> >
Lúpulo produzido no ES deixa fabricação de cerveja mais barata

Lúpulo produzido no ES deixa fabricação de cerveja mais barata

Plantações são resultados da inauguração do primeiro campo cervejeiro municipal experimental do país; pesquisadores também miram uso do lúpulo em chás, cosméticos e até em atividade contra células cancerígenas da mama

Publicado em 22 de outubro de 2023 às 14:50

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Lúpulo produzido em Viana (ES)
Lúpulo produzido em Viana (ES). (Reprodução/TV Gazeta)

André Perin resolveu aproveitar as terras do avô, que ficam em Lapinha, zona rural de Viana, na Região Metropolitana de Vitória, e dividir o espaço de produção de alface para apostar na produção de lúpulo e, assim, diversificar o cultivo da família. A iniciaitiva tem despertado interesse e é usada para fabricar cervejas artesanais. Além disso, pesquisados já miram novos usos para a planta, como chás e cosméticos.

Há poucos meses, numa área com menos de 400 metros quadrados, o jovem plantou 200 pés de lúpulo, um dos principais ingredientes para a fabricação de cerveja. A primeira colheita aconteceu no mês de setembro.

Aspas de citação

O resultado foi muito superior ao que a gente imaginava. Na primeira colheita, a gente estava esperando, em média, 300, 500 gramas de lúpulo por planta. Mas conseguimos tirar o triplo disso, até 1,5 kg por planta, o que é muito bom

André Perin
Produtor
Aspas de citação

Ele contou que foi um dos primeiros a entrar no projeto da Prefeitura de Viana, lançado em 2022, que investiu para transformar a cidade na "capital" do lúpulo do Espírito Santo, dando consultoria, mudas e insumos para os produtores agrícolas interessados.

Robertha Bragato é agrônoma e subsecretária de agroecologia e produção orgânica do município. É ela quem presta assistência técnica aos produtores rurais do município que toparam experimentar o cultivo.

Ela explicou que, em campo aberto, com máxima exposição de luz solar, o lúpulo consegue ter uma alta produtividade em uma pequena área, o que ajuda na decisão do produtor que resolve diversificar e entrar no projeto.

Estacas de eucalipto e luz artificial

O lúpulo é uma planta nativa do Hemisfério Norte e cresce em forma de trepadeira. Por essa característica, precisa de estacas para se prender durante o seu crescimento.

Nas propriedades de Viana, "as estacas são feitas de eucalipto de sete metros, sendo que seis ficam acima do solo. Nesses eucaliptos, a planta sobe, consegue fazer a condução e a floração e, posteriormente, os cones da produção", detalha Robertha.

Lúpulo produzido em Viana (ES)
Lúpulo produzido em Viana (ES). (Reprodução/TV Gazeta)

A produção do lúpulo é toda orgânica e não existem muitas ameaças de pragas. Mas isso não significa que a plantação não precisa de cuidados especiais. Desde as primeiras e mais antigas produções do mundo, o lúpulo é mais utilizado em regiões da linha do equador e do Hemisfério Norte, por causa do cumprimento de horas de luz em um dia.

"O que o lúpulo precisa é de muita luz. No Brasil, temos cerca de 10 a 12 horas de luz em um dia, dependendo da estação do ano. O que fazemos em algumas regiões é suplementar as plantas com horas de luz, com a utilização de lâmpadas. São cerca de 3 a 4 horas a mais de luz colocada à noite para ter uma produção de alta qualidade", finalizou Roberta.

Pesquisadores exploram as propriedades do lúpulo

O cultivo de lúpulo na zona rural de Viana faz parte de um projeto que começou no ano passado, com o objetivo de transformar o município no primeiro polo cervejeiro público do país.

Em janeiro de 2022, a prefeitura implementou o primeiro campo de lúpulo experimental municipal do país e fez experimentos com sete variedades da planta, que foram sendo multiplicadas até começarem a ser distribuídas para os produtores agrícolas.

Paralelamente, começou também um outro braço do projeto que é o de pesquisa. O lúpulo passou a ser estudado e analisado nos laboratórios do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus de Vila Velha.

Lúpulo produzido em Viana (ES)
Lúpulo produzido em Viana (ES). (Reprodução/TV Gazeta)

De acordo com Juliano Souza Ribeiro, doutor em Química e professor do instituto, os resultados até agora são muito satisfatórios. "Quando a gente começou a trabalhar, a olhar para o lúpulo, tudo era difícil, pois se tratava de uma planta que não era conhecida, pois até então ela só era importada. Então, começamos o trabalho com análises extremamente básicas".

Primeiro, o lúpulo foi pensado relacionado à cerveja. "Tínhamos duas grandes duas propriedades para serem analisadas: uma é o quanto ele trazia de amargor e, a outra, é o quanto os óleos essenciais dele traziam de frescor", explicou Juliano.

Entretanto, como existem campos dentro do Ifes voltados para questões químicas e de saúde, com o passar dos meses, os pesquisadores conseguiram levar a planta para outros níveis de pesquisa. "Começamos vendo que ela tinha atividade antioxidante, relacionada com o atraso do envelhecimento celular", destacou.

Aspas de citação

Seguimos fazendo estudos desde os micros até os macronutrientes do lúpulo, e agora temos estudos, por exemplo, ainda com resultado preliminar, que mostram que o extrato de lúpulo teve atividade contra células cancerígenas da mama

Nome do Autor da Citação
Cargo do Autor
Aspas de citação

"Então, o lúpulo não só ficou para essa parte da cerveja, mas estamos tentando levá-lo para outros níveis, como fármacos, chás e cosméticos", afirma Juliano.

Cerveja produzida em Viana

Uma nova parte do projeto também já está se tornando realidade. Além da produção, das análises e dos benefícios descobertos, o lúpulo de Viana já está virando cerveja. A primeira produção foi agora no mês de agosto.

Por enquanto, são três cervejarias utilizando o lúpulo produzido no município e a prefeitura já cadastrou 25 novos agricultores interessados no cultivo da planta, que devem ganhar mudas e insumos, sem custo. É assim que o polo cervejeiro tem se consolidado.

A maior parte das cervejarias importa o lúpulo de outros países, por isso a produção local pode reduzir o custo da produção da bebida no município.

Lúpulo produzido em Viana ajuda a baratear a produção de cerveja no ES
Lúpulo produzido em Viana ajuda a baratear a produção de cerveja no ES. (Reprodução/TV Gazeta)

O prefeito de Viana, Wanderson Bueno, comemora os resultados. "Já temos uma ótima experiência da primeira colheita, feita com grande sucesso. Já produzimos cerveja genuína produzida do município. E também estamos fazendo a expansão para outros campos em outras propriedades".

Stefano Lombardi é proprietário de uma das cervejarias que está utilizando o lúpulo de Viana. Ele possui dez tanques, que produzem 12 mil litros de cervejas, de dez estilos diferentes, por mês. Dois desses tipos da bebida, são fabricados com o lúpulo local.

"Fizemos testes com lúpulo colhido a 100 metros da cervejaria, levado para fervura no dia da colheita. O resultado foi muito melhor do que esperava, e a aceitação do público maravilhosa. O processo trouxe uma refrescância, um sabor mentolado e também a característica de cerveja feita como antigamente", comemora Stefano.

Francisco Sizino, secretário executivo do polo cervejeiro, também está pensando positivo com os resultados.

"Para se ter uma ideia, até o final do ano teremos dez campos de lúpulo instalados em Viana. Até o primeiro semestre de 2024, serão 20. Sairemos de uma produção prevista de 2 toneladas, para 4 toneladas de lúpulo. Vamos desenvolver o campo, potencializar o turismo de experiência e fazer do município a capital do lúpulo do Estado", finalizou.

Com informações de Ana Elisa Bassi, do g1ES, e Paulo Ricardo Sobral, da TV Gazeta

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais