A morte do ator Tarcísio Meira nesta quinta-feira (12) em decorrência da Covid-19, e o aumento do número de internações de idosos no Rio de Janeiro e em São Paulo levantaram o debate no Brasil sobre a necessidade da aplicação de uma terceira dose da vacina contra o coronavírus, sobretudo para os idosos.
Tarcísio Meira já havia completado a vacinação em março, mas não se sabe com qual imunizante. Internado desde 6 de agosto no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o artista foi intubado, mas não resistiu. Sua esposa, a atriz Glória Menezes, de 86 anos, também foi internada, com quadro mais leve.
Em alguns países, como Israel e Chile, a dose de reforço já é uma realidade para aquelas pessoas que têm o sistema imunológico enfraquecido, seja por idade avançada ou por fazer parte do grupo de risco ao estarem em tratamento contra comorbidades imunossupressoras, como o câncer e doenças renais.
Nesta quinta-feira (12), a Agência Sanitária Americana também aprovou o uso da terceira dose da vacina contra a Covid-19 em determinados casos de pessoas com sistema imunológico enfraquecido, em um esforço para protegê-las da variante Delta, que tem maior transmissibilidade.
Por aqui, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitou à Pfizer que fossem realizados estudos sobre a necessidade de um reforço na imunização.
Diante do debate da aplicação da terceira dose nos idosos e pessoas com doenças imunossupressoras, a professora doutora em Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, salienta que o Brasil vive um impasse se vai aplicar o reforço do imunizante nos idosos ou se vai iniciar a vacinação dos adolescentes.
A epidemiologista acrescenta ainda que atualmente apenas 22,8% da população brasileira está com a imunização completa com as duas doses ou dose única, o que é uma parcela muito pequena diante do que é necessário para diminuir os índices de transmissão do vírus.
“O problema do Brasil hoje é que temos grande parte das pessoas que não tomou nem a primeira dose. Fica difícil a gente dizer sobre tomar a terceira dose, quando a maioria não tomou a primeira ou não completou o esquema vacinal. Essa é uma realidade para outros países, como Israel, que está aplicando a dose de reforço nos idosos, e Estados Unidos, que vai começar a aplicar”.
No Espírito Santo, segundo o subsecretário Estadual de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, a aplicação da terceira dose da vacina ainda não é um debate que está sendo operacionalizado no momento.
“Ainda não temos esse debate de maneira concreta entre nós. Nós acompanhamos o que está sendo definido em outros países, por meio de estudos. Sabemos que não basta decidir pela vacinação, é preciso que tenha vacina disponível e que os Estados tenham condições de operacionalizar as aplicações”, pontua.
Para Reblin, antes de debater sobre a aplicação da terceira dose, é preciso reforçar a importância de completar o esquema vacinal para que as pessoas, caso contaminadas, tenham a doença de forma mais leve e não venham a óbito.
“Estudos ao redor do mundo apontam que a imunização contribui para a queda de até 95% de mortes em pessoas idosas. Quem completa o esquema vacinal está protegendo idosos, crianças, adolescentes e a população de forma geral, ajudando quem tomou a vacina e quem ainda não tomou. Temos ainda um grande desafio no Brasil ainda, e precisamos continuar com os protocolos para evitar o contágio, que é o uso de máscara, medidas de distanciamento social e higienização”, destaca Reblin.
Para o infectologista e professor da Ufes Crispim Cerutti, a morte de Tarcísio Meira não sugere ineficácia das vacinas. “As falhas nas vacinas são esperadas. Nenhum imunizante prometeu 100% de eficácia. Aquelas que têm a tecnologia mais avançada, por exemplo, chegam ao patamar de 90% de proteção contra casos graves e óbitos por Covid-19. Dessa forma, mesmo que a pessoa tome uma terceira dose, essa janela pode ocorrer, porque a vacina não impede a contaminação pelo vírus”.
Cerutti também salienta que está sendo estudado ao redor do mundo a aplicação da dose de reforço, mas que a realidade do Brasil é diferente daqueles que estão com a cobertura vacinal da população mais avançada.
“Estamos em um ritmo lento de vacinação, e sabemos que a resposta imunológica das pessoas com idade mais avançada ou que estão em tratamento de doenças imunossupressoras diminuem com o tempo. Enquanto não sabemos se vamos aplicar dose de reforço ou não, o ideal é evitar a contaminação e proteger os idosos”, acrescenta.
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