Ex-participante do Curso de Residência de A Gazeta, Jeovanna Vieira, com seu talento, está ganhando o país. A escritora capixaba concorre a sexta edição do Prêmio Kindle de Literatura, com "Virgínia Mordida", um denso relato sobre a violência moral, física e psicológica contra a mulher. A obra ganha mais urgência e importância social se observarmos que o Brasil é um dos países com um dos maiores índices de feminicídio do mundo.
No livro, Virgínia, bem instruída, de classe média alta e profissionalmente respeitada, não consegue sair de um casamento abusivo, em que sofre todos os tipos de torturas por parte do marido agressor.
"Virgínia pode ser uma das muitas mulheres que sofrem abusos no Brasil diariamente, mas, nesse caso, tive uma pessoa próxima como inspiração. Uma amiga estava sofrendo uma imensa pressão psicológica por parte do marido e resolveu me relatar sua história. Curiosamente, a escolha pelo nome da protagonista tem um significado muito forte. Trata-se de uma homenagem à escritora feminista Virginia Woolf", pontua Jeovanna.
Outras personagens circulam o microcosmo de Virgínia, todas, como ela, vítimas de abusos. Há, por exemplo, Dóris, mulher LGBTQIAP+ e profissionalmente respeitada, mas que sofre lesbofobia em seu calvário para fazer um procedimento médico. Também conhecemos Penélope, acometida pelo nanismo, que, por sua condição física, esbarra no preconceito de uma sociedade acostumada a valorizar padrões estéticos de modelos de capa de revista.
"A violência permanente no texto é a psicológica, sempre permeada por relações tóxicas. Mesmo com toda a densidade narrativa, acredito que 'Virgínia' foge do tom panfletário. Quis fazer um romance que, além de retratar uma sociedade machista, desvendando o 'controle' que o estado exerce sobre o corpo da mulher, também proponha diálogos, convidando o homem a discutir a temática da violência. Afinal, muitas vezes, eles são agentes do sistema opressor em que vivemos", acredita a autora.
Ao ler cada página de "Virgínia Mordida", conseguimos captar sua essência (ou uma de suas essências): fazer com que mulheres questionem o limite de uma relação saudável. "Ao escrever o texto, pensei em criar uma história que ajudasse às leitoras a identificar as formas de violência sofridas diariamente, tanto psicológica como física", explica.
Mas, durante a conversa, surge uma dúvida. No livro, Virgínia padece, ao viver uma relação autodestruitiva. Sendo instruída e bem sucedida, por que não abandonar o marido, tentando, enfim, refazer sua vida e buscando outras formas de felicidade? Lógico que a resposta não é, nunca foi e nunca será, tão simples.
"Acredito que ainda exista uma pressão da sociedade (como também uma cobrança) para ela viver uma relação, preferencialmente saudável. Hoje, por exemplo, podemos optar por seguir uma carreira e não se casar. O recorte social é fundamental na hora de decidir se mantém ou não uma relação abusiva. O cenário muda completamente se a mulher for preta, periférica e sem instrução. Por essas pessoas em situação de vulnerabilidade, temos que lutar, militar", defende.
O Prêmio Kindle de Literatura, organizado pela Amazon, vai anunciar as cinco obras finalistas em 29 de outubro, com a divulgação do livro vencedor em 17 de janeiro. Entre os prêmios, R$ 50 mil, sendo divididos em R$ 40 mil em dinheiro e um adiantamento de direitos autorais de R$ 10 mil pelo contrato de publicação da versão impressa, que sairá pela Editora Record.
"As obras serão avaliadas por uma banca, mas o público será o responsável para que os livros cheguem até os examinadores. Somente os mais baixados, curtidos e comentados devem ter essa oportunidade. Portanto, o apoio popular é importantíssimo. 'Virgínia Mordida' já esteve entre os dez mais baixados na categoria ficção psicológica", explica Jeovanna.
Para ler e comprar a publicação da escritora capixaba, basta acessar o link da Amazon, na internet. O livro também possui uma playlist no Spotify, com músicas que passeiam por clássicos, como "No Tabuleiro da Baiana", de Gal Costa e Caetano Veloso, até faixas modernosas, como "Bad Guy", de Billie Eilish. São 101 músicas que, em sua maioria, versam sobre o universo feminino.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta