A pandemia do coronavírus e a maturação dos grãos de café, que tardou neste ano devido ao clima, atrasaram a safra capixaba deste ano. Tradicionalmente, as primeiras frutas do cafezal começam a ser colhidas em abril, isso porque, para muitos produtores, o grão começa a madurar após a Semana Santa. Devido a essa combinação de fatores, em alguns locais do Espírito Santo, somente agora, no mês de maio, é que a panha do conilon começou.
A primeira previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicou uma produção entre 9,01 milhões e 10,67 milhões de sacas de conilon e entre 4,01 milhões e 4,77 milhões de sacas do arábica para 2020. Com isso a produção total deve girar entre 13,02 milhões e 15,44 milhões de sacas no Estado.
É importante lembrar que a cafeicultura é a principal atividade agrícola do Espírito Santo. Ela é desenvolvida em todos os municípios capixabas, exceto na Capital, Vitória, e está presente em 60 mil das 90 mil propriedades agrícolas do Estado. De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), ela é a responsável por cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos no Estado.
Apesar da cata dos grãos começar em abril, por lei, no Estado, o dia 14 de maio é a data oficial do início da colheita do conilon. A data foi estabelecida com o objetivo de estimular o cafeicultor a colher no momento mais adequado, quando cerca de 80% dos frutos estão maduros. Isso eleva o rendimento e garante mais qualidade aos grãos.
O presidente da Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), Luiz Carlos Bastianello, explica que os grãos chegam ao ponto em três momentos, que são denominados: precoce, médio e tardio. Precoce são os que amadurecem primeiro e, com isso, chegam antes do pico da colheita. Médio, são aqueles que estão maduros na data certa. Já o tardio, como o próprio nome já diz, amadurecem por último, no final da safra.
Ele conta ainda que, no ano passado, a florada do café foi mais tardia, o que fez a safra atrasar. Além disso, o clima com chuva na hora certa, na granação do grão, fez a planta ficar menos estressada.
A Cooabriel tem cerca de 5 mil associados no Norte e Noroeste Estado e outros mil espalhados no Sul da Bahia. No ano passado, 1,7 milhão de sacas foi entregue para a cooperativa comercializar. Esse número não leva em conta o que os agricultores venderam por conta própria.
Em alguns casos, para dar conta da colheita, os agricultores precisam chamar gente de outros municípios ou Estados, mas agora está sendo diferente. O presidente da Cooabriel explica que, neste ano, como a indústria local teve que diminuir a produção por conta do comércio parado, percebeu-se que a mão de obra dispensada por ela poderia ser útil para a panha do café.
"Cerca de 80% dos nossos cooperados são da agricultura familiar. Mas, na época de colheita, o tempo é muito curto e muita gente não consegue apenas com a mão de obra familiar e acaba contratando duas ou três pessoas", explica Bastianello.
No Sul do Estado, produtores receberam um kit para colher café conilon com segurança. Os associados da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul) receberam máscaras e detergente para ajudar a se protegerem contra o coronavírus.
O presidente da Cafesul, Renato Theodoro, conta que as máscaras de pano foram confeccionadas pelo núcleo feminino da cooperativa, o que garantiu uma renda extra. Elas também são as responsáveis pela produção do "Póde Mulheres", café especialmente produzido por mulheres.
"Nós usamos parte do dinheiro do prêmio do Fair Trade (comércio justo) que recebemos para comprar os tecidos e os detergentes e pagar para que o núcleo produzisse as máscaras", conta.
A cooperativa tem 167 associados distribuídos em sete municípios da Região Sul do Estado. A produção entregue à cooperativa é vendida a indústrias nacionais, que transformam o café em solúvel e exportam.
Mais de 90% da cooperativa é composta por agricultores familiares. Segundo Renato, normalmente, quem colhe é a família, e quando precisa de ajuda, os agricultores acabam recrutando na própria cidade ou nos municípios vizinhos.
O presidente da cooperativa conta ainda que junto com o kit foi uma cartilha de orientações para a colheita. O material foi produzido pelo governo do Espírito Santo.
A Secretaria de Estado da Agricultura (Seag) fez uma cartilha orientando os produtores nesse período de pandemia do coronavírus. A cartilha pode ser baixada no link abaixo. Ela foi elaborada pela Seag, em conjunto com o Incaper, entre outras instituições que assinam o documento.
A cartilha fornece orientações gerais aos produtores, entre elas medidas de prevenção do contágio do vírus, como a adoção de boas práticas específicas em refeitórios, no trabalho da colheita, transporte e alojamento. Além disso, traz recomendações específicas para o início da colheita de 2020 no Estado do Espírito Santo e esclarecimentos sobre os sintomas do novo coronavírus, diferenciando-os dos sintomas da gripe.
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