O isolamento imposto pela pandemia do novo coronavírus já reflete na retração do turismo no Espírito Santo. Aeroporto e cidades vazias, hotéis com baixa lotação e empresários do setor buscando sobreviver no atual cenário.
O resultado do isolamento sobre o turismo ainda não foi calculado. Por isso, o Governo do Estado ainda não sabe dizer com exatidão as perdas no setor. "Seria só especulação", diz o secretário de Estado de Turismo, Dorval Uliana, em entrevista ao Divirta-se.
Mas, segundo Uliana, um estudo com os números exatos sobre setor serão liberados até o fim do mês, quando um relatório com dados coletados pelo Governo do Estado será lançado. O documento, chamado burocraticamente de "Boletim da Economia do Turismo", é elaborado pelo Instituto Jones dos Santos Neves e atualizado a cada três meses. Por isso, na próxima edição é que será possível haver um panorama mais exato da real situação do Estado em relação a prejuízos, por exemplo.
Em contrapartida, ações já estão sendo pensadas para ajudar no turismo. Um dos principais é o selo de qualidade lançado pelo Governo Federal - o Turista Protegido - para garantir segurança aos turistas.
Em parceria com o Ministério do Turismo, a secretaria pretende criar uma série de parâmetros que vão dar - ou não - a hotéis, restaurantes e demais empreendimentos ligados ao segmento um sinal para o turista de que aquele é um local que cumpre com as determinações de segurança.
No entanto, a medida ainda não tem data nem previsão para começar a ser implementada. Isso porque o órgão federal lançou a campanha e, segundo Uliana, não criou um protocolo rígido para ser seguido.
"Não há previsão para isso começar a acontecer. É uma discussão recente, que começou na semana passada, e tudo vai depender de como vamos dar sustentação ao selo. Estamos em conversa com o ministério para isso, mas também seguimos em contato com entidades representativas, infectologistas, pesquisadores, para conseguir construir esse quadro de recomendações e protocolos de segurança que serão avaliados. É algo muito completo porque são muitas variantes que têm de ser levadas em conta", avalia Uliana.
Ele, que também é vice-presidente do Fórum Nacional dos Secretários de Turismo (Fornatur) Região Sudeste, está em conversa com oito entidades que representam diversos setores do turismo e explica que a complexidade da criação de um procolo desses é que precisa ser discutida com o ministério.
Nós, do Fornatur, estamos com um protocolo de dezenas de páginas que será encaminhado ao ministério como sugestão de diretrizes a seguir para, assim, o estabelecimento ganhar o selo. Porque não adianta imprimir o selo e colar na frente da loja, do hotel, do restaurante. Do jeito que está, (o selo) não tem data, não tem regra. Nossa preocupação é ter um protocolo único, recomendatório por parte do ministério, com aval da Anvisa, detalha.
Enquanto isso, os trabalhadores que prestam serviços à classe turística dizem que só se sentirão seguros de verdade quando houver uma vacina, como conta Rogério Agripino, guia de Turismo há 29 anos. Ele está com as atividades paralisadas por tempo indeterminado e optou por não prestar nem sequer atendimentos individuais. "Seria falta de bom senso e humanidade a gente insistir em funcionar agora", opina.
Apesar de ver o selo do turismo com bons olhos, Agripino se preocupa com custos da implementação que um protocolo pode gerar. Podem inventar mil protocolos que sejam efetivos, mas eles também terão um custo. Nos Emirados Árabes, vi na TV, hotéis que criaram equipes segmentadas. Tem equipe só para trocar roupa de cama, outra só para lidar com desinfecção de maçanetas, pensa bem. Isso tem um custo. Quem vai pagar? Eu ainda aposto na vacina, opina.
Além disso, ele ainda revela receio com a fiscalização. "Tudo está muito atrelado à vacina quando a gente fala de turismo. Podem inventar mil coisas, mas os agentes de turismo só vão ter segurança quando houver imunização. As empresas estão em processo de adaptação em meio às regras de higiene, limpeza... E os visitantes mesmo não se sentem seguros", fala.
No Estado, o secretário esclarece que o único setor que foi 100% paralisado foi o de eventos. As demais operações podem funcionar, de acordo com os decretos que regulam o isolamento, mas seguindo uma série de protocolos. Além disso, cada empresário pode decidir se vai ou não abrir as portas.
Helem Azevedo, diretora-executiva da Haz Consultoria para Hotéis, explica que a hotelaria mundial está com cerca de 70% dos hotéis fechados. As unidades que estão abertas seguem atendendo, em sua maioria, o setor corporativo e com protocolos rígidos de higienização
"No Brasil chegou a 72% a taxa de unidades fechadas. Dos que estão abertos, a média de ocupação está em 10%. Dos que fecharam, os de modalidade econômica, devem voltar a funcionar agora em junho ou julho. Os hotéis de alto padrão devem retornar apenas em agosto. Alguns de regiões de praia estão previstos para abrir em novembro. Em Vitória, há hotéis que falaram que vão abrir apenas em fevereiro de 2021", explica.
Para ela, a aplicação do selo Turista Protegido não vai surtir muito efeito, pois muitos dos protocolos já são utilizados. "Quanto aos procedimentos da Anvisa (selo), para hotelaria de rede, não faz tanta diferença porque já estávamos aplicando padrões de higiene mais rígidos desde fevereiro. Nosso setor já sabia que vinha a onda de epidemia. A gente já praticava a higienização mais rígida, com utilização de EPIs para as camareiras... O protocolo já havia sido mudado desde o carnaval", analisa.
Tanto Uliana quanto Agripino acreditam que o turismo de capixabas dentro do Espírito Santo pode aumentar quando as regras de isolamento forem relaxadas. Uliana vai até um pouco mais longe: "As viagens internas serão uma tendência pois o Estado tem posição privilegiada. Temos voos diretos e curtos entre Minas, Rio e São Paulo, tudo sem escala. Esses locais estão dentro de um raio de confiança e de possibilidade de aceitação desses turistas. E também há malha rodoviária que faz esses percursos".
Segundo o secretário, projetando de acordo com o que o Estado vive atualmente, o segundo semestre pode ser bastante promissor já nesse sentido. "É a expectativa. Temos uma demanda reprimida, pessoas que remarcaram viagens... E temos que levar em conta o tempo que tudo demora para acontecer. Para planejar uma viagem, para planejar um passeio... Também acreditamos em viagens mais curtas, tanto pela perda de renda quanto pela preferência por menos exposição".
Agripino fala sobre promoções que as próprias operadoras de turismo estão realizando para o segundo semestre de 2020 e primeiro semestre de 2021, mas crê que ainda é necessário cautela.
"As empresas lançam promoção porque precisam fazer caixa, movimentar dinheiro. Essa semana mesmo vi voos a preços inacreditáveis. Mas as pessoas não sabem até quando o isolamento será tão necessário. Mas as ofertas abrangem tanto voos domésticos quanto pacotes internacionais", pondera.
Para Agripino, o futuro será de novas demandas por parte dos clientes. Segundo o especialista, muitos consumidores já estão revendo o que os seguros de viagem oferecem e qual é a assistência que as empresas prestam em caso de acidentes ou doença. "Teve muita gente que se complicou nessa situação. Gente que viajou, ficou presa até em outro país, não tinha mais dinheiro para bancar custos mais altos e se viu sem ter o que fazer", justifica.
Além disso, o guia também discute que o trato terá que mudar: "Passageiro vai cobrar um asseio maior, um cuidado maior. Imagina um café da manhã de um hotel, que é servido 6h, 7h, 8h, e fica até quase 11h exposto? Acho que esse tipo de comportamento por parte de quem oferece o serviço vai ter que mudar".
Nesse sentido, o secretário volta a defender o selo que deve ser implementado nos próximos meses e reitera: "Essa questão da alimentação já foi observada e acho que teremos mudanças drásticas, sim. Até para sistemas de buffet e self-service. Já tem restaurante mudando, colocando funcionários para servir as pessoas. Mas isso tudo ainda é incerto, não há uma maturação dessas medidas".
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