Apesar de o café ser uma das bebidas mais apreciadas no mundo, a variedade conilon foi vista, por muito tempo, apenas como um grão para misturar com o arábica e baratear o blend e até chamado de "veneno", pela suposta má qualidade. Mas produtores capixabas estão provando que esta história ficou no passado. Hoje, o Espírito Santo é o palco da transformação do conilon, e uma família se tornou o exemplo disso ao conquistar, por dois anos consecutivos, o título de melhor café do Brasil.
A família Silva de Souza é bicampeã do Coffee of The Year (COY), o maior concurso de qualidade da bebida do país. As premiações provam que o nome dado ao sítio, Grãos de Ouro, não foi a toa. Luiz Cláudio, os três filhos Tércio, Talles e Tássio e a esposa, Neuza Maria, produzem cafés especiais na propriedade que fica em Muqui, no Sul do Espírito Santo.
A propriedade fica a uma altitude entre 500 e 600 metros e tem as nascentes e matas preservadas. Isso contribuiu para ter uma boa produção. Além disso, ainda temos um tempo maior de safra, que vai de junho até setembro, o que possibilita colher os frutos mais maduros. Tomamos cuidados no pós-colheita e no armazenamento, para evitar que a bebida perca qualidade com o passar do tempo, explica.
Segundo Luiz, das 120 sacas colhidas neste ano, 90% tinha pontuação superior a 80 pontos, e foram consideradas especiais. Sempre queremos melhorar nossa bebida. Eu trabalho na produção com a ajuda da minha esposa. Meus filhos mais novos, o Tássio, de 30 anos, e o Talles, de 36, são Q-graders (provadores de qualidade de cafés) e me ajudam fazendo a prova dos grãos e montando os lotes para venda e os concursos. Já o meu mais velho, o Tércio, de 39, é professor de Química e consegue analisar no laboratório as propriedades do conilon que produzimos, relata orgulhoso.
Neste ano, segundo o IBGE, o Estado produziu mais de 638,3 mil toneladas de conilon, cerca de 70% da produção nacional, e é o principal produtor do grão no país. Apesar de ter apenas 47 anos de cultivo comercial, o conilon está presente em terras capixabas desde 1912.
Na década de 1960, a elevada produção mundial fez com que houvesse uma superoferta do produto no mercado. Para conter o auge da crise, que fez os preços despencaram, 53% do parque cafeeiro do Estado foi erradicado. Já na década seguinte, a meta foi aumentar a produção, mas apenas da variedade arábica.
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