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"O nosso é laranja de corrupção", diz Tico Santa Cruz ao lançar álbum

"O nosso é laranja de corrupção", diz Tico Santa Cruz ao lançar álbum

Em entrevista, vocal do Detonautas fala sobre política e novo disco dos roqueiros, que conta com críticas ao governo e homenagens ao rock de protesto

Publicado em 29 de julho de 2021 às 11:34

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Grupo Detonautas está lançando seu novo disco,
Grupo Detonautas está lançando seu novo disco, "Álbum Amarelo". (Detonautas/Divulgação)
Gustavo Cheluje
Repórter do Divirta-se / [email protected]

"Kit Gay", "Político de Estimação", "Mala Cheia" e "Micheque". Os tópicos em questão, pelo menos por enquanto, não são temas debatidos em um grupo de discussão anti-bolsonarista no WhatsApp, mas sim faixas do novo (e extremamente politizado) disco do Detonautas, grupo de rock cujo líder, Tico Santa Cruz, é um dos maiores contestadores do Governo Federal nas redes sociais. 

"Álbum Laranja", o trabalho em questão (disponível nas plataformas digitas), consegue, com seu sugestivo título, fazer um panorama crítico sobre o atual caldeirão político que se tornou o Brasil, pronto para explodir, diga-se de passagem. 

Faixas como "Carta ao Futuro" (a melhor do projeto), "Kit Gay", "Roqueiro Reaça" e "Racismo é Burrice" (que conta com participação de Gabriel o Pensador), por exemplo, ressaltam temas que abordam assuntos espinhosos, como o racismo, a homofobia e a falta de perspectiva sobre o futuro da nação. Tudo, claro, analisado sob a ótica conservadora do atual mandatário do país.

"Nosso trabalho sempre foi pautado sobre assuntos que fazem as pessoas analisarem a realidade do Brasil. O título, por exemplo, é uma alusão a LPs clássicos da história do rock, como o álbum branco dos Beatles ou o álbum preto do Metallica. O nosso é laranja de corrupção", dispara Tico Santa Cruz, logo na primeira resposta, em entrevista ao "Divirta-se" para falar do lançamento. 

"Carta ao Futuro" é um exemplo de contestação política, ao prever uma "nova era apocalíptica", com Brasília pegando fogo, desmandos do Governo Federal e a população padecendo por falta de assistência.

O trecho "Lá fora os homens seguem se matando/ Uns por dinheiro, outros por um pedaço de pão/ Afinidades entre a cruz que mata em nome de Deus/ E a espada que estraçalha o amor na mão dos irmãos", soa como uma "facada no abdômen", mesmo sendo uma dolorosa poesia. 

"Essa foi uma das melhores músicas que escrevi", pontua Santa Cruz, sempre muito centrado e afiado (no bom sentido) durante o bate-papo. "Tudo o que descrevemos nela está acontecendo. Vemos um Brasil de zumbis. A única descrição da música que ainda não aconteceu, praticamente, é a queda de Bolsonaro, mas, com a CPI das vacinas rolando em Brasilia e todos os crimes sendo revelados, minha esperança de impeachment aumentou", avalia. 

"Nesse álbum, apostamos no sarcasmo de maneira inédita. Há, cada vez mais, a música de protesto, considerada a essência do rock. Misturando protesto e crítica, acabamos nos comunicando de forma direta com toda a categoria de público. Prestamos homenagens, também. 'Kit Gay', por exemplo, lembra muito os Mamonas Assassinas, mas sempre sob a perspectiva da ironia", avalia Santa Cruz.

Por falar em "Kit Gay", a composição causou polêmica na época de seu lançamento, em novembro do ano passado ("Álbum Laranja" traz uma compilação de singles da banda desde o início da pandemia). Em um clipe controverso, Tico Santa Cruz aparece nu, cobrindo apenas as partes íntimas com uma meia

Nu, "sem a mão no bolso" (relembrando o clássico "Pelado", do Ultraje a Rigor), com o direito a usar uma cabeça de boi.

ELEIÇÃO 

É impossível conversar com Tico Santa Cruz sem abordar as eleições presidenciais de 2022. "Acho que Bolsonaro não aguenta até o ano que vem. Ele está derretendo, seja nas pesquisas (que estão sendo feitas mais cedo esse ano) ou mesmo no apoio do Centrão do Congresso Nacional. A agenda de Paulo Guedes (atual Ministro da Economia) não é mais interessante para os neoliberais, que sempre apoiaram o presidente". 

Tico Santa Cruz:
Tico Santa Cruz: "os artistas precisam se posicionar politicamente". (Reprodução/ Instagram @ticostacruz)

Mas, suponhamos que Jair Bolsonaro (sem partido) dispute a reeleição. "Então, temos que criar uma frente para tirá-lo do poder. Para isso, é essencial que o artista se manifeste também. Muitos têm medo de se posicionar, de perder seguidores e patrocínios. Estamos vivendo um momento de crise, de desmonte do país. O silêncio dos artistas em termos políticos só faz aumentar essa crise. Lutamos pela sobrevivência!", dispara, sem medo de causar polêmica. 

Aspas de citação

É essencial que o artista se manifeste. Muitos têm medo de se posicionar, de perder seguidores e patrocínios. Estamos lutando pela sobrevivência! 

Tico Santa Cruz
cantor e vocalista da banda Detonautas
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Chamado frequentemente de esquerdista nas redes sociais, Tico Santa Cruz não faz questão de se defender, mas sim expor o seu pensamento crítico, como um bom sociólogo que é, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu negócio, decididamente, é o debate.

"Cara, sou progressista por natureza. O antipetismo destruiu o país. Precisamos ser racionais e debater as melhores propostas para o futuro. Tirando Bolsonaro do poder, e tenho esperança que ele não irá para o segundo turno das eleições, vamos debater qual a melhor escolha. Acho que Lula (PT) foi o melhor presidente que esse país já teve, em questões de ganhos sociais. Livrou muita gente fome. Hoje, porém, me identifico com a proposta de governo de Ciro Gomes (PDT), mas quero dialogar com várias frentes".

Recentemente, Tico ganhou a mídia ao dizer ter a sexualidade fluida, que é quando a pessoa trafega pela homossexualidade e pela heterossexualidade, sem ter uma única orientação. Questionado, o cantor e compositor revelou tratar-se de fake news.

Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas
Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas. (Reprodução/ Instagram @ticostacruz)

"Alguns bolsonaristas afirmaram isso nas redes sociais. Inicialmente, entendi que ter a sexualidade fluida era ser uma pessoa livre de preconceitos. Não tenho preconceito algum. Mas algumas pessoas da comunidade LGBTQIAP+ me explicaram do que se tratava, então entendi o real significado", explica.

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"Sou hetero, casado há 20 anos com a mesma mulher e não preciso me esconder. Se sentisse atração por uma mulher trans, por exemplo, encararia numa boa", complementa, com sua conhecida coragem de se expor.

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