A celulose é o segundo produto do agronegócio no Espírito Santo mais exportado, ficando atrás apenas do café. Das florestas plantadas para produzir a matéria-prima do papel, 94% das áreas são compostas por eucalipto, árvore que, no Brasil, é a principal fonte para a fabricação desse importante insumo.
Mas o setor de celulose abriu portas para a silvicultura ir para outros mercados. A atividade tem permitido ao Estado tornar-se provedor de madeira para produção de energia, para atender a construção civil e o setor moveleiro.
Além disso, é relevante para os dois produtos do agro mais exportados por portos capixabas. No caso do café, contribui para a secagem dos grãos por meio da madeira. Já na cultura da pimenta-do-reino, troncos de eucalipto são usados para ajudar no crescimento e na proteção térmica da planta.
Por ser muito versátil e tão imprescindível para a economia capixaba, o setor florestal tem recebido a missão de atuar de forma sustentável. É o que afirma o subsecretário de Estado de Desenvolvimento Rural, Michel Tesch.
“A produção com foco em sustentabilidade é um caminho sem volta. Ela é exigida em todas as cadeias produtivas, hoje em dia. Os consumidores têm apontado isso para qualquer que seja o produto. E essas florestas plantadas cumprem um papel essencial porque são feitas em locais de pastagens degradadas, por exemplo; não entram em terras de florestas nativas; e são implantadas fora de áreas de preservação permanente”, observa o subsecretário.
O eucalipto, segundo Tesch, armazena grande quantidade de CO2, contribuindo para a redução dos gases de efeito estufa. “O eucalipto permite uma melhor infiltração de água no solo, armazena o carbono e é uma fonte renovável de energia”, enfatiza.
Em expansão, a cadeia produtiva da celulose no Espírito Santo gera 15.500 empregos diretos. “É um setor estratégico importante na nossa pauta de vendas para o exterior. Em 2023, fechamos o ano com US$ 2,1 bilhões em exportações do agro, e US$ 775 milhões foram da celulose”, afirma Tesch.
No Espírito Santo, o órgão responsável pelo licenciamento desses projetos é Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf).
De acordo com o diretor-geral, Leonardo Monteiro, o órgão analisa o projeto para verificar se está adequado às legislação atuais.
As florestas plantadas têm importância, inclusive, para a redução da pressão sobre as matas nativas. O engenheiro florestal e doutor em ciência florestal Luiz Fernando Schettino explica que as fábricas de celulose produzem um subproduto no processo chamado lixívia, que é um líquido escuro do cozimento da madeira. No processo, componentes indesejáveis na celulose são removidos. Esse elemento tem alto poder calorífico, sendo uma importante fonte de energia renovável.
“As práticas sustentáveis na produção de celulose ajudam a reduzir emissões de CO2, gás de efeito estufa, e diminui a necessidade de uso de energia de origem fóssil. Garantem, aliadas a tecnologias inovadoras e sistemas integrados, aumento de produtividade com responsabilidade socioambiental no plantio e no manejo”, comenta.
Segundo ele, educação ambiental desempenha um papel crucial. “Promove o engajamento dos profissionais e das comunidades, incentivando a conservação das áreas naturais e a busca pela qualidade de vida. Garante ainda a inclusão social e o desenvolvimento econômico de uma região”, acrescenta.
Grandes empresas estão desenvolvendo ações e programas para neutralização do carbono. Na Suzano, maior produtora mundial de celulose a partir de eucalipto, faz parte das metas a remoção de mais 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera até 2025.
“Produzir de forma sustentável é essencial por diversos motivos, como a conservação ambiental, a redução de impactos ambientais e a responsabilidade social”, pontua a empresa, ao acrescentar que a proposta é promover melhorias e o bem-estar das comunidades locais, visando ao desenvolvimento econômico e à redução da pobreza.
A empresa também está atualmente em fase de construção de uma nova fábrica de papel tissue em Aracruz, com previsão para iniciar as operações em 2025.
O pesquisador Pedro Galvêas, especialista da Embrapa Florestas lotado no Incaper, explica que o Espírito Santo tem o plantio de espécies nativas, como o pau-brasil e a seringueira. Mas a celulose, principalmente, demanda muita madeira. Diante disso, o governo está trabalhando no Plano de Desenvolvimento Florestal. “A ideia é que o Estado se torne autossuficiente no consumo da madeira. Hoje, nós precisaríamos plantar, ou seja, expandir as florestas em mais 155 mil hectares de eucalipto e em 7 mil hectares de pinus para atender o mercado”, analisa.
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