Qual a relação entre a Bolívia e o município de Itarana, no Noroeste do Espírito Santo? Quem ouve a pergunta pela primeira vez pode achar até estranha, mas a pequena cidade capixaba carrega uma ligação com o país sul-americano, mais especificamente no agronegócio.
Trata-se de um sabor que faz muito sucesso com os bolivianos que também caiu no gosto dos capixabas e está ganhando destaque na agricultura itaranense.
Cerca de trinta anos atrás, um morador de Itarana voltou da Bolívia com cinco sementes de uma fruta originária do país e plantou em terras capixabas. Era uma fruta agridoce, com sabor que lembra o mangostão, e fácil de abrir, mas de nome difícil: achachairu.
A fruta nativa da Amazônia boliviana tem um parentesco com o bacupari brasileiro, porém com um teor de polpa e peso maiores, além de uma produção mais elevada que o parente. O fruto é rico em potássio, vitamina C e ácido fólico.
Em Itarana, aos poucos a fruta foi sendo levada para outras propriedades e se tornando conhecida para os 10 mil itaranenses. Apesar disso, a produção na cidade capixaba era pequena, apenas para o consumo dos apreciadores do achachairu.
De uns anos para cá, alguns familiares daquele morador que trouxe as primeiras sementes resolveram apostar no potencial econômico da fruta e produzir o achachairu em escala comercial.
Sem saber se a fruta teria essa aceitação no mercado, os produtores fizeram as mudas e plantaram junto com uma cultura muito familiar aos capixabas: o café. E essa dobradinha do Espírito Santo com a Bolívia funcionou.
Dos 800 pés plantados na época, 600 estão em plena produção. A primeira colheita foi em 2020 e resultou em três toneladas. A expectativa é de que neste ano a produção seja até três vezes maior.
Segundo o produtor capixaba, até hoje os pés de achachairu não receberam nenhum trato especial. Mas diante da valorização da fruta e da expansão da área, os planos também estabelecem um investimento nessa área. “A cada ano a gente vai se adaptando e aprendendo com os nossos erros, já que não existe muita literatura sobre o fruto. A partir do próximo ano a gente pretende ter o acompanhamento de um agrônomo para aumentar esse potencial de produção da planta”, contou Abel.
Segundo o produtor, o achachairu deve ser colhido no exato momento em que está no ponto para o consumo. Ao contrário dos frutos de outras espécies, que continuam amadurecendo após a colheita, uma vez retirado do pé, ele mantém seu estado inalterado, permanecendo bom para o consumo por até 15 dias.
Da propriedade da família no interior de Itarana, a produção vai para supermercados e estabelecimentos da Grande Vitória. Para garantir a qualidade do fruto, os produtores se encarregam de todo processo até a entrega. Da lavoura, as frutas são levadas para um espaço, onde são selecionadas, pesadas e embaladas.
O achachairu tem conquistado cada vez mais o paladar dos capixabas. Por isso, o fruto é bem valorizado no mercado. Segundo Abel, em um ano o preço da fruta dobrou. Para o consumidor final, o valor passa de R$ 20 o quilo.
O negócio deu tão certo que o produtor vai ampliar a área de produção. “A gente já está no preparo de uma área para plantar no final deste ano. Vamos ampliar nosso pomar para 2 mil pés produtivos, além dos 600 que nós temos atualmente”, disse empolgado.
Com aumento na produção e preço atrativo, não são só os paladares capixabas que a fruta produzida em Itarana vai conquistar. A família também vai vender para fora do estado. O achachairu do Espírito Santo vai chegar em São Paulo e será distribuído na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
Esse sucesso na produção também está influenciando outras pessoas no município. Além da família de Abel, outros produtores de Itarana estão começando a trabalhar com a fruta de origem boliviana.
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