Robôs, drones, irrigação inteligente e sistema de rastreamento vêm mudando por completo o perfil do setor cafeeiro no Espírito Santo. As tecnologias estão presentes, principalmente, nas lavouras de conilon, variedade em que o Estado lidera como maior produtor do país.
Essas inovações têm transformado o cultivo, o processamento e a comercialização, o que traz benefícios para a cadeia de negócios ao aumentar a eficiência e a produtividade, além de tornar esse segmento mais competitivo e atraente ao mercado.
O Espírito Santo, que detém 63% da produção de café conilon do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estastítica (IBGE), está se consolidando como referência nacional e mundial na produção da bebida.
As novas tecnologias impulsionam ainda mais essa posição, permitindo que os cafeicultores capixabas alcancem níveis de excelência, com reconhecimento e demanda tanto no mercado interno quanto no externo.
Com sistemas automatizados de irrigação, os cafeicultores conseguem fornecer água na quantidade exata e no momento certo para as plantas, evitando desperdício e melhorando a eficiência hídrica, segundo informações da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag). Além disso, o uso de drones nas lavouras permite o monitoramento preciso das plantas, o que auxilia o controle de pragas e doenças, para obter uma produção mais saudável.
Outra inovação importante é a adoção de sistemas de rastreabilidade e compartilhamento de informações com os consumidores. Por meio de QR code e outras tecnologias, os clientes podem conhecer a história do café, desde a origem até o processo de produção.
Os pequenos produtores também se beneficiam das novas tecnologias. Mesmo com limitações financeiras e estruturais, eles buscam soluções inovadoras para melhorar a eficiência de suas produções.
A adoção de práticas como terreiros suspensos e novos espaçamentos entre as plantas tem proporcionado melhores condições de secagem e maior resistência das plantas a doenças em períodos de seca.
Além de ser grande produtor, o Espírito Santo se destaca no comércio exterior de grãos. De acordo com a Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária (Seag), a receita da exportação do complexo cafeeiro capixaba em 2022 somou US$ 685,3 milhões, o que representa 40,2% da pauta de exportações do agronegócio no Estado.
O engenheiro-agrônomo do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Fabiano Tristão Alexandre explica que cada região capixaba possui uma predominância diferente de grãos.
Atualmente, o tipo conilon é mais encontrado na Região Norte e em parte do Sul, nas proximidades de Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e Alegre. Já o arábica é cultivado na Região Serrana, no Caparaó e no Noroeste do Estado.
Em cada região, segundo Fabiano Tristão, diferentes tecnologias são pensadas e aplicadas. As ferramentas digitais permitem maior valor agregado no mercado e o vínculo com o cliente pelo e-commerce (mercado virtual).
“Os investimentos começaram a ser feitos em novas unidades de processamento, maquinário, poupadores, lavadores e tanques de fermentação de café. Para buscar esse avanço, passaram a armazená-lo em sacos de alta barreira, que impedem o grão de trocar umidade com o ambiente. Também há os terreiros suspensos, considerados ideais e baratos para o processo de secagem”, detalha o engenheiro-agrônomo.
No Norte do Estado, algumas dessas estratégias já são colocadas em prática, conforme explica o presidente da Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), Luiz Carlos Bastianello. Entre elas, estão as irrigações automatizadas e o uso de drone nas lavouras.
Hoje, conforme explica Bastianello, um dos principais problemas é a falta de profissionais para a colheita. Por isso, o cafeicultor tem buscado na mecanização dos processos uma alternativa para o manejo da propriedade.
“A opção pela colheita semimecanizada é mais frequente nas propriedades produtoras de café conilon. Especialmente porque, com um número muito pequeno de colaboradores, é possível ter maior rendimento operacional”, frisa o presidente da Cooabriel.
Outra estratégia para reduzir o problema da falta de mão de obra tem sido estimular o uso de drones, aumentando a capacidade de realizar os controles de pragas e doenças nas lavouras.
Um mapeamento do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apontou que o Espírito Santo só perde para São Paulo entre os maiores operadores de drone na agricultura brasileira.
Na Região Serrana, uma inovação ajuda a mostrar os “bastidores” da produção de café. Por meio de um QR Code, o projeto “Café Compartilhado”, idealizado pelo professor e biólogo Tiago Altoé, de Venda Nova do Imigrante, conta para o consumidor da bebida a história do grão, desde o plantio até a colheita.
Com a iniciativa, cada um dos cafeicultores participantes têm a própria trajetória contada nas redes sociais. Diversos detalhes são explorados, como a localização da propriedade, o início da lavoura no local, os aromas detectados, a pontuação do microlote, entre outras características.
“Para nós, todos os membros da cadeia produtiva são importantes. O agricultor, é claro, mas também aqueles que divulgam e fazem a torrefação, a seleção e até o rótulo. É uma cadeia com as mãos de várias pessoas. Processo que faz o fruto sair da lavoura com qualidade e proporcionar uma experiência sensorial nas xícaras”, diz Tiago.
Apesar das limitações financeiras e estruturais, os pequenos produtores também têm investido em tecnologias para dinamizar a produção. É o caso de Luciano Dutra Pimenta, proprietário do Sítio Liberdade, no Córrego da Liberdade, interior de Afonso Cláudio, na Região Serrana. No local, estão implementados desde terreiros suspensos até novos espaçamentos. “Sabemos que há muita tecnologia no mercado. Acredito que estamos tendo uma safra alta neste momento, mesmo em ano de safra baixa, porque temos feito o dever de casa”, explica.
O produtor de Afonso Cláudio deu detalhes ainda dos benefícios adquiridos após adotar novas práticas na plantação. Os cafés se tornaram mais resistentes a doenças e secas, assim como aumentou a produção por hectare.
“O espaçamento consiste em colocar uma planta mais perto da outra, fazendo com que produzam mais por hectare e sofram menos com secas. Como ficam mais ‘fechadinhas’, o ambiente é mais fresco. Já os terreiros suspensos são mais higiênicos e secam o fruto mais rapidamente”, assinala.
Segundo Fabiano Tristão, do Incaper, 77% da produção capixaba de café vêm de agricultores familiares. Ele destaca que o Estado também é reconhecido como uma das principais origens de cafés exóticos do Brasil - aqueles que têm acima de 87 pontos na escala americana dos tipos especiais.
“Esses cafés estão relacionados ao local onde são produzidos. Vemos que os cafés acima de 800 metros de altitude trazem perfil sensorial, como chocolate, caramelo e frutas vermelhas, considerados exóticos”, detalha.
O pesquisador diz que vários produtores vendem diretamente para cafeterias de fora do Brasil. “O Café do Jacu é diferenciado, mas o Estado tem várias outras opções especiais”, afirma Fabiano, fazendo referência ao grão feito a partir das fezes de uma ave.
CAFÉ CONILON
É predominante na Região Norte e em parte do Sul capixaba, nas proximidades dos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e Alegre. Cresce sobretudo em locais abaixo dos 450 metros de altitude. Apesar de já ser muito popular no Espírito Santo, começou recentemente a ser mais explorado para cafés especiais - posto anteriormente ocupado apenas pelo tipo arábica.
CAFÉ ARÁBICA
É cultivado tanto na Região Serrana e no Caparaó capixaba quanto no Noroeste do Estado. A previsão de safra, em 2023, é de 3 milhões de sacas de café, sendo que 35% serão produzidos na região de montanhas, 8%, no Noroeste (principalmente na cidade de Mantenópolis) e o restante no Caparaó. Pode ser encontrado com mais frequência em locais acima de 500 metros de altitude e costuma se adaptar bem em temperaturas entre 180 a 210 C.
Fonte: Incaper e Seag.
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