Em 171 anos desde sua construção, a igreja ou ruínas, como o local passou a ser chamado hoje em dia de São José do Queimado, em Serra Sede, recebeu sua primeira obra de restauro concluída nesta semana. A partir do próximo dia 19 de março, o local estará aberto para visitação e promete ser ponto turístico importante para compor os monumentos religiosos que o município já possui, como a Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida.
O processo de recuperação durou cerca de um ano e envolveu desde trabalhos arqueológicos até reconstruções completas de estruturas da igreja original. O custo foi de R$ 1,3 milhão, pagos por uma parceria da Prefeitura da Serra (PMS) com o Sindicato do Comércio Atacadistas e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades). Outro R$ 1,5 milhão precisou ser desembolsado pelo Executivo municipal para que energia elétrica e postes de iluminação chegassem até o local em que ficam as ruínas.
Com os trabalhos de restauro, o espaço agora apresenta a estrutura do que foi a igreja no passado e se torna um museu a céu aberto. Ele ainda conta com um mirante no segundo andar da estrutura.
Ao subir as escadas presentes no meio da igreja, o visitante chega ao segundo andar onde se poderá apreciar a vista do sítio arqueológico. Algumas árvores hoje impedem a plena vista da cidade, mas a prefeitura estuda ainda se vai derrubá-las ou mantê-las para atrativo do ponto turístico.
"Entendemos que a recuperação daquele sítio histórico é muito mais do que só o monumento. Há uma história por trás e os elementos preservados lá, como a escada, as paredes, parte do piso, mostram o cuidado com o que o trabalho foi feito. Dado o tempo que o local ficou sem manutenção, literalmente em ruínas, foi um dos processos mais difíceis de serem executados", explica a presidente do Instituto Modus Vivendi, Erika Kunkel Varejão, que assinou o processo de restauro.
Por estar numa área mais afastada do comércio e moradias da região, o sítio histórico também deve receber reforço na vigilância logo que for inaugurado. "Já estamos deslocando pessoal para ficar lá desde a data da inauguração, no dia 19", garante o prefeito da Serra, Audifax Barcelos, em entrevista ao Divirta-se.
Com a revitalização do local, a prefeitura pretende aumentar o número de pessoas circulando na área. Vamos, inicialmente, fechar parcerias com a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) e secretarias municipais de Educação para que alunos visitem o local e compreendam a importância histórica e social que as Ruínas de São José do Queimado possuem. Mas para os turistas, em geral, ainda não pensamos em nenhuma campanha institucional ainda. Realmente grande parte da população não conhece o monumento, admite o prefeito.
Mas as obras não acabaram. Além da igreja, a Prefeitura da Serra já pensa numa segunda etapa de restauração do Sítio Histórico do Queimado. O espaço contemplado será o cemitério que fica atrás do santuário.
Nesta fase, serão construídos banheiros, salas de apoio para visitação e uma estrutura confortável para os turistas que forem até o local. A previsão é que a obra seja iniciada no segundo semestre de 2020, segundo o próprio Audifax.
Estes trabalhos devem custar outros R$ 3 milhões para serem concluídos. "Também entendemos que esse investimento que está sendo feito lá pode fazer com que o local seja mais valorizado, em termos de haver empresários interessados em construir pelas redondezas, que ainda não são muito ocupadas. Quando ficar pronto, o Contorno do Mestre Álvaro também vai facilitar o acesso ao ambiente", conclui.
O Sítio Histórico de Queimado fica a cerca de 25 quilômetros de Vitória, capital do Espírito Santo. O local é considerado palco do principal movimento contra a escravidão no Estado e um dos mais importantes de todo o Brasil.
Em 19 de março de 1849, escravos da região de São José de Queimado onde ficam as atuais ruínas se revoltaram por uma promessa feita pelo frei italiano Gregório José Maria de Bene. O religioso prometeu que, se eles terminassem a obra da igreja, lhes daria a alforria e não cumpriu.
A história conta que mais de 300 pessoas, entre homens, mulheres e até crianças, participaram da rebelião capitaneada por Chico Prego, que hoje dá até nome à Lei de Incentivo à Cultura da Serra. Ele, João da Viúva e Eliziário Rangel articularam os negros para tomar a liberdade com as próprias mãos e consagraram o que hoje chamamos de Insurreição de Queimado.
O movimento foi tão forte que, para contê-lo, além de forças armadas capixabas, tropas do Rio de Janeiro vieram ao Estado para combater os rebeldes. Os rebelados foram presos e julgados, sendo que cinco deles foram condenados à morte.
Eliziário foi o único dos "cabeças" que conseguiu escapar e refugiou-se nas matas do morro do Mestre Álvaro e nunca foi capturado. Chico Prego, que na ocasião conseguiu escapar, foi capturado em janeiro de 1850 e enforcado.
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