No intervalo entre 2008 e 2018, o Espírito Santo registrou o assassinato de 1.717 mulheres. Só no último ano do levantamento foram contabilizados 100 homicídios, o que determina a média de uma morte a cada 3,6 dias, de acordo com os dados divulgados no Atlas da Violência 2020, nesta quinta-feira (27).
O dado de 2018, mostra uma representativa queda com relação aos anos anteriores. Apesar do mínimo destaque positivo, ainda são muitas vidas perdidas, como observa Daniel Cerqueira, coordenador do atlas e também diretor presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). Os homicídios registrados no estudo não descrevem a motivação da morte, mas para Cerqueira, muitas delas certamente estão ligadas a questões machistas.
"Ainda vivemos uma sociedade patriarcal, onde na divisão pelo sexo, a mulher teria o papel subalterno. Essa história só começa a ser mudada quando o chefe da família deixa de ser o marido e com mudanças na legislação penal. A Lei Maria da Penha é efetiva e mostrou que o número de mortes seria 10% maior se não fosse por ela. Ainda precisamos de políticas públicas. Que a violência contra mulher seja sempre tomada como pauta, para que mais mudanças sejam feitas. O problema é grande, mas é preciso dar os primeiros passos para mudar cultura e buscar um país mais civilizado", observou.
A mesma ideia é compartilhada por Pablo Lira, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Professor de Mestrado em Segurança da Universidade de Vila Velha (UVV). "Atualmente, há o reforço da rede de proteção da mulher em relação à violência, com atuações do Ministério Público, do judiciário do Estado, além das secretarias especializadas. Mas temos muito que avançar, em especial na conscientização da população, dos homens e dos ciclos de relacionamentos abusivos. Ainda são números elevados, pois só conseguiremos reduzir os números com um nível maior de educação para a população", completou.
No Brasil, o local onde as mulheres mais morrem também chama atenção. Depois da rua, com 45% dos crimes, as casas são o cenário de 38% dos assassinatos. Além disso, elas são mais mortas por objetos cortantes do que os homens, apesar de a arma de fogo ser o principal meio utilizado para tirar a vida de homens e de mulheres.
Outro dado preocupante é que, assim como acontecem com os homens, também são negras a maioria das vítimas.
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