As águas do Espírito Santo movimentam também a economia. Banhado pelo mar e por rios e lagoas, o Estado tem muito potencial para a atividade de pesca e aquicultura. Com isso, diversas regiões, que se transformaram em polos pesqueiros, contribuem também para pesquisas que visam à melhoria da atividade em todo o Brasil.
O setor capixaba produziu, em 2022, cerca de 4,2 mil toneladas de peixes, crustáceos e moluscos, gerando renda direta de R$ 45 milhões aos pescadores, segundo dados do Programa de Monitoramento e Atividade Pesqueira (PMAP), realizado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pelo Instituto de Pesca de São Paulo.
Em relação à aquicultura, no último ano, 17,9 mil toneladas de peixes cultivados foram produzidos nas cidades capixabas, ocupando o 17° lugar no ranking nacional. Os dados são da organização PeixeBR, que reúne associações do Brasil que atuam na piscicultura.
Produtores locais exportaram 1,1 mil toneladas de pescado em 2022, especialmente para Europa e Estados Unidos, somando US$ 10,8 milhões.
Segundo a Secretaria Federal de Pesca e Aquicultura, no Espírito Santo, em 2020, existiam 19,7 mil pescadores cadastrados no Ministério da Pesca e Aquicultura. No entanto, muitas pessoas que atuam na cadeia produtiva, incluindo pescadores de subsistência, não estão cadastradas. Dessa forma, o número pode ser maior.
Aldinei Freire, de 52 anos, é morador de Piúma, no Sul do Estado, e pescador há mais de 30 anos. Ele começou como motorista, levando peixe para o Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, além de municípios capixabas, como Conceição da Barra e Guarapari. Atualmente, também é proprietário de uma peixaria e observa que o setor está mudando ao longo dos anos.
Outro avanço significativo para os pescadores de Piúma foi a resolução de um problema que prejudicava a região há 50 anos. Os restos de pescados, que antes eram descartados de forma irregular no rio da cidade, passaram a ser recolhidos nas peixarias para serem transformados em insumos como farinha e óleo para ração animal.
“Antes, a víscera de peixe que sobrava nas peixarias ia para o rio e isso causava mau cheiro nas redondezas e na cidade. Agora, tem um rapaz que passa recolhendo as vísceras e leva para fazer ração. Além disso, está proibido jogar restos no rio, que já não sofre mais com esse crime ambiental que o assoreava”, completa o pescador.
A iniciativa ocorre por meio de uma parceria com a Prefeitura de Piúma. Uma empresa, selecionada por um chamamento público, passou a coletar os restos de peixes diariamente em 26 peixarias do município. O material é levado para um frigorífico da região e, três vezes por semana, retirado por uma empresa de Alfredo Chaves, na Região Serrana.
De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as espécies de pescados sem valor comercial costumam ser devolvidas mortas ao mar, após o processo de seleção das capturas no convés das embarcações.
Já os descartes de espécies, causados pela pesca com redes de arrasto de fundo, são um problema de escala global. Os rejeitos de organismos mortos despejados no mar são resultado de práticas de pesca pouco seletivas.
Em resposta a esse desafio destacado pela FAO, o governo do Espírito Santo, através da Secretaria de Agricultura e Pesca (Seag) juntamente com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Campus Piúma, por meio do projeto Pescamares, está realizando testes experimentais das adaptações tecnológicas que buscam proporcionar maior seletividade às redes de arrasto.
“Ao trazermos o conceito de inovação na pesca capixaba, proporcionamos conexão tecnológica à sustentabilidade. O eixo Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca sem precedentes contribui como um segmento estratégico de desenvolvimento produtivo sustentável para a segurança alimentar e nutricional, além de manter o emprego e a renda nas comunidades pesqueiras tradicionais”, destaca o engenheiro de pesca e docente do Ifes, Victor Hugo da Silva Valério.
A iniciativa também é inovadora ao incluir o conhecimento tradicional dos pescadores de forma participativa, segundo o coordenador de Pesca, Aquicultura e Produção Animal da Seag, Alejandro García Prado.
“O diálogo entre o setor produtivo e os demais órgãos fortalece a construção de políticas públicas a longo prazo e contribuirá com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 (ODS 14) estabelecido pelas Nações Unidas”, ressalta Alejandro.
Os resultados do projeto contribuirão para o processo de governança, pois complementarão o Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (Pedeag 4 - 2023/2032) no eixo da pesca.
O projeto Aquicultura Familiar, desenvolvido pela Seag e pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e executado pelo Incaper e pela Prefeitura de Montanha, no Norte do Estado, implementa tanques-redes para produção de tilápias, apoiados em píeres flutuantes, em quatro represas do município.
Oito famílias, todas de assentamentos, estão sendo beneficiadas. O objetivo é incentivar a piscicultura e a aquicultura familiar, com ênfase na gestão feminina, para favorecer a inserção da mulher na atividade.
Este texto informava erroneamente que o Espírito Santo produzia 4,2 toneladas de peixes pescados. Na verdade, são 4,2 mil toneladas de peixes, crustáceos e moluscos. A informação foi corrigida.
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