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De 'veneno' a queridinho: café conilon do ES é o melhor do país

De "veneno" a queridinho: café conilon do ES é o melhor do país

O Espírito Santo é o palco da transformação do conilon e uma família de Muqui se tornou o exemplo disso ao produzir café que conquistou o título de melhor do Brasil por dois anos seguidos

Publicado em 22 de dezembro de 2019 às 20:44

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Da esquerda para direita: Tássio (filho), Luiz Claudio (pai), Talles (filho) e Tércio (filho). (Arquivo pessoal)

Apesar de o café ser uma das bebidas mais apreciadas no mundo, a variedade conilon foi vista, por muito tempo, apenas como um grão para misturar com o arábica e baratear o blend – e até chamado de "veneno", pela suposta má qualidade. Mas produtores capixabas estão provando que esta história ficou no passado. Hoje, o Espírito Santo é o palco da transformação do conilon, e uma família se tornou o exemplo disso ao conquistar, por dois anos consecutivos, o título de melhor café do Brasil.

A família Silva de Souza é bicampeã do Coffee of The Year (COY), o maior concurso de qualidade da bebida do país. As premiações  provam que o nome dado ao sítio, Grãos de Ouro, não foi a toa. Luiz Cláudio, os três filhos – Tércio, Talles e Tássio – e a esposa, Neuza Maria, produzem cafés especiais na propriedade que fica em Muqui, no Sul do Espírito Santo.

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Sou da quarta geração de cafeicultores. Meus antepassados vieram da Itália para Mimoso do Sul, no extremo Sul do Estado, e foram plantar café. Nós queríamos produzir uma boa bebida e começamos a mexer com conilon de qualidade em Muqui, em 2010. Plantamos cerca de 12 mil plantas em três hectares de terra

Luiz Claudio de Souza
Cafeicultor
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A propriedade fica a uma altitude entre 500 e 600 metros e tem as nascentes e matas preservadas. “Isso contribuiu para ter uma boa produção. Além disso, ainda temos um tempo maior de safra, que vai de junho até setembro, o que possibilita colher os frutos mais maduros. Tomamos cuidados no pós-colheita e no armazenamento, para evitar que a bebida perca qualidade com o passar do tempo”, explica.

Segundo Luiz, das 120 sacas colhidas neste ano, 90% tinha pontuação superior a 80 pontos, e foram consideradas especiais. “Sempre queremos melhorar nossa bebida. Eu trabalho na produção com a ajuda da minha esposa. Meus filhos mais novos, o Tássio, de 30 anos, e o Talles, de 36, são Q-graders (provadores de qualidade de cafés) e me ajudam fazendo a prova dos grãos e montando os lotes para venda e os concursos. Já o meu mais velho, o Tércio, de 39, é professor de Química e consegue analisar no laboratório as propriedades do conilon que produzimos”, relata orgulhoso.

CULTURA DO CAFÉ EVOLUIU NAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Luiz Claudio de Souza (naesquerda) e Willians Valério, vencedores do Coffee of the Year 2019 . (Nitro/Divulgação)

Neste ano, segundo o IBGE, o Estado produziu mais de 638,3 mil toneladas de conilon, cerca de 70% da produção nacional, e é o principal produtor do grão no país. Apesar de ter apenas 47 anos de cultivo comercial, o conilon está presente em terras capixabas desde 1912.

Na década de 1960, a elevada produção mundial fez com que houvesse uma superoferta do produto no mercado. Para conter o auge da crise, que fez os preços despencaram, 53% do parque cafeeiro do Estado foi erradicado. Já na década seguinte, a meta foi aumentar a produção, mas apenas da variedade arábica.

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Os produtores não cuidavam bem do cafezal e, com isso, o conilon ganhou uma fama ruim, de 'veneno'. O agricultor não tratava bem o café e queria que alguém bebesse e gostasse. A fruta é boa, mas a gente estragava. Meu sonho sempre foi fazer um café de qualidade para mostrar ao consumidor que o conilon é bom de beber e, com isso, fazer o mercado crescer. Ele vem provando que pode ser tão bom quanto o arábica

Luiz Claudio de Souza
Cafeicultor
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