Única novela inédita da Globo no ar, "Salve-se Quem Puder" chega ao fim nesta sexta (16) com boa audiência e superando as muitas dificuldades impostas pela pandemia. Apesar de já estar toda gravada desde o fim de 2020, a trama mantém o suspense nesta reta final sobre o desfecho amoroso das protagonistas Luna (Juliana Paiva) e Kyra (Vitória Strada).
Sai o tradicional "quem matou", e entra o "com quem vão ficar as mocinhas". O autor Daniel Ortiz afirma que foram filmados finais alternativos. Apesar de Alexia (Deborah Secco) ter ficado noiva do caipira Zezinho (João Baldasserini) no capítulo desta quinta (15), permanece a incógnita se Luna fica com Téo (Felipe Simas) ou Alejandro (Rodrigo Simas) e se Kyra vai reatar com Rafael (Bruno Ferrari) ou embarcar em uma nova história com Alan (Thiago Fragoso).
Para Lucas Martins Néia, doutor em comunicação especialista na história da televisão no Brasil, gravar diferentes finais foi um dos acertos da trama escrita por Daniel Ortiz. "Desta forma, foi possível manter o calor da trama, que já tinha sido gravada meses antes. E você tem esse fator surpresa que o autor pode jogar vendo a repercussão desses casais nas redes sociais. É algo que o Daniel já tinha feito em 'Haja Coração' [2016]", destaca ele em referência ao final de Tancinha (Mariana Ximenes) naquela novela.
"Salve-se Quem Puder" estreou em fevereiro de 2020 e foi interrompida pouco tempo depois, no fim de março, por causa do novo coronavírus. As gravações foram retomadas no segundo semestre do mesmo ano, mas cheia de protocolos como distanciamento e uso de placas de acrílico.
Ela também teve de ser encurtada e muitas das histórias mudadas por causa da saída de alguns atores do elenco, e a entrada de novos personagens. Apesar de todas essas dificuldades, no momento que voltou ao ar -no dia 22 de março deste ano- agradou o público.
Nas últimas semanas, em alguns dias, a trama tem superado em audiência a novela das 21h, a reprise de "Império" (2014), como no último dia 5, que mostrou o reencontro de Helena (Flávia Alessandra) e Luna como mãe e filha. Na data, registrou índice de 35 pontos no Rio, e 28 em São Paulo, ambos superiores aos 33 e 27 pontos, respectivamente, marcados pela história protagonizada por Alexandre Nero.
Apesar dos bons resultados nesta reta final, a performance da trama é inferior a de "Bom Sucesso" (2019-2020), última novela inédita no horário, que terminou com média de 29 pontos na Grande São Paulo -onde cada ponto equivale a cerca de 76,5 mil domicílios.
Considerando apenas o período em que exibiu capítulos inéditos (quando voltou ao ar, a novela repetiu os episódios exibidos antes da pausa pela pandemia), até a última terça (13), "Salve-se" marcou 25 pontos de média na Grande SP -no Rio foram 30 pontos (cada ponto corresponde a 50 mil domicílios), e no PNT (Painel Nacional de Televisão), 26, onde cada ponto equivale a 268.278 domicílios.
Para Lucas Néia, "Salve-se" acabou sendo um respiro em um momento que o Brasil enfrentava alta de casos e mortes pela Covid-19 e uma conturbada crise política.
"O que muita gente criticava na novela no seu início, que era um pouco daquele tom nonsense e até um pouco infantil, foi justamente o que chamou a atenção das pessoas agora nesses tempo de pandemia."
"A novela é transmitida entre dois noticiários, o Jornal Nacional e o telejornal local, que mostra tudo que está acontecendo nessa país, como a CPI da Covid que virou uma novela rocambolesca. Então, 'Salve-se' é um respiro de alguma forma."
Para ele, a decisão da Globo de não inserir o coronavírus na história foi acertada, diferentemente do que aconteceu com "Amor da Mãe", que acabou sendo criticada pelo clima pesado e por informações sobre a Covid desatualizadas -o que levou a Globo a inserir um aviso ao final da trama.
Como destaca o especialista, as novelas das 19h são essencialmente tramas mais leves e de comédia. Para ele, até mesmo os disfarces toscos usados pelas protagonistas Alexia, Kyra e Luna combinaram com o jogo proposto pela trama.
"A novela assumiu isso. Elas usam aquelas perucas e aquilo fica absolutamente falso, mas está dentro da linguagem da novela, e eu acho que ela conseguiu jogar com isso", ressalta. Na visão do especialista, até as cenas de ação que pareciam inverossímeis, como quedas do andaime que não resultavam em nenhuma lesão para as mocinhas, faziam parte do jogo proposto.
"Mas quando aparecia a Flávia Alessandra interpretando a Helena no passado com aquela peruca mal colocada, aquilo me incomodava um pouco", pondera. As cenas de beijo gravadas já na pandemia também causaram estranheza no especialista -muitas delas foram filmadas com as famosas placas de acrílico entre os atores. "Algumas cenas, eu achava esquisitíssimo, mas acho que depois isso foi se acertando."
Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia da USP, afirma que existe uma tendência a se cobrar muito das novelas, especialmente, nas redes sociais. Ele lembra, porém, que a novela é um gênero popular e um entretenimento. "Eventualmente você tem obras mais apuradas, mais políticas, obras sociais, crônicas. E você também tem esse tipo de conto popular e infantil como 'Salve-se'."
"É uma novela infantil, sem maiores pretensões, e que cumpriu o seu objetivo dentro desse quadro, isso sempre existiu na história da arte", destaca.
Ambos ressaltam como pontos positivos as três atrizes protagonistas que desempenharam os papéis de forma cativante. "Gosto bastante da química entre elas", diz Lucas Néia.
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