Entre 2011 e 2016, Marcel Cordeiro reuniu mais de meio milhão de pessoas que visitaram seu projeto "Welcome To Paradise" em uma localidade de Modica, cidade da Sicília, na Itália. O artista capixaba fez nada menos que uma revitalização total por meio da ocupação artística em vários cenários do centro histórico, que estava até sem iluminação quando a ação foi desenvolvida. Depois de ter recebido uma medalha do então presidente da República da Itália, Giorgio Napolitano, que hoje ocupa uma cadeira vitalícia de senador, ele foi, agora, convidado para expor a ideia na Bienal de Arquitetura de Veneza.
A mostra ficará em cartaz até o dia 27 de novembro. À Bienal, o artista de Vitória chegou por meio do convite de um arquiteto com o qual já tinha tido contato.
"Era para ter acontecido no ano passado e não aconteceu por causa da pandemia. A ideia da Bienal era mostrar modelos de reconstruções de cidades de uma forma diferente, já que o mundo todo ficou preso em suas casas pela pandemia. E, claro, fiquei muito orgulhoso pelo convite. Ser o primeiro artista do Espírito Santo a participar é uma honra", declara.
Marcel está com o trabalho exposto em uma seção específica do evento, que trata de inovações para cidades. Além de fotos e imagens que detalham a execução da intervenção artística realizada até 2016, o espaço de Marcel terá um vídeo institucional, que não pode ser exibido fora da Bienal, que também detalhará como ele realizou o trabalho com os artistas em Modica.
Quem visitar o evento, poderá ver e conversar com o artista sobre o projeto, bem como visualizar, pelas gravações, como a cidade ficou após o "Welcome To Paradise". "Esse centro histórico é patrimônio da Unesco e era totalmente abandonado. Na ocasião, pedi ao prefeito para fazer a intervenção e reuni 40 artistas para fazerem instalações e exposições em grutas, ruas, vielas, escadarias... E assim foi", lembra.
Para chamar a atenção dos moradores da região e de turistas, Marcel confeccionou um letreiro de "Welcome To Paradise" similar ao de Hollywood e o fixou em uma montanha que fica bem no local em que a cidade recebeu a revitalização. "Eu não sabia como fazer as pessoas se interessarem e irem até lá. Mas tanto chamou a atenção que, por edição, recebíamos uma média de 10 mil visitantes nos dois dias em que tudo operava com a intervenção", destaca.
A partir da segunda edição, Marcel decidiu determinar temas para os artistas que participavam da mostra e selecionou a Revolução dos Jasmins no ano seguinte à estreia. "Era o que estava acontecendo, à época, na Tunísia e só se falava disso. E naquele episódio o evento chegou até o então presidente da República da Itália, Giorgio Napolitano, que mandou uma medalha de reconhecimento à cidade de Modica pela minha instalação. E foi uma grata surpresa", recorda.
Apesar de ter empreendido na Itália, Marcel também lamenta a falta de interesse público que houve por parte de autoridades pelo seu projeto. Depois de seis edições, o capixaba diz que desistiu de continuar realizando o evento por conta do alto custo que ele gerava. Durante os anos do projeto, Marcel só contava com recursos próprios e de um sócio, que também patrocinava a ação artística.
"É a velha história da politicagem ridícula. Tínhamos todo o reconhecimento que estávamos tendo e não recebíamos suporte algum. Nem diálogo nós tínhamos, então decidi parar. O auge foi o último ano, em todos os sentidos, então preferi encerrar por ali", confidencia.
Marcel, que foi para a Itália aos 25 anos, portanto, há mais de três décadas, também já participou de outros projetos artísticos. Na ocasião, decidiu se mudar do Brasil porque não via espaço no mercado nacional para o que ele queria fazer.
"O Brasil estava um desastre, fazendo a nova Constituição e eu decidi abraçar o sonho de migrar. E aqui na Itália, nesses 33 anos, fiz cinema, participei e ganhei festivais italianos na área, já fui a outros festivais na Europa, já dirigi teatro, fiz alguma coisa em televisão... Os caminhos foram se abrindo de uma forma leve", conclui.
"Acho que fui procurar a luz. E achei (risos)", finaliza ele, que todos os anos, desde que se despediu do endereço capixaba, passa de dois a três meses no Estado. "Vivo nesses dois mundos", termina.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta