O agronegócio capixaba, com seus mais de 3,2 milhões de hectares e cerca de 130 mil estabelecimentos agropecuários, é a força motriz da economia em 80% dos municípios do Espírito Santo, segundo dados da Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado (Seag). Representando 30% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e empregando um terço da população economicamente ativa, o setor tem se destacado como importante motor para o aquecimento da atividade econômica no território capixaba e deve ser responsável por garantir um 2023 com resultados positivos na geração de riquezas.
Impulsionado pela diversidade de produtos exportados, o setor - que vai além da agricultura e pecuária ao ter ramificações industriais, comerciais e também no segmento de serviços - projeta encerrar o ano com mais de US$ 2 bilhões em exportações para mais de 100 países, um crescimento notável se comparado ao ano anterior. É uma atividade potente que mostra fôlego para crescer ainda mais. Em 2022, esse valor ficou em US$ 1,7 bilhão, do total de US$ 9 bilhões exportados por todos os setores econômicos capixabas, de acordo com a Seag.
O café lidera com folga nas vendas externas, correspondendo a mais de 70% das operações. Estados Unidos, Bélgica e Reino Unido são os principais parceiros comerciais do Espírito Santo, ou seja, os países que mais consomem o grão capixaba. Outras culturas, como pimenta, mamão, chocolate, carne bovina e aves, apesar de terem um peso menor nas vendas externas, também desempenham papel relevante nesse panorama e buscam ainda mais expansão para atingir novos mercados, conforme detalha também a Seag.
“Os resultados que colhemos hoje são frutos de um trabalho iniciado em 2003 e que atravessou as últimas décadas sem interrupção, garantindo apoio aos produtores e estímulo à consolidação e ampliação das diferentes cadeias produtivas”, destaca o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.
Ao longo de 2022, a agricultura teve um crescimento de 7,1%, segundo dados do Indicador de Atividade Econômica (IAE) da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). O incremento na produção foi alavancado tanto pela agricultura (8,4%), com o aumento da produção das lavouras de café, arroz, milho e laranja, quanto pela pecuária (3,6%), com os bons resultados na bovinocultura (leite e abate) e avicultura (ovos e abate). O avanço do setor foi na contramão do resultado nacional, que teve retração de 1,7%.
O café predomina nas lavouras do Estado, sendo o principal produto em 61 das 78 cidades capixabas. Mas a pauta do agronegócio no Espírito Santo é bastante diversificada, como detalha o secretário de Agricultura, Enio Bergoli. “Exportamos celulose, café, pimenta, mamão, chocolate e derivados, gengibre, frango, carne bovina, entre outros produtos. Temos uma atividade muito variada e de muita qualidade”, pontua. Ele complementa: “O Espírito Santo é pequeno em dimensões, mas gigante na produção de agropecuária”.
Bergoli assinala que o ponto forte do agronegócio capixaba é o fato de ser dinâmico, utilizando, na prática, conhecimento científico. “Grande parte das nossas cadeias produtivas faz uso de tecnologia de ponta e é altamente competitiva para comercialização interna e externa”, analisa.
Os resultados comprovam a qualidade dos produtos do Espírito Santo. “É o único Estado que produz em quantidade e em qualidade as duas espécies de café que são consumidas no Brasil e no mundo: arábica e conilon. Somos o segundo maior exportador do grão do país. A cafeicultura sozinha gera mais de 40% da renda rural, que é aquela que vem de dentro da propriedade”, diz Bergoli. Ele assinala que o Espírito Santo é ainda o maior produtor e exportador de pimenta-do-reino e de gengibre do Brasil e um dos maiores de mamão.
O agronegócio vem superando as adversidades climáticas e outras dificuldades para manter o potencial de crescimento e geração de riquezas no Estado. A expectativa, para 2024, é de um ano ainda melhor do que 2023, segundo o secretário. E a médio prazo, o prognóstico só melhora. “Todo o cenário aponta para isso. Estamos construindo um plano estratégico para os próximos 10 anos, envolvendo governo, instituições privadas e terceiro setor, com metas ousadas até 2032. É o nosso Pedeag 4 (Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba), que contempla mais de 40 oficinas de trabalho com especialistas, entre outras iniciativas, para todas as cadeias produtivas”, afirma o secretário.
O Pedeag tem como objetivo ser referencial para o desenvolvimento das principais produções do Espírito Santo, de modo a integrar programas, projetos e ações entre os setores público, privado e não governamental. “Vamos dialogar com as diversas cadeias produtivas da agropecuária capixaba para planejar e fomentar ações específicas e estabelecer as prioridades para os próximos anos, com o intuito de gerar os melhores resultados de produtividade. O tema central é a inovabilidade, ou seja, a sustentabilidade nos processos e a inovação e tecnologia caminhando juntas nas ações que serão estabelecidas”, enfatiza Bergoli.
Entre as metas traçadas, está chegar até o ano de 2032 com 35 mil propriedades sustentáveis de café no Espírito Santo, das 75 mil hoje existentes. “E essas propriedades deverão ser competitivas, usar tecnologia de ponta, ter qualidade na produção, mas sobretudo com processos de produção sustentáveis, do café à xícara”, prevê o secretário.
A ação visa ao salto de 1 milhão e meio de sacas de café para 4 milhões e à ampliação da produtividade. “Queremos passar das atuais 42 a 45 sacas de conilon por hectare para 60 sacas; e o arábica, de 20 a 22 sacas para 35 sacas por hectare.”
Com o Plano Safra, lançado em 2023, englobando todas as instituições financeiras que aplicam crédito rural no Estado, o produtor terá mais oportunidade de inovar. “Nossa ideia é potencializar atividades emergentes, recuperar produções que tenham algum problema momentâneo, acelerar a sustentabilidade, ou seja, melhorar o nível tecnológico”, enumera Bergoli.
O secretário afirma que as pesquisas mostram que os consumidores estão muito mais exigentes no mundo todo e a maioria está disposta a consumir e até pagar mais caro por produtos com processos mais modernos, humanos e que respeitam o meio ambiente. “Esses investimentos em sustentabilidade são uma valorização da produção rural do Espírito Santo. Precisamos acompanhar o que o consumidor deseja”, frisa.
Em 2022, o setor agropecuário capixaba registrou um crescimento de 8,5%, impulsionado pelas atividades agrícolas (14,8%), enquanto as atividades pecuárias apresentaram recuo (-3,2%), de acordo com dados do IAE-Findes. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o café, principal cultura do setor, cresceu 13,2%, considerando tanto as variedades arábica quanto conilon. Outros produtos importantes na agricultura local também contribuíram para o resultado positivo. Destaca-se o aumento da produção de milho (26,1%), cana-de-açúcar (23,7%), laranja (19,9%), pimenta-do-reino (6,1%) e tomate (2,8%).
O secretário estadual de Agricultura ressalta que a safra de café em 2023 será menor, com valor bruto dentro da propriedade mais baixo do que no ano anterior. Por outro lado, a exportação, principalmente do conilon, via solúvel, está em franca expansão. “Especialmente com as novas empresas que se instalaram em Linhares. Na verdade, o ano de 2023 será bom, apesar da previsão de uma redução na safra de café, que já está em curso. Há um impacto na produção geral sim, mas existem outras atividades que vão compensando a economia do segmento como um todo”, explica Bergoli.
O gengibre, por exemplo, que estava, em 2022, com preço baixo, em 2023 terá produção maior com preços internacionais melhores. “Também prevemos uma recuperação de exportação de mamão muito boa para o segundo semestre deste ano. E a pimenta-do-reino continua em alta”, conclui.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta