Fábio Porchat pode ser qualificado por vários adjetivos, algo comum para um artista multifacetado, que trabalha como ator, produtor, roteirista, apresentador e diretor. Pensando bem, ousado, talvez, é o que lhe caia melhor... Quer uma prova?
Foi por pura ousadia que, aos 18 anos, apareceu pela primeira vez na televisão, fazendo um esquete de humor no programa de entrevistas que Jô Soares comandava na madrugada da Rede Globo, o "Programa do Jô".
Em 2002, ainda estudante de administração na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPN), em São Paulo, Fábio, da plateia, mandou um bilhete para o apresentador "se convidando" a fazer uma apresentação ao vivo. Jô, intrigado, aceitou. O resultado já virou história...
Memórias à parte, quase duas décadas depois, Fábio Porchat é um dos humoristas mais respeitados do país. Além do sucesso dos episódios diários de "Porta dos Fundos", no Youtube, - agora mais satíricos e críticos em relação à realidade política do país -, o artista, de 36 anos, vem marcando "golaços de placa" na TV.
Ainda curtindo a boa recepção do "Papo de Segunda", no GNT, Fábio estreou nesta semana, na mesma emissora, a nova temporada do "Que História é essa, Porchat?", talk-show que reúne anônimos e famosos compartilhando situações curiosas do seu cotidiano. Devido ao sucesso obtido na TV paga, o programa deve estrear na tela da Globo em outubro.
Ah, sim: a paixão por Jô Soares ainda continua firme e forte. "Tenho alguns sonhos 'não realizados' como apresentador. Uns deles é entrevistar gente como William Boner, Roberto Carlos e Fausto Silva. O Faustão, por exemplo, acho que vai esperar que eu vire um Jô. Quando estiver 28 anos no ar, vai para participar da minha despedida", ri, em tom de homenagem.
Com o bom humor que lhe é peculiar, Fábio Porchat conversou com A Gazeta. Entre os assuntos, a pandemia da Covid-19, quarentena, home office, os limites do humor, censura e, claro, deu sua opinião sobre o atual panorama político do país.
A minha está sendo inusitada (risos). Até a minha esposa (Nataly Mega) resolveu aparecer nua, enquanto eu fazia uma live com o Guilherme Boulos (risos). Fez tanto sucesso que a notícia apareceu até na imprensa árabe (risos). Mas estão acontecendo coisas muito legais, sabia! Moro em um prédio no Rio de Janeiro onde não conhecia quase ninguém. Pensei em uma ideia para me aproximar mais, fazendo um agrado para meus vizinhos...
Eu e a minha esposa compramos um pão de mel e resolvemos distribuir, colocando na porta de cada vizinho. Tipo uma coisa de solidariedade, sabe, de encarrar essa barra juntos. Acabou virando uma espécie de corrente de bem. Do nada, começou a aparecer bolos, pães e chocolates na minha porta (risos). Quando vi, estava bem popular no prédio. Uma vizinha completou 100 anos recentemente e nós aparecemos na janela, cantando parabéns, foi bem emocionante!
É complicado, pois, necessito do calor humano. Mas, em relação à intimidade, o fato de sempre fazer lives ajuda bastante. A gente acaba pegando o espírito da coisa. Para o programa dar certo, precisamos criar uma infraestrutura pesada nos Estúdios Globo. Cada convidado recebeu um kit com tripé e câmera, além de ter aprendido a fazer os ajustes técnicos. Confesso que foi exaustivo. As pessoas mandam vídeos, mas toda hora picota, cai, trava... Se tem uma coisa que aprendi com a pandemia é que a internet brasileira é muito ruim e precisa urgentemente de melhorias. Fizemos uma espécie de acordo: se possível, o "Que História..." não abordaria a Covid, a não ser se os convidados tivessem casos 'incrivelmente fantásticos'. Não que estejamos negando o assunto, mas queremos falar de ações positivas e mandar boas vibrações para o outro lado da telinha. Ah, sim: tem a coisa de que, com os convidados de suas casas, podemos abrir mais o leque de assuntos, trazendo pessoas até do exterior.
O Brasil vive um momento muito complicado em termos políticos e isso não é novidade para ninguém. Você vê, e sente, manifestações políticas, e a polarização, até quando abre os classificados. Por lá, sempre tem um anúncio: "vendo um Chevette... e Fora, Bolsonaro!" (risos). Precisamos encarar os nossos problemas de frente. Sabemos da alta do dólar, da corrupção, das mortes da pandemia, da desigualdade social, dos desmandos do governo... mas precisamos também de leveza, de levar a vida com simplicidade e bom humor. O "Que História é essa, Porchat?" serve para isso. É um refresco para encarar essa dura realidade. Por isso, não pretendo convidar políticos para a atração, a não ser que seja o Fernando Gabeira. Ele tem uma história de vida legal, fora esse lado de homem público.
Em uma época como essa, o humor se mostra fundamental. Não só para aliviarmos um pouco o pensamento de tudo de ruim que está acontecendo, mas também para jogar uma luz sobre vários assuntos que precisam ser tratados e debatidos. O Brasil defendeu, por muito tempo, o ditado de que religião, futebol e política não se discute e hoje é o que mais se fala... E ainda bem! Temos que discutir isso e fazer piada com isso. As pessoas querem se identificar com a piada, olhar aquilo e dizer 'estou passando por isso'. Então, é importante que o humor localize tudo o que está rolando para evidenciar e ridicularizar. A gente tem que rir da cara do coronavírus, e não das vítimas, né?!
O humor é sempre do contra, anárquico. E isso é histórico! Não há sagrado para ele. Então, o humor ri daquilo que está estabelecido. Agora é a hora de rir de Bolsonaro e desses conservadores, ainda mais porque eles são risíveis. Com o humor, a gente também consegue ganhar esta guerra. Tanto o humor é fundamental, que as pessoas se irritam e querem proibi-lo. Isso só ressalta que somos resistência.
O "Porta dos Fundos" sempre bateu na tecla de fazer humor com o opressor e não com o oprimido. Rir da cara daquele que provoca a dor e não de quem sente essa dor. Nesse momento, com um governo tão reacionário, que, na verdade, não governa, se vinga, o humor precisa estar forte justamente para evidenciar todas as coisas erradas que acontecem e que estão sendo disseminadas. O "Porta dos Fundos" se mantém firme nessa luta, querendo rir e ridicularizar aqueles que querem o mal do outro, de pessoas que profetam preconceitos e inseguranças.
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