A disparada no preço dos insumos, que são os produtos necessários para a produção da agricultura, faz com que produtores rurais no Espírito Santo encarem uma nova realidade ao calcularem os rendimentos para as colheitas.
O produtor rural Luiz Antônio Galavotti aponta a diferença de um ano para o outro pelo poder de compra dos sacos de adubo guardados em um galpão, necessários para o plantio de café. Ele explica que, para adquirir todo o material necessário para a colheita deste ano, terá que dobrar a quantidade de dinheiro utilizada em 2021.
"Sempre comento em reuniões de produtores que temos que ter um balizador na agricultura, que é o que você vende, o que você compra, para saber como está a remuneração daquilo que você está produzindo. Ano passado vendia uma saca de café e comprava um balde de glifosato. Este ano preciso vender duas sacas e meia para comprar esse mesmo balde. Vendia um saco de café e comprava seis sacos de adubo. Esse ano vendo um saco de café e só compro três sacos de adubo", disse o agricultor.
A diferença nos preços chega também ao consumidor. Pela necessidade do agricultor repassar as altas dos custos durante os plantios, o valor desembolsado para adquirir os itens nas prateleiras tende a subir. A incerteza sobre novos aumentos também faz com que comerciantes precisem alterar preços de forma constante.
Os fertilizantes de uma loja agrícola em Linhares, no Norte do estado, agora são cotados de forma diária, tendo grande volatilidade, como explica o proprietário do estabelecimento, José Roberto Fontes.
"O maior aumento tivemos logo após o anúncio da guerra [entre Rússia e Ucrânia]. E de lá pra cá tem aumentado a cada momento, porque acaba que uma guerra dessa proporção, por envolver muito a questão comercial mundial, com diversas sanções, atrapalham a questão logística e financeira", disse o empresário.
A guerra não é o único fator apontado como crucial para o aumento dos preços. A pandemia de Covid-19 e a alta do dólar também continuam contribuindo para um desequilíbrio nos valores de produtos como fertilizantes e herbicidas, fundamentais para o bom funcionamento das lavouras.
"Tendo um cenário em que os problemas nos portos são reais, e o impacto que a Rússia tem no fornecimento mundial de fertilizantes, só para se ter ideia, para fertilizantes como potássio como fonte principal de nutrientes, 28% das exportações mundiais vêm da Rússia. Então qualquer oscilação sobre a oferta desse produto causa um impacto no mercado", disse o assessor técnico Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Thiago Rodrigues.
O Brasil é o país que mais importa fertilizantes no mundo. Ao todo 85% do material utilizado nas lavouras no país são comprados. Caso a alta continue, a tendência é que alguns produtos comecem a faltar e, com isso, o preço aumentar.
"A gente imagina que para a próxima safra, e principalmente para os maiores plantios, que costumam acontecer justamente nessa época de outubro, aí sim a demanda vai ser bem maior e pode ser que não tenhamos fertilizantes para manter a demanda", salientou José Roberto Fontes.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta