Os campos floridos viraram sinal de prejuízo para produtores do Espírito Santo. Quem plantava flores para corte - como rosas, copo de leite, gérbera e flores tropicais - perdeu grande parte da produção. Em alguns casos foi preciso jogar a produção fora porque não tinha para quem vender. O cancelamento de eventos, fechamento de igrejas, lojas e feiras fez com que os pedidos fossem paralisados e alguns floricultores ficaram quase sem renda.
No Espírito Santo, 17 municípios se destacam pela produção de flores, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa e Assistência Rural (Incaper). Além disso, a atividade gera mais de 8 mil empregos em toda a cadeia produtiva.
Dados do último Censo Agropecuário do IBGE, de 2017, mostram que o Estado tem 1,2 mil hectares (o equivalente a 1,2 mil campos de futebol) com flores, estufas e casas de vegetação divididos em 489 propriedades. Estima-se ainda que o valor de comercialização da produção estadual seja de R$ 28 milhões.
Em todo o Brasil são 16,4 mil estabelecimentos produzindo flores e demais plantas ornamentais. Somados, eles representam R$ 1,7 bilhão. Além disso, a cadeia produtiva movimenta R$ 8,27 bilhões por ano no país e gera 210 mil empregos diretos e mais de 800 mil indiretos.
Há pouco mais de três anos, o plantio de flores ganhou mais espaço em meio ao cafezal da família de Danieli Beccalli, 45 anos, localizado em Itarana, Noroeste do Espírito Santo. A cafeicultura perdeu o título de carro-chefe da propriedade para as rosas.
Tudo ia bem, eram mais de 2,7 mil roseiras e diversos outros tipos de plantas de ornamentação: rosa do deserto, suculentas e begônias divididas em quatro estufas de flores com 4 mil vasos cada. Porém, a chegada do coronavírus fez as vendas despencarem quase 90%.
Danieli também comenta que quem permaneceu cuidando da plantação perdeu ainda mais por causa do frio que chegou na última semana. O sereno da madrugada e o frio fazem as flores "queimarem". "Teve produtor na região que passou o trator em cima do plantio de raiva", disse.
Quem está em situação parecida com a de Danieli é a produtora Laura Faria Fernandes, de 79 anos. No interior do município de Guaçuí, ela produz copo de leite, antúrio, flores tropicais entre outras plantas. No começo do ano, viu as leiras de flores serem levadas pelas chuvas e agora corre o risco de perder o que sobrou por não ter a quem vender.
"Agora que a produção está voltando, não tenho venda. O copo de leite começa a produção ainda neste mês e vai até novembro, mas quase não tem comprador. A maior venda que espero ter é em finados (2 de novembro). Já a última venda que tive foi a do dia das mães, que foi pouco mais de R$ 200", lamenta.
Ela afirma mexer com flores desde que ficou viúva, há quase 25 anos, e se mudou para o interior do município. Como planta quase tudo que vai para a mesa, as despesas com alimentação são pequenas. "Eu ainda o tenho café, que meu menino toma conta, bordo para fora e recebo minha aposentadoria", conta.
Laura e outros 15 floricultores fazem parte da Associação de Produtores de Plantas Ornamentais da Região Sul e Caparaó (Sulcaflor), espalhada em seis municípios do Estado. Por mês, os produtores estão deixando de colher mais de 3 mil flores.
De acordo com o floricultor e presidente da Sulcaflor, Clemilson César Barbosa, nos últimos 30 dias a comercialização do setor caiu 80%. "Na véspera do Dia das Mães começamos a fazer um trabalho de divulgação e começou a voltar o consumo de flores. Mesmo assim ainda temos uma queda de 60%", conta.
Segundo Clemilson, a renda media dos produtores varia de um a quatro salários mínimos. Com a queda das vendas, quem ganhava R$ 4 mil, por exemplo, está tendo que viver com R$ 800. Já quem recebia um salário, com apenas R$ 200.
Apesar da perspectiva ruim de vendas, Clemilson acredita que essa pode ser uma oportunidade para os produtores locais. Devido à pandemia, as flores que vêm de outros Estados têm dificuldade de chegar aqui. Com isso, há a possibilidade da produção local ocupar o mercado atendido pelos produtores de outros Estados.
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