Quando o assunto é ovo, o capixaba lembra logo de Santa Maria de Jetibá. Com 20 milhões de aves, o município da Região Serrana do Espírito Santo é o maior produtor de ovos do país. Mas nem só de ovo vive a “terra das galinhas”. Para além do alimento, o esterco produzido nas granjas também é importante para a economia local. O dejeto é utilizado pelos produtores rurais da região e também por fábricas de fertilizantes.
A qualidade do produto é garantida graças às granjas automatizadas. Tudo é feito por máquinas: desde o tratador de ração, passando pela coleta de ovos (transportados por esteiras) até a limpeza, com o esterco retirado automaticamente das esteiras. No processo, ninguém coloca a mão no esterco e nas aves, o que diminui a mão de obra e ajuda no controle sanitário do galpão.
Gerente de produção da granja Ovos Pommer, de Santa Maria de Jetibá, que produz 70 toneladas de esterco cru por dia, Dener Vieira Júnior afirma que o processo feito de forma automatizada ajuda na etapa de compostagem.
“Tem menor proliferação de moscas e você passa por um processo melhor de compostagem. Na máquina de compostagem, as fezes são misturadas ao pó de serra para diminuir a umidade do esterco, deixá-lo mais seco, no ponto de comercialização para facilitar para o produtor rural. Quanto mais tempo na composteira, melhor”, explica.
A máquina trabalha 24 horas por dia revirando o adubo. O esterco fica de 21 a 28 dias na compostagem, e só depois está pronto para ser comercializado.
“Aí ele fica seco, pronto para o consumo. A gente vende diretamente para o produtor e também para empresas de fertilizantes, que fazem o complemento necessário de acordo com a necessidade do produtor”, afirma o gerente de vendas Lenon Krauser.
O esterco é vendido em média por R$ 110 a tonelada. O preço varia de acordo com a distância da entrega e a quantidade comprada.
Cerca de 50% do esterco gerado na granja de Santa Maria de Jetibá vai para a fábrica de fertilizantes Natufert, em Ibatiba, no Sul do Estado. Lá, o material é transformado em adubo, que posteriormente será usado pelos produtores.
Na primeira etapa do processo, todo o produto que vem da granja é separado e colocado nas 13 baias de compostagem - cada uma com capacidade para armazenar 90 toneladas do composto - para começar a ser tratado.
“Iniciamos o nosso processo de tratamento para eliminar os patógenos, potencializando o composto orgânico e transformando, enfim, em um fertilizante de base orgânica”, comenta o diretor técnico da fábrica, Maurício Flávio de Carvalho Cota.
Depois que o composto adquire a temperatura e a umidade adequadas, o que pode demorar algumas semanas, ele é levado para a segunda fase do processo: o peneiramento. Após passar pela peneira, o composto sai farelado, o que já consiste em um tipo de adubo orgânico.
Mas há outras opções de adubo. Em uma delas, parte do produto é levado para a máquina de granulação e secagem, onde o composto entra em forma de pó e sai em formato de grãos. Depois, já pode ser ensacado ou seguir para a terceira etapa do processo, na qual é misturado com fontes minerais de nutrientes.
Na fábrica em Ibatiba, para onde parte do esterco produzido em Santa Maria de Jetibá é levado, são produzidas 40 mil toneladas de adubo orgânico por ano. Todo o processo de transformação em adubo passa por um controle intenso de qualidade.
“O controle de qualidade funciona desde o recebimento das matérias primas - todas passam pelo laboratório -, e durante todo o processo a gente faz amostragens e acompanhamentos, respeitando as exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)”, esclarece Hyasmim Cruz, analista de qualidade.
O diretor técnico da fábrica, Maurício Flávio de Carvalho Cota, explica que trata-se de um adubo ecologicamente correto e com melhor custo-benefício para o produtor rural.
“Ele diminui a acidez do solo, diminui a salinização e ainda ajuda a recompor a porção biológica dos solos. É agronomicamente eficaz, porque libera uma variedade de nutrientes muito grande e tem uma disponibilidade muito acentuada dos elementos. É economicamente eficaz também. O produtor que faz conta consegue perceber claramente o custo-benefício dos produtos com aumento de produtividade e rendimento das culturas”, garante.
Produtor de café com mais de 57 mil pés plantados em quase 40 hectares de terra, Célio Carvalho conhece bem os benefícios de utilizar o adubo orgânico feito a partir dos dejetos da avicultura. “Fiz metade com adubo mineral e metade com orgânico mineral. Na hora de ensacar o café, vi o rendimento no orgânico mineral mais do que o químico. Fica um café melhor, mais graúdo”, defende.
O esterco que não vai para a fábrica de fertilizantes é vendido diretamente para produtores rurais de hortaliças, mamão e café. Na década de 1960, o início das granjas em Santa Maria de Jetibá não se deu pela produção de ovos, mas sim pela produção de esterco. Era uma forma de resolver o problema dos produtores rurais da região. O esterco de galinha é rico em nutrientes, principalmente o nitrogênio. Depois de compostado, ajuda a reter a umidade do solo.
“É uma solução para a agricultura. Todo esse cinturão verde que nós vemos na Região Serrana do Estado, a produção de fruticultura, reflorestamento, café, toda a agricultura do Estado e até nas divisas do Espírito Santo, são abastecidas com adubo orgânico ou com esterco da avicultura”, conta Nélio Hand, diretor da Associação de Avicultores do Estado.
O Espírito Santo tem 235 avicultores, que geram, por mês, 50 mil toneladas de esterco. Hand explica que esse volume ainda não é um problema, mas há alternativas para o futuro.
“A desidratação do esterco, do dejeto da ave, seria uma boa alternativa. Você reduz o percentual de umidade de 70 para 15 a 20%. Outra opção, que já é utilizada por outras atividades aqui no Estado, é a bioenergia. Isso é uma tecnologia que ainda não é muito falada no Brasil, mas já existem plantas que estão testando esse tipo de biocombustível no Sul do país e em Minas Gerais”, explica.
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