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Premiado em Gramado, Higor Campagnaro comemora o bom momento na carreira

Premiado em Gramado, Higor Campagnaro comemora o bom momento na carreira

Com o alegórico filme "Um Animal Amarelo", capixaba foi premiado na edição 2020 do festival. Higor também faz uma participação na esperada série de horror "Desalma",

Publicado em 24 de outubro de 2020 às 15:00

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Higor Campagnaro, ator capixaba
Higor Campagnaro, ator capixaba. (YouTube/Reprodução)

Não é exagero dizer que Higor Campagnaro está vivendo o melhor momento de sua carreira. Capixaba de Aracruz ("mas também sou filho de Nova Almeida", como faz questão de acrescentar), o ator de 36 anos acabou de receber uma Menção Honrosa, por sua atuação no filme "Um Animal Amarelo", no Festival de Gramado, a mostra de cinema mais tradicional e glamourosa do país, que, em 2020, por conta da pandemia da Covid-19, aconteceu em versão digital.   

Comprovando a boa fase, Higor - que mora no Rio de Janeiro há cerca de dez anos - também faz uma participação na esperada série de horror "Desalma", que chegou ao Globoplay  na última quinta-feira (22) cercada de expectativas, especialmente após receber aplausos efusivos da crítica durante uma prévia exibida no último Festival de Berlim, em fevereiro. 

"Foi uma participação pequena, mas deu para sentir que a Rede Globo está apostando muito na atração. Teve um tratamento todo especial durante as gravações, especialmente em questões técnicas e estéticas. O nível promete ser muito alto", revelou a ator, em descontraído bate-papo on-line com o "Divirta-se"

A "cereja do bolo" da conversa, obviamente, foi a premiação em Gramado por sua potente atuação na alegórica obra de Felipe Bragança, um filme de tons surrealistas que abusa da metalinguagem - em uma estética que remete ao cinema do mestre Werner Herzog - para falar de racismo, exploração do continente africano (por parte dos colonizadores) e da ambição desmedida por riqueza, que pode levar à loucura. 

Cena do filme
Cena do filme "Um Animal Amarelo", de Felipe Bragança. (Instagram/Glauco Firpo/Divulgação)

"Vejo essa Menção Honrosa de uma forma muito especial, principalmente porque o festival foi totalmente virtual, o que confirma o caráter descentralizador do cinema atualmente. Além disso, participar e vencer em uma mostra como Gramado está no imaginário de qualquer ator", revela, dizendo que, com as transmissões pela internet, seus amigos e familiares puderam assistir a "Um Animal Amarelo" em primeira mão, do conforto de suas casas. 

“Cara, minha mãe viu filme em Nova Almeida. Isso não é fantástico?", comemora, dizendo que Dona Ju, a matriarca de 60 anos, gostou do longa-metragem, mas afirmou que "teria que ver o filme em capítulos" para compreender toda a sua essência. "É um projeto arrojado e um tanto hermético mesmo", complementa.

DELÍRIOS

Na fantasia "antropofágica" de Felipe Bragança, Higor Campagnaro vive Fernando, um homem ambicioso que sonha em ficar milionário, o mesmo desejo de seu avô (interpretado por Herson Capri). Cineasta fracassado, o rapaz - uma espécie de novo Macunaíma - parte para Moçambique atrás de diamantes e acaba participando de um complexo jogo relacionado ao tráfico de pedras preciosas. Como "protetor", "leva" na mala o tal animal amarelo do título, um ser imaginário que devora pessoas e está sempre disposto a salvar Fernando do perigo.

“O Fernando é uma possibilidade sobre todos nós", filosofa. "Ele é a prova de que o brasileiro precisa se reconectar com sua própria história”, acredita, detalhando as filmagens em Portugal e Moçambique, onde se passa boa parte da trama.

“Em Lisboa, tínhamos uma equipe grande, um set mais parecido com a realidade no Brasil. Moçambique foi uma experiência oposta. Era uma equipe pequena e muito conectada. Fiquei um mês por lá. Às vezes, temos um olhar 'eurocêntrico', pensando que aquela sociedade possa ser miserável, quando não se trata disso", afirma, detalhando o seu ponto de vista. 

"É um povo ainda explorado, pois os europeus continuam tirando o que eles têm de mais precioso. O país é um dos maiores exportadores de pedras preciosas do mundo e o filme faz um alerta sobre o seu tráfico. Gravamos em 2018, quando uma tempestade tropical destruiu parte de Moçambique. Isso também é retratado no filme."

Em "Um Animal Amarelo", Higor aparece em várias cenas de nu. “Se despir na frente do outro é complicado, mesmo para quem vem do teatro, como é o meu caso. Mas não é um incomodo para mim, pois tenho uma relação muito tranquila com o meu corpo. Vejo o 'estar nu' com a mesma naturalidade do 'estar muito vestido' em cena”, aponta.

TALENTO

Entre os trabalhos mais significativos da carreira de Higor Campagnaro, está a série "Filhos da Pátria", exibida pela Rede Globo. Nos cinemas, esteve em filmes alternativos, como "As Horas Vulgares", de Rodrigo de Oliveira e Vitor Graize, "O que Resta", de Fernanda Teixeira, e "Tragam-me a Cabeça de Carmen M", de Felipe Bragança, mesmo cineasta de "Animal...", e  Catarina Wallenstein.  

Entre os trabalhos de Higor Campagnaro para a TV, está a série
Entre os trabalhos de Higor Campagnaro para a TV, está a série "Filhos da Pátria", exibida pela Rede Globo. (Instagram/ Artur Meninea/ Divulgação)

Apegado às raízes, o ator relembra com carinho o início de sua paixão por atuar, especialmente o curso de interpretação feito na Fafi, em Vitória, na década passada. "Fui aluno de Margareth Galvão. Vivo dizendo que entrei na escola menino e sai de lá um homem, com forte formação artística. Tenho um carinho especial pelos trabalhos que fiz no Espírito Santo, com pessoas como a própria Margareth e Wilson Nunes." 

Politizado, Higor Campagnaro mostra preocupação com os cortes das leis de incentivo à arte e a perseguição aos artistas por parte da sociedade brasileira. “Não podemos entrar em um jogo de polarização. O Brasil produziu artistas que o mundo inteiro gostaria de ter, como Fernanda Montenegro e Antonio Pitanga, que precisam ser respeitados. No Espírito Santo, também temos pessoas fantásticas, como Margareth Galvão, Fernando Marques, Nieve Matos e os membros do grupo Folgazões, que fazem um trabalho muito relevante. Pessoas assim, representam o nosso papel enquanto artista, que é levar a reflexão sobre os reais valores da sociedade. O ator é uma espécie de cronista do momento por qual passa a sociedade do país", suspira, adiantando seus próximos projetos.

"Estou na série "Os últimos Dias de Gilda", de Gustavo Pizzi, no Canal Brasil. Além disso, estarei nos filmes "Prisioneiro da Liberdade", de Jeferson De, e no novo projeto de Rodrigo de Oliveira em Vitória, "Os Primeiros Soldados". Tem muito trabalho pela frente", comemora. 

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