Aos 67 anos e dançando desde a barriga da mãe, Carlinhos de Jesus chegou a ficar quatro dias na UTI após contrair o novo coronavírus.
O dançarino carioca estava isolado com a mulher em sua casa em Copacabana desde antes do decreto que instituiu o fechamento do comércio no Rio de Janeiro. "Achávamos que não teríamos nada, porque estávamos sendo muito cuidadosos", conta ele ao telefone, de volta do hospital desde a última quinta (30). Síndico do condomínio onde mora, também já havia tomado medidas de segurança no local.
O casal não sabe como foi contaminado. A mulher de Carlinhos, Rachel, deixava o isolamento apenas para raras idas ao mercado, no horário destinado a idosos, quando as lojas estão com pouca gente. Numa das vezes, o dançarino resolveu acompanhá-la. "Eu saí de carro, de máscara, me banhei de álcool em gel", diz. Porém, segundo ele, o uso da máscara pela primeira vez foi incômodo. "Eu era muito inexperiente, colocava a mão na frente. E agora sei que não pode."
Alguns dias após os primeiros sintomas, sentindo-se cansado e com dores no corpo, ele foi convencido pela cunhada e vizinha, médica infectologista, a ir para o hospital.
Com 36 anos de prática profissional de dança, sonho que realizou após pedir demissão de seu emprego como funcionário público, Carlinhos conta que sentia a respiração ofegante, como se tivesse "corrido dez quilômetros". "Isso não é uma gripezinha, não é uma tosse qualquer", afirma ele.
"É uma doença silenciosa, chega de fininho e traiçoeiramente vai tomando conta", diz. No dia 26, ele e a mulher foram à emergência do hospital Copa D'Or, na zona sul carioca, de onde Carlinhos foi levado à UTI. Não chegou a ser intubado, mas só deixou a unidade intensiva no dia 29, ainda recebendo oxigênio artificialmente.
O dançarino, que lembra ser o único não intubado entre seus vizinhos de leito, faz questão de agradecer à equipe do hospital. "Dos maqueiros aos enfermeiros, era uma correria, uma tensão, mas fui muito bem cuidado, com muita atenção."
Atuante nas redes sociais e astro de lives, diz que agora repassa às pessoas a recomendação para que fiquem em casa. "Eu sei que é difícil, também sou empresário, tenho academias no Rio de Janeiro e em São Paulo, e que estão fechadas. Tenho uma folha de pagamento para arcar, mas ninguém trabalha sem saúde", diz.
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