Existe uma cultura no Espírito Santo de que a colheita do café se inicie logo após o domingo de Páscoa, quando finaliza o período de quaresma da Igreja Católica, no entanto, esta não é a orientação dos especialistas, principalmente, para este ano, quando o mundo enfrenta a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
No Estado existe até uma lei (9.284/2009) que determina a data de 14 de maio como o dia de começar a colheita de café conilon. Segundo o secretário estadual de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Paulo Foletto, o objetivo é evitar que o café seja colhido antes da hora, garantindo assim mais qualidade aos grãos.
Tem uma maneira de pensar, que passou o domingo da Páscoa, começa a colheita do café, mas não é verdade, até porque a Semana Santa muda de um ano para o outro. Então, não queremos adiar a colheita, mas começar na hora certa, com os grãos mais maduros. Se você colher com 50% dos grãos verdes, você tem quase 25% de perda em 100 sacos. E se você empurra a colheita para a data correta, a possibilidade de já ter passado o pico do coronavírus é maior. É pelas duas coisas. É o melhor para a colheita e deverá diminuir a contaminação, explica o secretário.
A expectativa da Seag é que a colheita deste ano não sofra grandes prejuízos, uma vez que foi detectado que o produtor buscava antecipar a colheita para honrar o quanto antes com os compromissos em bancos e financeiras. Teremos umas dificuldades pontuais, mas a produção vai ser boa. Um dos fatores que se observava é que às vezes o produtor colhia o café precocemente para vender logo e conseguir cumprir as obrigações com instituições financeiras, que agora estão com mais tolerância.
Outro fator que, de acordo com Foletto, favorece a colheita de 2020, são as condições climáticas que ajudaram no desenvolvimento do fruto em todo o Espírito Santo. Ele explica que a produção de café segue um ciclo de duas safras boas para uma mais fraca, que seria neste ano. No entanto, o resultado deve ser bem parecido com o de 2019.
Para nossa surpresa a safra deste ano que seria fraca, não deve ser. Nós tivemos um verão com chuva, a não ser o desastre no Sul do Estado, no geral foi bom, tivemos um janeiro e fevereiro sem aquele sol que queima os grãos mais expostos. As condições climáticas estão permitindo que a safra seja surpreendentemente do mesmo tamanho que do ano passado, um pouquinho a menos na previsão da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), mas vai ser uma safra muito boa.
A Conab espera que o Estado colha, em 2020, 400 mil sacas a menos que o ano anterior, quando foram contabilizadas 10 milhões de sacas de café. Neste ano, a colheita do café arábica, que costuma ser mais tardia que o conilon, deve acontecer de forma quase paralela devido à maturação dos frutos.
Assim como em todos os setores da classe produtiva, os produtores de café também precisam ajustar a forma de trabalhar com o objetivo de conter o avanço do novo coronavírus, principalmente nas grandes propriedades, onde são contratados funcionários para o período de colheita.
O pequeno produtor, que normalmente trabalha com a mão de obra familiar, não deve ser tão atingido em relação aos novos gastos necessários.
O pequeno produtor, da agricultura familiar, colhe em casa, com a mulher e com os filhos. É um comportamento que já é tradicional e a gente acha que isso não vai mudar muito. Eu acredito que no ponto de vista financeiro, talvez alguns produtores de médio e de grande porte que podem não ter condição de ser adequar com as mudanças exigidas, terão um comprometimento de colheita, afirma o secretário.
Para orientar melhor o produtor de café do Espírito Santo, a Seag elaborou uma cartilha com orientações sobre o melhor momento de iniciar a colheita e os protocolos que deverão ser seguidos durante o trabalho nas propriedades para evitar aglomerações e contágio com o novo coronavírus. O material pode ser acessado no site da secretaria.
Nós conseguimos construir a cartilha junto com várias instituições, incluindo os produtores da agricultura familiar e os responsáveis pela exportação do café. A cartilha tem feito sucesso e estamos seguindo o que é pedido pela secretaria da Saúde. Orientamos o que o produtor tome os cuidados de não compartilhar equipamentos de trabalho e até mesmo,o alimento. No interior, temos a cultura de dividir a refeição e isso é proibitivo nesse momento. Também pedimos que evitem, ao máximo, ir para as cidades e contratar quem for do grupo de risco. Não é discriminar, mas tem que ter o cuidado, declara Paulo Foletto, secretário estadual de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca.
Entre as orientações listadas na cartilha, o produtor deve manter distância mínima de um metro entre os trabalhadores durante a colheita no campo e disponibilizar álcool em gel 70% ou água e sabão para higienização das mãos e das máquinas e equipamentos quando forem realizadas trocas de operadores. Os veículos também devem ser limpos diariamente com água e sabão e para o transporte de longa distância precisa ser feito uma triagem, isolando pessoas com sintomas de síndrome gripal. Nos alojamentos, todos os ambientes precisam ser higienizados diariamente e as camas devem ter espaçamento de um metro de distância mínima entre elas.
Em sua propriedade localizada entre Marilândia e Linhares, no Noroeste do Estado, o produtor rural Zeferino Lorenzoni já está colocando em prática as orientações da cartilha. O coronavírus trouxe uma preocupação de trabalho, com higiene, com a separação dos produtos para os funcionários. A sacaria e a peneira têm que ser separadas, e a lona também, conta.
O produtor também está construindo um ponto de apoio para os trabalhadores, onde eles poderão almoçar, dormir e fazer a higiene.
Com informações de Gabriela Fardin
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