O Brasil tem 5,2 milhões de propriedades rurais e 25 mil delas respondem por 50% do valor bruto gerado pelo agronegócio brasileiro. O dado apresentado durante o TecnoAgro 2023 pelo agroambientalista Marcello Brito, coordenador da Academia Global do Agronegócio, da Fundação Dom Cabral (FMC), mostra a concentração e a falta de diversidade da produção do país.
Durante o painel “A jornada do agronegócio brasileiro rumo à sustentabilidade e inovação: lições e oportunidades”, realizado nesta sexta-feira (18), no evento de tecnologia no agro capixaba, em Linhares, o membro da FMC chamou a atenção para a concentração na produção brasileira e discutiu a questão com o engenheiro Durval Vieira de Freitas, sócio da DVF consultoria e parceiro da Dom Cabral, e o diretor-executivo do Sicoob Central ES e presidente do ES em Ação, Nailson Dalla Bernadina.
Sob a mediação do jornalista Mário Bonella, os três profissionais avaliaram que um dos caminhos para o Brasil diversificar a produção é aprender com as iniciativas de cooperativismo e o oferecimento de crédito à agricultura familiar, como tem sido feito no Espírito Santo.
“As cooperativas de crédito fazem um trabalho de, justamente, colaborar com a tecnologia e o acesso a crédito para pequenas propriedades vai crescendo com essa capilaridade das cooperativas”, pontuou Nailson Dalla Bernadina ao avaliar a presença das cooperativas no interior capixaba.
Ao longo dos anos, prosseguiu Nailson, o agronegócio se mostrou muito viável e vem conquistando novos atores que talvez em um passado não tão longo não estavam preocupados com esse tipo de operação. "A expectativa de crescimento é bem superior as outras carteiras de crédito do sistema financeiro."
Marcello Brito, por sua vez, citou como exemplo a produção de cacau no país. “A característica da produção de cacau é de pequenos produtores; 85% dos produtores no Brasil nunca tiveram financiamento. As cooperativas cresceram porque não há espaço vazio no mercado. Se os bancos não chegaram, as cooperativas chegaram. Há oportunidade de crédito, de assistência técnica, aumento de produtividade, acesso a mercado, melhoria econômica, ambiental”, afirmou.
Para o coordenador da Academia Global do Agronegócio, o caminho é o cooperativismo "Se o produtor se juntar com os vizinhos e montar uma cooperativa e tiver um sistema de produção grande, além da safra de café, de cacau, vai conseguir vender safra de carbono, dinheiro que o produtor nunca viu na vida, mas precisa de um sistema cooperativista", ressaltou.
Durante o painel, Nailson observou que o agronegócio brasileiro está em um momento de se posicionar de forma diferente no mundo e avançar muito mais, sobretudo porque está entregando resultados consistentes ano após ano. O diretor-executivo do Sicoob Central ES frisou que o crédito é indutor e impulsionador de várias cadeias produtivas e que tanto o sistema financeiro cooperativista quanto os bancos digitais estão ocupando um pedaço da fatia deixado pelos bancos públicos.
Marcello Brito aproveitou a oportunidade para destacar dados sobre o desmatamento no país. O Brasil ainda desmata para ampliar as áreas de produção, enquanto os países desenvolvidos buscam aprimorar as áreas já existentes para produzir mais sem aumentar o território ou destruir florestas.
Além da experiência do Espírito Santo com o oferecimento de crédito pelas cooperativas aos pequenos produtores, o especialista citou o exemplo capixaba com a produção de café conilon, que vem crescendo dentro da mesma margem territorial.
“Nós podemos triplicar a capacidade de produção do Brasil, com inteligência, sustentabilidade, mas por qual razão continuamos a desmatar?”, refletiu Marcello Brito.
Para ele, quanto mais forte tiver a estrutura de agricultura familiar, mais geração de empregos, produtos de alta qualidade, valor agregado. "O fato de o Espírito Santo ter avançado nisso significa que as ações de assistência técnica avançaram. No Brasil, foram detonadas e até hoje não retornaram."
Na opinião de Durval Freitas, sócio da DVF, o Espírito Santo é destaque nesse segmento, mas é necessário divulgar mais e atrair jovens.
“Precisamos fazer muito mais. Temos uma deficiência muito grande. O jovem tem que entender que ele pode fazer a programação de um drone. Hoje, vemos gente voltando para o interior para aplicar aquilo que aprendeu. Precisamos fazer uma divulgação disso”, argumentou.
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