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Robôs e inteligência artificial são aliados na produção de alimentos no ES

Robôs e inteligência artificial são aliados na produção de alimentos no ES

Robôs, internet das coisas e uso do big data vão além do modismo e podem decidir sobrevivência de negócios rurais nesta era cada vez mais digital

Publicado em 19 de agosto de 2023 às 08:23

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Robôs otimizam a produção no campo, impulsionando a agricultura de precisão e garantindo maior eficiência
Robôs otimizam a produção no campo, impulsionando a agricultura de precisão e garantindo maior eficiência. (Shutterstock)

A capacidade das máquinas de replicarem habilidades humanas para desempenharem tarefas tem impactado o trabalho dos produtores rurais. A intenção é não só tornar a produção mais ágil, mas também garantir segurança, sustentabilidade e, principalmente, precisão. O secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli, aponta que a inteligência artificial (IA), associada ao big data e à internet das coisas, representa o futuro do agronegócio.

“Não é modismo. A agricultura de precisão, pautada em inteligência artificial, é a que vai garantir a permanência dos agricultores no mercado, porque o mundo é uma aldeia global extremamente competitiva. Quem utilizar melhor essas ferramentas terá mais produtividade e conseguirá melhorar o custo unitário de produção.”

A tecnologia de ponta é usada tanto para aprimorar equipamentos já existentes, como drones e máquinas de colheita, quanto para criar novas soluções. Entre os artifícios usados nas propriedades rurais do Espírito Santo, está a pilotagem automática de drone via GPS com IA.

Capazes de voar de forma autônoma usando apenas as câmeras e o microprocessador de bordo, os equipamentos permitem a pulverização das lavouras e controle de pragas e doenças. Adotadas principalmente em propriedades no Norte e Noroeste do Estado, em cidades como Jaguaré, São Gabriel da Palha e Rio Bananal, as ferramentas impulsionam ainda a “inovabilidade”: conceito que une sustentabilidade e inovação.

Isso porque, com os drones, é possível analisar clima e umidade do solo e identificar os locais exatos onde são necessárias irrigação e pulverização. O controle desses aspectos beneficia a gestão de custo de produção, além de proporcionar otimização do uso de insumos e produtividade.

Ênio Bergoli, secretário da Seag
Ênio Bergoli, secretário da Seag: “Não é modismo. A agricultura de precisão, pautada em inteligência artificial, é que vai garantir a permanência dos agricultores no mercado”. (Divulgação)

Os algoritmos de aprendizado das máquinas analisam, por exemplo, grandes volumes de informações históricas sobre as condições climáticas e podem prever eventuais cenários, auxiliando os agricultores na tomada de decisões estratégicas, como o momento ideal para o plantio ou colheita. “Ir rumo à agricultura de precisão, com controle sob fatores tecnológicos e ambientais, é caminho sem volta. O mundo não quer mais só saciar a fome e a sede. A demanda é que, além de primar pela qualidade, os alimentos sejam produzidos a partir de processos sustentáveis, que respeitem o homem e a natureza”, frisa Bergoli.

As máquinas automotrizes - que se deslocam com sistema de propulsão próprio - já são testadas em áreas de plantio no Norte do território capixaba com colheitadeiras de café conilon. Outra tecnologia presente no campo é a automação dos sistemas de irrigação e de fertirrigação, que permite administrar a dose exata necessária, respectivamente, de água e fertilizantes nas plantações, evitando desperdício.

Diretor da Agridrones Solutions, Valdicimar de Assis Mattusoch explica que o uso de drones têm papel relevante nas transformações. “Os drones de pulverizações localizadas garantem mais eficiência com menos produto nas aplicações de insumos orgânicos ou convencionais, gerando economia de até 90% da água utilizada no processo, além de evitar que o homem tenha contato com as substâncias no momento da operação”, observa.

O especialista acrescenta que os equipamentos são mais sustentáveis, pois são 100% elétricos, diminuindo assim o uso de combustíveis fósseis na produção agrícola. Outra vantagem é possibilitar os cuidados em áreas de difícil acesso aonde as máquinas convencionais não podem chegar.

Pesquisa

Para manter o agro em crescimento, há estímulos a inovações tecnológicas, principalmente com as agrotechs, startups voltadas para o campo. Elas buscam soluções e inovações tecnológicas aplicadas à produção agropecuária, melhorando a eficiência.

Uma das pioneiras foi a Olho do Dono, startup capixaba criada em 2013 por Pedro Henrique Mannato, cientista da computação. Com uma câmera 3D portátil apontada para os animais, é possível pesá-los e colher outras informações mesmo sem estar no curral. É só apertar “gravar”, acionar o equipamento onde está o rebanho e manejar os bois em frente à câmera, sendo permitido coletar, ao mesmo tempo, dados de 250 bois em 20 minutos, a depender do manejo.

Depois da passagem dos animais, é só apertar o botão “pesar” para gerar o relatório de todas as informações, identificando o “boi ladrão” e o que continua engordando, e saber quais linhas genéticas têm melhores e piores resultados na curva de ganho de peso, explica Pedro.

Para incentivar ainda mais novas tecnologias no mercado agro, a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes) tem um planejamento específico para o agronegócio capixaba, que é a Rota Estratégica Agroalimentar.

A economista-chefe da instituição, Marília Silva, também gerente-executiva do Observatório da Indústria, explica que a meta é aprimorar, até o ano de 2035, com a tecnologia como eixo central, a criação, aplicação e desenvolvimento das tecnologias para o agronegócio do Estado.

“Isso em ações de curto, médio e longo prazo. A partir das ferramentas da indústria 4.0, é possível transformar o setor e impulsionar significativamente a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade das atividades agropecuárias”, acrescenta.

Marília evidencia ainda como as tecnologias de ponta são importantes na cafeicultura, fruticultura, pecuária e avicultura, setores de destaque no Espírito Santo. Há uma gama de atividades que já se beneficia e pode se beneficiar ainda mais a partir do desenvolvimento e da aplicação dessas soluções tecnológicas, no campo, na indústria ou na cadeia de distribuição.

Máquina automotriz - com propulsão própria - já é testada em área de plantio de café conilon
Máquina automotriz - com propulsão própria - já é testada em área de plantio de café conilon. (Daniel Marcos Décio)

A atenção para unir os dois campos, agronegócio e tecnologia, resultou em aberturas de editais para pesquisa, inovação e desenvolvimento do agro capixaba. Bergoli aponta que, até o final de 2023, serão investidos R$ 18 milhões para que profissionais apresentem projetos de inovação tecnológica.

Outras pesquisas envolvem ainda o processamento de imagens, voltado principalmente para a agricultura de precisão. O diretor-presidente da Federação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), Denio Arantes, pontua que esse é um investimento grande no setor de inteligência artificial. “Não consiste apenas em fazer o processamento das imagens, mas também executar a leitura dos dados recolhidos para saber o que está em cada parte do terreno, se as estratégias adotadas são boas ou não”, acrescenta.

Denio Arantes, presidente da Fapes: A inteligência artificial tem permitido a análise de imagens para saber se as estratégias usadas no cultivo são eficientes ou não”
Denio Arantes, presidente da Fapes: A inteligência artificial tem permitido a análise de imagens para saber se as estratégias usadas no cultivo são eficientes ou não”. (Divulgação)

Existe a preocupação com a adesão dos produtores aos equipamentos de IA e outras tecnologias. Para fortalecer a aplicação delas no campo, são feitos treinamentos, cursos e eventos pela Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes) com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-ES).

“Além de oferecermos assistência técnica e gerencial, destacando principalmente a importância da segurança no uso desses equipamentos, promovemos missões técnicas para buscar novas tecnologias aplicáveis à realidade do produtor rural capixaba”, conta o coordenador técnico do Senar-ES, Murilo Pedroni. Ele complementa que há uma movimentação para parcerias com empresas e instituições de pesquisa para viabilizar o acesso a essas soluções tecnológicas e fomentar a adoção pelos agricultores.

Além disso, as novas tecnologias ajudam a suprir dificuldades, principalmente em relação à mão de obra. “Sempre que alguma tecnologia apresenta desempenho satisfatório, a sua disseminação é instantânea, como no caso das recolhedoras de café conilon na Região Norte”, diz Pedroni.

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