A colheita do café está se encaminhando para a sua reta final. A partir do próximo mês, devem ser colhidos os frutos que chegaram ao ponto mais tardiamente, menos de 5% da produção. O que anima os produtores é o fato dos grãos produzidos em solo capixaba estarem mostrando qualidade e garantindo melhor remuneração do que nos anos anteriores. Tudo isso, mesmo em meio à crise causada pela pandemia do novo coronavírus.
O extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Fabiano Tristão Alixandre aponta que, em 2020, a estimativa é que o Estado colha entre 5 milhões de sacas de 60 kg de arábica e 8 milhões de sacas do conilon. Sendo que, desse total, 2,5 milhões de sacas devem ser apenas de cafés superiores a 80 pontos, os famosos cafés especiais.
"Até 1997, o Espírito Santo era conhecido no mundo todo como o patinho feio na qualidade do café produzido. De lá para cá, muita coisa evoluiu. Foi implantado o programa de produção de cafés especiais pelo governo estadual, cooperativas e setor privado. Ele contemplou a realização de cursos, implantação de tecnologias e pesquisas para mostrar que o Estado poderia ter café especial", lembra.
Os cafés especiais representam melhor remuneração para o cafeicultor. O extensionista explica que uma saca dessas é vendida, em média, R$ 200 mais cara do que uma de bebida tradicional. Dessa forma, os produtores receberiam cerca de R$ 500 milhões a mais por comercializar esse produto. Há ainda sacas que, em leilões, chegam a valer milhares de reais. Isso aconteceu no interior de Minas Gerais, em 2018 (R$ 55 mil), e no Espírito Santo um ano antes (R$ 39 mil).
As projeções de produção do Incaper estão próximas às da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgadas em janeiro. Na ocasião, ela indicou uma produção entre 9,01 milhões e 10,67 milhões de sacas de conilon e entre 4,01 milhões e 4,77 milhões de sacas do arábica para 2020. Com isso, a produção total deve girar entre 13,02 milhões e 15,44 milhões de sacas no Estado.
Caso as previsões das instituições se concretizem, a produção de arábica neste ano pode superar o recorde histórico de 2018, quando o Espírito Santo colheu cerca de 4,7 milhões de sacas da variedade, maior número registrado. Devido à bienalidade positiva, a safra dele deve ser 58,7% a mais do que a de 2019.
Segundo estatísticas do IBGE, o país deve produzir 68 milhões de sacas de café neste ano. De acordo com a revista Safras e Mercado, a comercialização da safra 2020/21 está adiantada e já tinha alcançado 40% até a primeira semana de julho. A média para o mesmo período é de 30%.
O Estado passou por anos difíceis para a produção agropecuária. A seca de 2013, que se estendeu por mais dois anos, além de outros fatores climáticos desanimaram o produtor.
A cafeicultura é a principal atividade agrícola do Espírito Santo. Ela é desenvolvida em todos os municípios capixabas, exceto na Capital, Vitória, e está presente em 60 mil das 90 mil propriedades agrícolas do Estado. De acordo com o Incaper, ela é a responsável por cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos no Estado.
"Além do valor agregado que o café especial tem no mercado, o cliente exige do produtor que está nesse mercado sustentabilidade e cuidado ambiental e social. Isso gera transformação no campo, com as pessoas pensando em preservar e o que podem fazer para melhorar seu entorno", comenta Fabiano.
O café capixaba conquistou o carinho e o respeito do mercado international na última década. De janeiro a junho deste ano, o Estado exportou 2,78 milhões de sacas de café. O número representa uma receita de R$ 243,6 milhões. Já no ano passado, foram comercializadas 5,7 milhões de sacas, o que representou R$ 535,1 milhões. Ainda não há um dado específico de quanto desses grãos eram de café especial.
Os dados do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV) ainda mostram que o volume de embarques do ano passado foi o melhor desde 2015, quando foram 6,4 milhões de sacas vendidas ao comércio exterior.
Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente do CCCV, Marcio Candido Ferreira, explicou que neste ano as exportações estão sendo significativas. "Em junho, chegamos ao recorde histórico de embarques de café no Porto de Vitória, com 600 mil a 634 mil sacas de café conilon, ante 500 mil sacas mês anterior, disse.
Um levantamento realizado pelo Incaper em fevereiro de 2019 apontou que o Estado, naquele período, tinha mais de 600 minitorrefarias. Segundo o instituto, neste ano, o número já deve estar bem maior.
Mas, além de torrar o café na propriedade, os cafeicultores também estão abrindo cafeterias. Esse é o caso do Mário José Zardo, 36 anos.
A família dele produz café arábica na região do Alto Caxixe, em Venda Nova do Imigrante, Região Serrana do Estado. Ele trabalha com cafés especiais há 11 anos, mas há apenas 4 meses decidiu abrir uma cafeteria em Vitória.
Mário José conta que a produção da propriedade ainda é pequena, de 100 a 150 sacas por ano. Ele também compra café de outros produtores do Estado, entre 5 e 6 toneladas por mês, para fazer a torrefação. "Enviamos café para o Brasil todo. Recebemos pedidos pelo nosso e-commerce", explica.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta