Dom Pedro II voltou aos holofotes com a estreia de "Nos Tempos do Imperador", nova trama das 18h da Rede Globo, e isso nos faz relembrar de um momento decisivo para a história do Espírito Santo. Entre 26 de janeiro e 9 de fevereiro de 1860, o Estado foi roteiro de uma viagem do segundo e último monarca brasileiro, que registrou tudo em seu diário e mais tarde virou um livro. Entre as observações, as belezas naturais como as orquídeas e locais como os atuais pontos turísticos como o Frade e a Freira.
Mesmo este momento ainda não sendo retratado na trama de Thereza Falcão e Alessandro Marson, a visita do imperador foi decisiva para os rumos que a imigração europeia tomou em solo capixaba.
"Era um incentivador da imigração, especialmente para ocupar espaços de pouca densidade demográfica no Brasil. Tinha apoiado a vinda de alemães para Domingos Martins, cerca de dez anos antes, e queria visitar as colônias de imigrantes, para ver sua evolução. Ficou 15 dias aqui (entre 26 de janeiro a 9 de fevereiro) e registrou tudo em um diário, inclusive as belezas naturais e históricas que o encantou", explicou o historiador Fernando Achiamé, organizador da terceira edição do livro "Viagem de Pedro II ao Espírito Santo", de Levy Rocha, que retratou a jornada do monarca em terras capixabas.
Tomado pelo espírito "desbravador imperial", o "Divirta-se" aproveitou a companhia de Achiamé para destacar cinco pontos turísticos apresentados nos diários de D. Pedro II (e no livo de Levy) que conquistaram o coração do imperador e merecem ser conhecidos por quem vem nos visitar. Embarque com a gente nessa viagem!
Diferente dos dias atuais em que o espaço recebe cerca de 2 a 3 milhões de visitantes anualmente, o Convento da Penha ainda não recebia tantos turistas, mas recebeu um visitante ilustre. Dom Pedro II passou por lá num período de reformas e levou até um souvenir.
"Ele visitou o Convento da Penha no período de uma reforma de seu altar principal. Em meio aos escombros das obras, pegou um pedaço de uma pedra de mármore, que estava solta. Sabendo que a filha, Princesa Isabel, era muito católica, enviou o artefato para ela, em pedido de oração. Depois, 'abençoado', partiu com a comitiva para visitar a colônia alemã de Santa Isabel, hoje Campinho, em Domingos Martins", explicou Fernando, que deve lançar a sua versão do diário de visitas de Dom Pedro II ao ES.
"Transcrevi todo o material disponível no Museu Imperial de Petrópolis. Vou fazer apenas uma introdução e prometo lançar o diário em ordem cronológica da visita, além de publicar 100% da história, diferente do livro de Levy, que usou apenas 80% do registro", adianta, sem precisar uma data de lançamento para a obra.
Ótimo ilustrador ("ele tinha uma excelente perspectiva de desenho", explica Achiamé), Dom Pedro II desenhou, em seu diário de bordo, a beleza e a grandeza do Monte Mestre Álvaro, localizado no município da Serra, e assinalou com uma frase: “que se vê com tempo claro até de 60 milhas ao mar”.
Em livro publicado em 1817, Aires de Casal afirmou que o local "teria abrigado um poderoso vulcão", fato desmentido pelo imperador. "Nada consta a respeito do vulcão no Mestre Álvaro, mas ouvi ao Juiz Municipal que parecia haver aí ouro", apontou em seu diário, escrito em bom português lusitano, ora pois!
O local foi transformado em Unidade de Conservação, denominado Área de Proteção Ambiental (APA) em 1991. Hoje, o monte pode ser acessado basicamente por quatro trilhas: Das Águas, Norte, Três Marias e Pitanga. Monumento natural de destaque na Serra, o local possui 833 metros de altura, com vegetação e fauna da Mata Atlântica.
A beleza natural de O Frade e A Freira também encantou D. Pedro II, que fez um desenho da pedra (que chama de "soberbo monumento granítico") em seu diário de bordo escrito em 1860, logo após sair da Vila de Itapemirim, hoje município de Itapemirim.
O monumento é muito conhecido e pode ser visto por todos que passam pela BR-101, entre os municípios de Rio Novo do Sul e Itapemirim. Mas o que muita gente não sabe é que, para chegar até a pedra, o caminho é de fácil acesso.
A visita é gratuita e pode ser feita em qualquer dia da semana e horário. A recomendação é que evitem o horário noturno, porque não há iluminação adequada no local e pode oferecer risco aos visitantes.
Bem próximo à pedra, tem um restaurante com chalés, onde é possível se hospedar. O restaurante funciona para visitantes aos sábados, domingos e feriados. Quem quiser frequentar o local em grupos maiores, pode agendar pelo telefone (28) 99958-6993.
Para visitar apenas a pedra, os turistas podem levar alimentos, porém, não é permitido churrasco ou semelhantes e, claro, deve recolher todo o lixo.
De acordo com informações da Prefeitura de Anchieta, no município do Sul do Estado, quando se deu a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, a igreja de Nossa Senhora da Assunção tornou-se a Matriz da Vila Benevente (hoje Anchieta). Os cômodos da residência onde moravam os padres - incluindo José de Anchieta - passaram a servir de Câmara Municipal, cadeia pública, Fórum e aposentos do Juiz da Vila. Foi em um desses cômodos que Dom Pedro II se hospedou, durante passagem pela região.
Após passar por reforma e restauração, esses cômodos, anexos à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, se constituíram no Museu Nacional de Anchieta. Ali podem ser vistos móveis antigos que pertenceram a São José de Anchieta, peças arqueológicas, roupas, a cela (quarta que o santo usava quando era padre), a relíquia de um de seus ossos e inúmeros outros grandes objetos de valor religioso. O museu é aberto à visitação de terça a domingo, das 8h às 18 horas. Os interessados em agendar visitas monitoradas para escolas e grupos devem entrar em contato pelo telefone (28) 3536-2325.
De acordo com Fernando Achiamé, um dos pontos altos da visita de Dom Pedro II ao Espírito Santo foi sua passagem por Linhares, onde conheceu a fauna e a flora de região, além de ter contato com os índios botocudos e conhecer a foz do Rio Doce ou Munhan-uatú, nome dado ao leito pelos indígenas, conforme descreve Sua Majestade em suas memórias.
"Ele ficou encantado com a beleza natural da Lagoa Juparanã. Os moradores preparam um almoço para homenageá-lo na Ilha de Santa Ana, que, após o encontro, foi batizada de Ilha do Imperador", informa Fernando, acrescentando com uma passagem curiosa ao fato histórico.
"Foi um banquete digno de rei, com champanhe e tudo. Em certo momento, o monarca (será que estava "meio alto"?) resolveu pegar uma colher, colocar em uma das garrafas vazias e jogá-la na lagoa. Curiosamente, muitos anos depois, um morador achou a tal garrafa, e acabou ficando com a colher que trazia o brasão da cora portuguesa", complementa, com uma pitada de nostalgia.
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