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Doce, doce, doce igual ao mel é o abacaxi de Marataízes, no Sul do ES

Doce, doce, doce igual ao mel é o abacaxi de Marataízes, no Sul do ES

Município é o maior produtor do fruto no Estado e tenta conseguir registro de Identidade Geográfica para "patentear" iguaria

Publicado em 10 de novembro de 2019 às 22:52

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Abacaxi de Marataízes, Sul do ES. (Léo di Maria e Giuly Ribeiro)

Não importa onde o capixaba esteja, se ele encontrar um abacaxi sendo comercializado ou servido, já vai associar ao município de Marataízes, que é o maior produtor do fruto no Espírito Santo e o 15º no país. E isso não é à toa, a cidade produz, anualmente, mais de 20 milhões de unidades de abacaxis.

O valor da produção em 2018 no município, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), superou o valor de R$ 36 milhões. A Prefeitura de Marataízes calcula que quase três mil hectares, ou seja, medida equivalente a três mil campos de futebol, são utilizados para a plantação do fruto.

Cultivar abacaxi no município é tradição que passa de geração em geração. De acordo com levantamento da cidade, a produção envolve cerca de 1.750 famílias e a média de colheita por produtor varia de 20 mil frutos até 1 milhão nas grandes propriedades.

Cremildo Marvila, que é produtor na localidade de Brejo dos Patos e presidente da Associação de Moradores e Agricultores Familiares de Marataízes, conta que a família é unida quando o assunto é o cultivo. “Aqui as crianças já nascem dentro da roça de abacaxi. Eu faço isso desde sempre, porque meu pai trabalhava com isso. Hoje, meus irmãos e eu, nos ajudamos, junto com os sobrinhos. Quando a colheita é aqui, eles vêm para cá, e quando é na roça deles, a gente ajuda lá.”

Quem também aprendeu a atividade com o pai é o Sidney Ribeiro Brandão, que planta abacaxi em Nova Canaã. “É a família toda envolvida. Meu pai trabalhava com a produção de abacaxi aqui na região, e hoje, meus irmãos e eu temos plantações também. Eles até carregam o próprio caminhão e vão vender em outros lugares”, diz, com orgulho.

REGISTRO

A identidade do abacaxi de Marataízes é tão forte, que a propaganda está na ponta da língua de muitos consumidores. Há quem diga que os produtores de outros municípios e até de outros Estados estão se apropriando da famosa frase: “é doce, doce, doce, que parece que tem mel...” só para conquistar os clientes.

“Nós sabemos que há pessoas que vendem abacaxi falando que é de Marataízes, mas não é. Usam a propaganda para vender, por isso estamos realizando várias reuniões para conseguir registrar a nossa marca”, explica Cremildo.

O registro que os produtores e a prefeitura estão buscando é a Indicação Geográfica (IG), que tem o objetivo de agregar valores de mercado, desenvolver um marketing efetivo e proteger a marca “Abacaxi de Marataízes”.

O IG é um certificado do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) - autarquia federal vinculada ao Ministério da Economia - dado a produtos ou a serviços que são característicos de determinado local, levando em consideração algumas particularidades do local de origem, como solo, clima, vegetação e conhecimento dos envolvidos, no caso, os produtores.

A produção de abacaxi de Marataízes chega a até cinco Estados no país, além de vários municípios no Espírito Santo. A prefeitura diz que, na maioria das vezes, o fruto é comercializado em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, região do Sul da Bahia e, ocasionalmente, no Distrito Federal.

Sobre a exportação do fruto para outros países, a prefeitura explica que o mercado consumidor nacional absorve toda a produção municipal e que, a variedade plantada em Marataízes – o abacaxi Pérola - , não é a mais consumida pelo mercado internacional, onde o abacaxi Gold é o mais escolhido por ter um maior teor de acidez e elevado tempo de prateleira.

ALTO CUSTO DE ADUBO E FALTA DE MÃO DE OBRA SÃO DESAFIOS

Plantação de Abacaxi em Marataízes, Sul do ES. (Léo di Maria e Giuly Ribeiro)

Apesar da história afetiva do abacaxi com o município de Marataízes e a boa aceitação do fruto entre os consumidores, a produção não é tão fácil. Os produtores têm enfrentado a cada ano, uma nova dificuldade para manter a lavoura sadia e rentável.

O alto custo dos produtos utilizados pelos agricultores e a falta de mão de obra estão entre os principais problemas. “O preço do adubo que usamos está muito alto e torna a manutenção da propriedade muito cara, sendo que o preço do abacaxi nem sempre compensa todo este custo”, explica Cremildo.

Sidney Brandão, que planta em Nova Canaã, também enfrenta os mesmos desafios para garantir uma boa colheita.

“O produto que a gente usa como matéria-prima para adubar a terra custava uma média de R$ 60 há três anos e hoje está na média de

R$ 100. Mas o abacaxi eu já vendia a um R$ 1,80 há quatro anos, e o preço ainda é quase o mesmo, no ano passado, por exemplo, chegou a custar R$ 0,80.”

Outro fator que influencia em todas as produções agrícolas é o clima. Mesmo o abacaxi sendo típico de regiões quentes, a instabilidade dos períodos de chuva interfere na qualidade e na quantidade do fruto.

“A gente planta abacaxi entre janeiro e março para colher no ano seguinte, mas não tem como prever qual vai ser o resultado. Lembro que na época do meu pai, não era preciso cobrir as frutas com jornal, como fazemos hoje, por causa do calor. O clima está muito quente”, observa Sidney.

Além desses problemas, o produtor ressalta que as lavouras estão sendo alvos de criminosos, principalmente em épocas de colheita.

“Quando está perto de carregar o caminhão, eu contrato algumas pessoas para ficarem de plantão na plantação durante a noite e evitar que os ladrões cheguem e levem o abacaxi. Já fui furtado quatro vezes”, lamenta Sidney.

Os municípios vizinhos, Presidente Kennedy e Itapemirim, são os próximos na lista de produção em todo o Estado. Presidente Kennedy é o segundo maior produtor de abacaxi do Espírito Santo e o 21º no Brasil. O IBGE divulgou que em 2018, mais de 17 milhões de abacaxis foram produzidos no município, totalizando um valor de mais de R$ 26 milhões.

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Segundo a Prefeitura de Presidente Kennedy, uma média de 600 hectares são utilizados para plantar o fruto e, aproximadamente, 56 famílias trabalham na produção. Cerca de 400 caminhões saem carregados de abacaxis do município para distribuição. Itapemirim, que é o terceiro em produção no Estado e 69º no Brasil, produziu, de acordo com o IBGE, quase 3 milhões de frutos no ano passado, gerando um valor de produção de mais de R$ 4 milhões.

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