As mulheres estão revolucionando a produção de café no Espírito Santo. Segundo o último Censo Agropecuário, elas representam um contingente significativo de produtoras nessa cultura, a principal do Estado. No entanto, apesar de sua importância, enfrentam desafios como desigualdade de acesso à terra, ao crédito e à assistência técnica.
Para mudar essa realidade e valorizar o trabalho feminino no campo, o “Mulheres do Café” foi lançado em abril de 2024. A iniciativa visa a empoderar as cafeicultoras, promovendo a igualdade de gênero e a qualidade da produção. Por meio de cursos, treinamentos, concursos e ações de extensão rural, o projeto busca dar visibilidade aos produtos.
A meta é atender até 2026 pelo menos mil produtoras capixabas. “O projeto é um marco para o setor cafeeiro capixaba. Ao capacitarmos e fortalecermos a liderança das mulheres, estamos contribuindo para o desenvolvimento sustentável da cafeicultura e para a valorização da produção local”, afirma a engenheira-agrônoma Patrícia Matta, coordenadora do projeto no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Um dos exemplos de sucesso é o da coordenadora escolar e produtora Andressa Mafort. Ela e seu marido investiram em cafés especiais, buscando a excelência em cada etapa do processo.
A ideia de ter um negócio no setor cafeeiro foi inspirada no pai dela, Dimas Clementino, que sempre foi pequeno produtor. Em 2022, ele encerrou seus trabalhos no setor. Então, Andressa e o marido passaram a investir na atividade em um sítio no município de Alto Rio Novo.
Por meio do Incaper, Andressa fez um curso de escolha do grão, degustação e filtrados, encantando-se ainda mais pelo trabalho. “Entregamos qualidade em um produto delicado e de um grande diferencial, uma vez que nossos microlotes de cafés especiais são produzidos em um trabalho cuidadoso exercido por mim e meu esposo. Nossos produtos são selecionados criteriosamente para melhor atender o público cafeeiro. Somos focados em passar nossas boas sensações por meio do produto que marcou e continua a ter relevância na história brasileira. Queremos apresentar a todos nosso café pontuado, revelando o potencial da nossa produção”, detalha a produtora.
Por safra, o sítio produz em média 130 sacas de café, mas isso varia dependendo das condições climáticas de cada ciclo agrícola. Esperamos uma melhora notável das condições climáticas. Caso sejam favoráveis e se tivermos uma florada homogênea, entregaremos produtos de alta qualidade. Temos fé que será uma boa safra", afirma.
Durante os três anos de vigência do “Mulheres do Café”, serão realizados levantamento do perfil socioeconômico e produtivo das cafeicultoras inscritas, o primeiro concurso de cafés especiais para mulheres capixabas, de cursos e treinamentos, de excursões para intercâmbio de experiências, fomento e divulgação dos cafés especiais produzidos por mulheres no Estado, prestação de serviços de extensão rural e assistência técnica.
Segundo o Censo Agropecuário do IBGE, o Espírito Santo tem 108.014 estabelecimentos agropecuários, dos quais 14.661 são dirigidos por mulheres. O estudo ainda mostra que apenas 19,6% dos estabelecimentos rurais comandados por elas recebem assistência técnica e 6,2% contam com esse acompanhamento por órgãos públicos.
Outra iniciativa que destaca o protagonismo das mulheres no setor cafeeiro é o “Póde Mulheres”, da Cafesul, cooperativa dos cafeicultores do Sul do Espírito Santo. O grupo visa à diversificação da renda no mundo do café. Inicialmente, foi criado para valorizar mulheres que já eram agricultoras, mas, com o passar do tempo, vem atraindo proprietárias de terra, que já tem outras profissões, para a produção especial.
Segundo a gerente administrativa e agente de desenvolvimento humano da Cafesul, Natercia Vencioneck, mesmo assumindo a gestão dos negócios e tarefas essenciais, algumas mulheres no campo ainda são vistas como suporte. “Existe uma frase usada como elogio, mas que incomoda: ‘Por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher’. O correto seria usar a expressão ‘ao lado’. É isso que trabalhamos e incentivamos no grupo”, pontua.
No projeto, há uma troca de habilidades e conhecimento entre as participantes para alavancar a produção de cafés de qualidade e a diversificação da renda. Em busca de novas receitas, de mais habilidades e de expansão dos negócios, no final de 2023, parte delas fez um curso de artesanato com palha de café com o Sebrae-ES. “Nosso objetivo é atrair cada vez mais agricultoras a fazerem parte da Cafesul e da produção de cafés especiais. A proposta é alcançar novos mercados, além de conquistar novos clientes no exterior para o grão cru especial”, explica Natércia.
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