O Brasil é o terceiro maior produtor de cervejas em todo o mundo. São mais de 1.300 cervejarias espalhadas pelo país, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). O produto é feito de quatro ingredientes: água, malte, levedura e lúpulo, sendo este último o responsável pelo sabor e aroma da cerveja, assim como o tempero é para os alimentos.
Pela importância que tem no produto final, a planta chamou atenção de pesquisadores do Espírito Santo, que criaram um campo experimental, em Viana, na Grande Vitória, para cultivar sete variedades diferentes de lúpulo. Em uma área de 160m² foram plantados 60 pés.
"O mercado brasileiro hoje importa quase 90% de todo o lúpulo necessário para produção de cerveja, então por isso que estamos investindo na produção de lúpulo. Tem um mercado vasto, o valor de mercado dessa planta chega até R$ 300 o quilo, e o nosso agricultor vai ter uma rentabilidade muito maior produzindo lúpulo", afirmou o gerente de Desenvolvimento Rural de Viana, Francisco Sizino.
A ideia da Prefeitura de Viana é criar um polo cervejeiro na cidade, tendo cinco cervejarias artesanais e uma escola técnica para quem quiser entrar no mercado, a "Tecnocerva".
"Fomentaremos a produção de lúpulo na cidade de Viana. Temos a meta de 20 unidades rurais na produção. Temos uma Parceria Público-Privada (PPV) já nessa produção e vamos estender esse processo. Os agricultores interessados poderão, por meio de um edital, participar desse processo integrado, com produção, plantio e uma rota cervejeira na cidade", disse Francisco.
Apesar do plantio ser novo, a engenheira agrônoma Robertha Bragato, uma das responsáveis pelo projeto, já fez as primeiras descobertas positivas para a colheita.
"Das variedades que já plantamos aqui, podemos perceber que mais da metade delas possuem um desenvolvimento bem adaptado com três meses. Ela já consegue atingir a parte superior, que são de seis metros. A partir daí vão ser formados os ramos laterais, os cones, então vemos que ela está num clima adequado e possui horas de luz exatas de acordo com a necessidade", disse Robertha.
O manejo é simples, mas a planta necessita de muita exposição ao sol. Desta forma, o campo experimental ganhou artifícios para não deixar os pés de lúpulo no escuro.
A planta precisa de cerca de 8 a 10 horas de iluminação para formar os ramos laterais, e com auxílio da energia elétrica instalada no local, os pesquisadores capixabas conseguiram em torno de 17 horas de luz. A demanda por água também é grande, e por isso foi montado um sistema para o controle ideal de irrigação.
"O lúpulo precisa de muita água para o pleno desenvolvimento. No início, demanda muita água, cerca de cinco até seis litros de água por planta de lúpulo. Aqui nós fazemos o sistema de gotejamento, em que podemos fazer o cálculo da vazão de água a cada minuto", afirmou a engenheira agrônoma.
Todo esse investimento é pensando na floração. São das flores, conhecidas como cones, que os óleos essenciais e resinas utilizadas para a fabricação da cerveja são extraídas. Tendo todo o processo concluído, os pesquisadores esperam realizar a primeira colheita em breve.
"No primeiro ano a gente consegue um quilo produtor. No segundo, dois; e no terceiro, de dois a dois e meio. Então o produtor pode ter esse lucro já na primeira ou segunda florada do lúpulo", explicou Robertha.
Amostras do lúpulo produzido e colhido no Espírito Santo passaram por diversos testes no Laboratório de Análise de Cervejas & Matérias-Primas (Lacemp) no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Vila Velha. Segundo o coordenador do laboratório, Juliano Souza Ribeiro, com apenas algumas amostras dos cones foi possível investigar aspectos únicos da produção capixaba.
"Dentro do estado tenho relato de produtores de quatro a cinco anos. oS lúpulos desses produtores a gente já pode chamar de lúpulo adulto. Apresenta aroma próprio e, usando na cerveja, fica muito melhor que um lúpulo de fora do país. Fica extremamente aromático. Esperamos é que no máximo em três ou quatro anos tenhamos uma diferença significativa nos aromas e na qualidade que teremos na cerveja produzida no Espírito Santo".
Juliano tem a expectativa de que Espírito Santo chegue em 2025 com o número de 100 a 120 cervejarias registradas. Ainda segundo o professor, o estado é o sétimo colocado em número de cervejarias no Brasil, tendo uma escala exponencial de crescimento.
Com a expansão e mais competitividade do setor, a análise do professor é que os preços fiquem cada vez mais convidativos para clientes antigos e novos desse mercado.
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