A produção de azeitonas que era uma grande aposta para 2024 em Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo, não vingou e frustrou os produtores. Pesquisadores vão investigar o que pode ter acontecido e o que fazer para continuar o cultivo. Enquanto isso, a fábrica de azeites inaugurada há cerca de dois meses pelo governo do Estado, em parceria com a prefeitura local, está parada.
O produtor rural Ricardo Serro foi um dos pioneiros no cultivo de oliveiras na região. A maior parte da sua lavoura é de plantação de café, mas há dois anos ele decidiu diversificar a produção e apostou nas azeitonas, com foco no produto final, o azeite.
Entretanto, após dois anos de crescimento animador, em 2024, a produção ficou zerada, não só em suas terras, mas como em todo o município.
“A gente está em uma localidade apta para esse tipo de cultura, que é uma cultura que tem um valor agregado grande no azeite e, por isso, resolvi investir. Atualmente, são 500 pés. Com a primeira colheita em 2022, produzi 7kg de azeitonas; em 2023, foram 15 kg; mas, este ano, nem teve colheita”, conta Ricardo.
De acordo com Ricardo, a florada foi muito bonita, o que elevou as expectativas, mas os pés não se desenvolveram.
“A gente até pensou numa produtividade bastante boa, só que a gente teve um pegamento irrisório dos frutos, muita perda mesmo. Isso levou a gente a buscar tecnologia e pesquisa para ajudar a entender o que está acontecendo”, explica.
Em todo o Estado, a produção de azeitona também registrou queda. Em 2023, superou 1 tonelada (1.112kg) e 114 litros de azeite. Já em 2024, caiu pela metade, rendendo apenas 665 kg de azeitonas e 63 litros de azeite, que foram produzidos em Domingos Martins.
De acordo com especialistas, o mau desempenho deste ano e os resultados tímidos dos anos anteriores podem estar relacionados à falta de experiência com esse plantio e questões climáticas.
A extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Ranusa Coffler explicou que a azeitona tem como especificidade a polinização cruzada.
“A gente precisa que uma variedade de oliveiras polinize a outra, para que tenhamos mais produtividade. Então, a gente precisa de um detalhamento melhor de pesquisa para conseguirmos entender realmente se as variedades que foram plantadas como polinizadoras estão cumprindo o seu papel e polinizando umas às outras”, afirma Ranusa.
A extensionista também lembra de como é fundamental estar atento à fertilidade do solo.
“Nós seguimos algumas recomendações de outros Estados produtores, como Minas Gerais, e a gente percebe que precisa avançar na questão nutricional, de correção e nutrição do solo”, disse Ranusa.
Em fevereiro de 2024, foi inaugurada em Santa Teresa a Fábrica de Azeite do Lagar, a primeira do Estado para o uso coletivo na produção de azeite. A capacidade de processamento dessa nova agroindústria é de 100 kg de azeitona por hora.
A fábrica de azeite para uso coletivo é uma iniciativa pioneira também no Brasil. A expectativa dos produtores estava elevada, mas, com a produção em baixa, a fábrica não está sendo utilizada.
“Chegamos a um modelo interessante, que é um equipamento de 100 kg/h. Trata-se de uma agroindústria de caráter coletivo, novidade até no Brasil. Isso porque as indústrias hoje no país são particulares. Mas esse modelo veio para atender todos os produtores que tenham necessidade. É um modelo nosso, desde o início do projeto a gente visualizou que fosse dessa forma”, explica Ranusa.
Para a instalação da fábrica, foram investidos cerca de R$ 600 mil para a aquisição de equipamentos utilizados na fabricação do azeite.
Na ocasião, o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli, afirmou que o espaço iria atrelar o agroturismo e a geração de renda para os produtores locais.
“Dos 300 hectares de áreas plantadas de azeitona no Estado, cerca de 100 hectares estão aqui em Santa Teresa. A expectativa é criar oportunidade para o aumento da produtividade e rentabilidade do produtor rural, agregando valor, conhecimento e o uso de novas tecnologias para atender à demanda com as oliveiras”, observa o secretário.
Apesar da baixa, os produtores querem seguir com o cultivo, mas para isso buscam apoio.
“A intenção é perseverar! Essa é uma cultura pioneira e, como todo pioneirismo, vem também com o ineditismo. A gente precisa de ajuda para entender o que houve e atravessar esse momento”, destaca Ricardo.
De acordo com o Incaper, novas pesquisas serão feitas sobre o cultivo, quando servidores que passaram no último concurso para o instituto assumirem os seus cargos.
“Há uma promessa da diretoria do instituto de que exista um fisiologista, alguém que possa estar apoiando especificamente nos estudos em olivicultura”, aponta Ranusa.
A cultura da olivicultura tem crescido no Estado e o azeite capixaba começa a ganhar reconhecimento pela qualidade, tanto em nível nacional quanto internacional.
Atualmente, o Espírito Santo tem, aproximadamente, 300 hectares de área plantada de azeitona, envolvendo cerca de 130 produtores, com abrangência em 17 municípios dos 23 da Região Serrana vocacionados para o desenvolvimento da atividade.
O foco do projeto é a produção de azeite extravirgem de baixa acidez, visando à expressão da qualidade superior do produto.
O primeiro azeite capixaba de caráter experimental proveniente da Unidade de Observação foi produzido no ano de 2018 e, em 2021, foi extraído o primeiro azeite extravirgem dos plantios comerciais e o processamento já foi realizado em terras capixabas.
O Estado já conta com seis marcas de azeites extravirgem, com aroma e sabor diferenciados, genuinamente capixabas.
"Apoiamos o desenvolvimento da olivicultura desde o início da introdução dessa atividade no Espírito Santo. Vamos seguir trabalhando para ampliar esse suporte aos produtores, principalmente na área de pesquisa, para indicação de variedades de oliveiras mais resistentes a pragas e que se adaptem melhor às regiões produtoras do Estado”, afirma o diretor-presidente do Incaper, Franco Fiorot.
Informações e reportagem por G1 ES
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