Com 175 anos de fundação, a construção do Casarão da Fazenda do Centro, no interior da cidade de Castelo, no Sul do Espírito Santo, não é apenas um imóvel antigo em meio à zona rural do município. O local possui peculiaridades e fatos curiosos que contam traços da história capixaba.
Localizado a oito quilômetros do Centro de Castelo e a dois quilômetros da ES-166, que faz a interligação da BR-262 entre Cachoeiro de Itapemirim e Venda Nova do Imigrante, o espaço traz consigo a história da colonização de Castelo pelos portugueses, dos escravizados e dos imigrantes italianos. Tombado pelo Conselho Estadual de Cultura em 1984, o Casarão da Fazenda do Centro virou um ponto turístico.
O espaço possui 42 cômodos com 79 janelas, e abriga uma capela, um centro cultural com espaço para eventos, biblioteca e memoriais dos castelenses. O local foi recentemente restaurado e é administrado pelo Instituto Frei Manuel Simon, entidade sem fins lucrativos criada por castelenses. Confira abaixo curiosidades do Casarão histórico.
Um fato curioso da fazenda do Centro era a existência de uma banda de música de escravizados. E depois da abolição, uma banda de libertos. Conforme os jornais locais, essa banda se apresentava nos principais eventos políticos da região, como, inauguração de estradas e a recepção dos representantes políticos da província. A banda possuía certa de 18 componentes (escravos ou libertos) devidamente fardados.
A fazenda do centro chegou a ter aproximadamente 600 escravos que produziam café, arroz e outros gêneros agrícolas, como a cana-de-açúcar. O número bastante expressivo de negros escravizados refletia um cenário triste. Eles trabalhavam na agricultura e atividades da fazenda de 3 mil quilômetros, quase uma cidade, a maior parte de mata fechada.
Com a abolição da escravatura em 1888, seguida da crise do café anos depois, o local entrou em decadência. Segundo estudiosos, o imóvel teria ficado quase abandonado de 1898 a 1909. Sem recursos para tocar a fazenda, os cinco herdeiros do local venderam o lugar para o religioso Frei Manuel Simone outros dois sócios. A propriedade passou a ser abrigo dos frades agostinianos, que a transformaram a fazenda em um seminário até 1989 na formação dos jovens religiosos.
Segundo historiadores, após a compra do imóvel, o espanhol Frei Manuel Simón, que era Pároco de Benevente, região de Alfredo Chaves, viu a necessidade de ampliar o número de paróquias e assentar famílias de imigrantes italianos. Os 1.542 alqueires de terra foram divididos e vendidos.
Em 1910, a fazenda foi dividida em lotes de 10 alqueires e as mais de 300 famílias que chegaram à região, tiveram prazo de cinco anos para pagar, podendo ser estendido por mais cinco anos. Com o passar dos anos ocorreram novos loteamentos e doações de terras, além de invasões, reduzindo consideravelmente a extensão da propriedade. Enquanto não estavam produzindo, os imigrantes eram sustentados pelos religiosos agostinianos.
Importante meio de transporte, principalmente de cargas na época, a ferrovia também teve reflexos sobre a fazenda do centro. Na esperança que a linha Cachoeiro do Itapemirim x Alegre passasse pelo território da fazenda, uma estação chegou a ser erguida na propriedade e trilhas foram abertas. Mas, a estrada de ferro só foi até ao que conhecemos hoje como o centro de Castelo, em 1887.
Longe do antigo centro comercial da Fazenda do Centro, os fazendeiros da época começaram a adquirir terras no entorno da estação da cidade e ali começaram a urbanização da cidade sulina.
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