Não importa onde o capixaba esteja, se ele encontrar um abacaxi sendo comercializado ou servido, já vai associar ao município de Marataízes, que é o maior produtor do fruto no Espírito Santo e o 15º no país. E isso não é à toa, a cidade produz, anualmente, mais de 20 milhões de unidades de abacaxis.
O valor da produção em 2018 no município, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), superou o valor de R$ 36 milhões. A Prefeitura de Marataízes calcula que quase três mil hectares, ou seja, medida equivalente a três mil campos de futebol, são utilizados para a plantação do fruto.
Cultivar abacaxi no município é tradição que passa de geração em geração. De acordo com levantamento da cidade, a produção envolve cerca de 1.750 famílias e a média de colheita por produtor varia de 20 mil frutos até 1 milhão nas grandes propriedades.
Cremildo Marvila, que é produtor na localidade de Brejo dos Patos e presidente da Associação de Moradores e Agricultores Familiares de Marataízes, conta que a família é unida quando o assunto é o cultivo. Aqui as crianças já nascem dentro da roça de abacaxi. Eu faço isso desde sempre, porque meu pai trabalhava com isso. Hoje, meus irmãos e eu, nos ajudamos, junto com os sobrinhos. Quando a colheita é aqui, eles vêm para cá, e quando é na roça deles, a gente ajuda lá.
Quem também aprendeu a atividade com o pai é o Sidney Ribeiro Brandão, que planta abacaxi em Nova Canaã. É a família toda envolvida. Meu pai trabalhava com a produção de abacaxi aqui na região, e hoje, meus irmãos e eu temos plantações também. Eles até carregam o próprio caminhão e vão vender em outros lugares, diz, com orgulho.
A identidade do abacaxi de Marataízes é tão forte, que a propaganda está na ponta da língua de muitos consumidores. Há quem diga que os produtores de outros municípios e até de outros Estados estão se apropriando da famosa frase: é doce, doce, doce, que parece que tem mel... só para conquistar os clientes.
Nós sabemos que há pessoas que vendem abacaxi falando que é de Marataízes, mas não é. Usam a propaganda para vender, por isso estamos realizando várias reuniões para conseguir registrar a nossa marca, explica Cremildo.
O registro que os produtores e a prefeitura estão buscando é a Indicação Geográfica (IG), que tem o objetivo de agregar valores de mercado, desenvolver um marketing efetivo e proteger a marca Abacaxi de Marataízes.
O IG é um certificado do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) - autarquia federal vinculada ao Ministério da Economia - dado a produtos ou a serviços que são característicos de determinado local, levando em consideração algumas particularidades do local de origem, como solo, clima, vegetação e conhecimento dos envolvidos, no caso, os produtores.
A produção de abacaxi de Marataízes chega a até cinco Estados no país, além de vários municípios no Espírito Santo. A prefeitura diz que, na maioria das vezes, o fruto é comercializado em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, região do Sul da Bahia e, ocasionalmente, no Distrito Federal.
Sobre a exportação do fruto para outros países, a prefeitura explica que o mercado consumidor nacional absorve toda a produção municipal e que, a variedade plantada em Marataízes o abacaxi Pérola - , não é a mais consumida pelo mercado internacional, onde o abacaxi Gold é o mais escolhido por ter um maior teor de acidez e elevado tempo de prateleira.
Apesar da história afetiva do abacaxi com o município de Marataízes e a boa aceitação do fruto entre os consumidores, a produção não é tão fácil. Os produtores têm enfrentado a cada ano, uma nova dificuldade para manter a lavoura sadia e rentável.
O alto custo dos produtos utilizados pelos agricultores e a falta de mão de obra estão entre os principais problemas. O preço do adubo que usamos está muito alto e torna a manutenção da propriedade muito cara, sendo que o preço do abacaxi nem sempre compensa todo este custo, explica Cremildo.
Sidney Brandão, que planta em Nova Canaã, também enfrenta os mesmos desafios para garantir uma boa colheita.
O produto que a gente usa como matéria-prima para adubar a terra custava uma média de R$ 60 há três anos e hoje está na média de
R$ 100. Mas o abacaxi eu já vendia a um R$ 1,80 há quatro anos, e o preço ainda é quase o mesmo, no ano passado, por exemplo, chegou a custar R$ 0,80.
Outro fator que influencia em todas as produções agrícolas é o clima. Mesmo o abacaxi sendo típico de regiões quentes, a instabilidade dos períodos de chuva interfere na qualidade e na quantidade do fruto.
A gente planta abacaxi entre janeiro e março para colher no ano seguinte, mas não tem como prever qual vai ser o resultado. Lembro que na época do meu pai, não era preciso cobrir as frutas com jornal, como fazemos hoje, por causa do calor. O clima está muito quente, observa Sidney.
Além desses problemas, o produtor ressalta que as lavouras estão sendo alvos de criminosos, principalmente em épocas de colheita.
Quando está perto de carregar o caminhão, eu contrato algumas pessoas para ficarem de plantão na plantação durante a noite e evitar que os ladrões cheguem e levem o abacaxi. Já fui furtado quatro vezes, lamenta Sidney.
Os municípios vizinhos, Presidente Kennedy e Itapemirim, são os próximos na lista de produção em todo o Estado. Presidente Kennedy é o segundo maior produtor de abacaxi do Espírito Santo e o 21º no Brasil. O IBGE divulgou que em 2018, mais de 17 milhões de abacaxis foram produzidos no município, totalizando um valor de mais de R$ 26 milhões.
Segundo a Prefeitura de Presidente Kennedy, uma média de 600 hectares são utilizados para plantar o fruto e, aproximadamente, 56 famílias trabalham na produção. Cerca de 400 caminhões saem carregados de abacaxis do município para distribuição. Itapemirim, que é o terceiro em produção no Estado e 69º no Brasil, produziu, de acordo com o IBGE, quase 3 milhões de frutos no ano passado, gerando um valor de produção de mais de R$ 4 milhões.
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