". A prefeitura, mesmo questionada pela reportagem, não informou o valor da obra e nem o seu provável início.
Construída pela fundação Descobrindo o Espírito Santo, com parte dos recursos oriundos da iniciativa privada, a Caravela Espírito Santo, feita de madeira ipê, vinda da Amazônia, está abandonada em uma praia da região da Glória e parcialmente afundada. A caravela já foi utilizada para passeios turísticos e, durante dois anos, participou do programa Navegando na Educação, chegando a transportar cerca de cinco mil alunos.
Após uma longa disputa travada na Justiça desde 2012, a Caravela Espírito Santo - orçada em R$ 250 mil - passou para as mãos do Instituto de Pesca e Atividades Náuticas do Brasil (Ipan), que se comprometia a restaurar a embarcação. Em 2017, em entrevista ao portal G1, a Prefeitura de Vila Velha mostrou interesse em restaurar a embarcação, desde que também contasse com o aporte da iniciativa privada. A ideia, na época, era transformar o barco em atração turística e também explorá-lo como instrumento pedagógico de ensino.
Até 2018, o Ipan disse que não havia encontrado parceiros para realizar as obras na caravela, de acordo com reportagem da Rádio CBN Vitória na época. A reportagem tentou entrar em contato com o Ipan, mas não conseguiu o contato do instituto nem de seu presidente na época, Nilton Coutinho.
Procurada por A Gazeta, a PMVV confirmou, por meio de nota, que o projeto para restauro da caravela está em fase de estudo, mas não segue devido a não conseguir contato com o Ipan. "Também tentamos entrar em contato com o Instituto de Pesca e Atividades Náuticas do Brasil, atual proprietário do barco, mas não obtivemos sucesso".
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