Uma parceria entre uma pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Israel, o Instituto Weizmann de Ciência (IWC) do mesmo país e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) busca desenvolver um teste rápido para identificar toxoplasmose em animais.
Também estão sendo feitos estudos para observar as cepas predominantes tanto em Israel quanto no Espírito Santo. O objetivo, em Israel, é trabalhar no melhoramento da carne que vem da Europa. Isso porque na religião judaica a carne deve ser Kasher, ou seja, totalmente livre de impurezas.
Já no Brasil, a identificação de locais onde a doença é mais presente contribui para melhorar a saúde da população, visto que, embora seja assintomática em 90% dos casos, ela pode causar graves complicações para gestantes e pessoas com o sistema imunológico debilitado.
A professora do departamento de Patologia da Ufes Blima Fux levou para Israel, no início de 2020, a técnica de caracterização e isolamento das diferentes cepas do protozoário Toxoplasma gongii.
“Estavam chegando no país animais que morriam por causa da toxoplasmose, ovinos e caprinos. A gente isolou o parasita para saber qual tipo estava circulando ali, porque há cepas mais ou menos virulentas, algumas que atingem mais os humanos e outras, os animais. A gente fez um diagnóstico e vimos que há uma prevalência grande em Israel”, disse.
Lá, ela participou de um treinamento para utilizar um aparelho de análise de rastreamento de nanopartículas (NTA, sigla em inglês). A máquina codifica e verifica as concentrações das partículas de vesículas extracelulares do parasita. É a partir da identificação dessas biomoléculas que seria desenvolvido um novo teste, mais rápido, para identificar a doença.
Uma segunda parte da pesquisa deveria ter acontecido em novembro do ano passado, mas foi adiada por conta da pandemia do coronavírus, que restringiu as viagens para Israel. Paralelamente, a professora coordena outro estudo, que usa a mesma técnica (NTA) para analisar o sangue de caprinos no Espírito Santo.
Ela conta que uma pesquisa anterior, feita com galinhas caipiras em Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana do Estado, identificou cepas combinadas do parasita nos animais. Foram estudadas amostras de sangue de galinhas criadas em quintais, que são mais suscetíveis à contaminação.
"Encontramos grande quantidade de galinhas infectadas e lá tem muitos casos oftalmológicos causados pela toxoplasmose. No local a gente também encontrava a presença de gatos junto das galinhas”, conta.
A professora explica que o gato está relacionado com a transmissão da doença. Outros animais, como galinhas, ovelhas, cabras, bois e porcos podem até ficar doentes, mas não transmitem o parasita tão facilmente. A única forma de se contaminar através desses outros animais é comendo carne crua.
“Sabendo mais sobre o assunto, a gente pode levar mais informações para a população, falar como as famílias podem melhorar o local onde colocam as galinhas, como tem que fazer o consumo do alimento. Nós, normalmente, não comemos galinha crua, mal passada. Mas ainda assim, num churrasco, um coração da galinha pode estar meio cru e acaba levando a maiores problemas”, aponta.
Embora não seja grave na maioria dos casos, ingerir uma grande quantidade dos parasitas pode causar sintomas, principalmente em crianças. Em 2019, 17 crianças de uma creche em Rio Bananal passaram mal e foram diagnosticadas com toxoplasmose. Dois anos antes, o mesmo havia acontecido com 18 alunos e dois funcionários de uma creche em Marilândia.
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