Dona Odília Gomes de Oliveira, de 85 anos, passou dias quase sem dormir e comer após perceber que sua cadelinha de quase 17 anos havia fugido de casa. Belinha, uma pinscher de saúde debilitada devido à idade avançada, deixou a residência onde mora, na Enseada do Suá, em Vitória, no momento em que um dos filhos da idosa abriu o portão para ir jogar o lixo fora.
O episódio aconteceu por volta das 21h30 do último dia 17, uma quinta-feira. Belinha, quase cega, surda e com debilidade mental semelhante ao Alzheimer, chegou a pernoitar na rua e, no dia seguinte, foi encontrada pelo auxiliar de obras Elias da Silva Pires, de 53 anos, que, com todo cuidado, a resgatou e acionou a Guarda Municipal. A corporação levou o animal para o Centro de Controle de Zoonoses de Vitória. No entanto, somente dias depois, a família tutora da cadelinha tomou conhecimento de que tudo estava bem.
À reportagem de A Gazeta, o filho de Odília, o major da Polícia Militar Jader Roberto de Oliveira, de 51 anos, contou que a pinscher já havia desaparecido antes, porém, na ocasião, sabia o caminho de volta. “Desta vez ela sumiu mesmo. E ela é o xodó da nossa casa, onde moramos eu, meu irmão e nossa mãe. Somos todos muito apegados à Belinha. Ficamos sem comer e não dormíamos direito, imaginando o sofrimento dela”, disse.
Roberto contou que chegou a imaginar cenas da cadelinha implorando por socorro. Mas o sofrimento foi amenizado quando um atendente do Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes) recebeu a ligação e recordou de uma ocorrência registrada de resgate de animal, em que o pet foi levado ao centro de zoonoses pela Guarda de Vitória. O major, então, se dirigiu ao Centro de Controle de Zoonoses, no bairro Resistência, e localizou a cadelinha.
Fraca e debilitada, Belinha foi encaminhada ao veterinário, já que nem sequer come e bebe água sozinha. “Ela usa uma ampola para se alimentar, ficou sem comer dois dias. Quanto mais eu demorasse, pior ela ficaria. Na segunda-feira (último dia 21) levamos ao veterinário, fizemos exames e está tudo direitinho. Mas ela é como uma pessoa especial, que precisa de vigilância contínua”, destacou.
Se tem alguém que merece o título de herói, essa pessoa é o Elias da Silva Pires, auxiliar de obras que reside no bairro São Pedro, em Vitória. Ele contou que, a princípio, estava indo para a empresa onde trabalha. Pegou uma carona e foi deixado próximo à Terceira Ponte, de onde passou a caminhar. Logo passou próximo a uma quadra de tênis da região e, por lá, avistou um animalzinho rondando desnorteado, perto do meio-fio.
Elias contou que se sensibilizou muito com a situação. “Tocou meu coração. Deus sempre vê o melhor para nós e ele me permitiu encontrá-la. Eu tenho animais e vou cuidar deles sempre. Perdi um cachorro na véspera do Natal no ano passado, mas sei que cumpri meu dever. Fiquei muito feliz pelo reencontro dela com a senhora, isso me confortou muito”, disse.
Além do senhor Elias, outras peças também foram fundamentais para o desfecho da história. Uma delas foi Renata Belfort, da Guarda Municipal. A agente de 44 anos contou que estava em uma viatura com um colega, indo fazer um ponto-base próximo a um shopping de Vitória que fica na Enseada do Suá. “Passamos por ali e vimos um senhor com uma sacolinha no colo, gesticulando para nós. Ele embrulhou a cadelinha porque ela estava muito debilitada, pegou ela perto do meio-fio, pensou até que tivesse sido atropelada”, iniciou.
Segundo a agente, o senhor estava desesperado. “Entrei então em contato com o chefe da nossa equipe para autorizar a dar suporte. Levamos para a zoonoses e o senhor Elias nos acompanhou, dizendo que ele não teria condições de levar ao veterinário. O encarregado dele, no trabalho como pedreiro, o liberou sabendo que ele gostava muito de animais”, acrescentou.
Ao finalizar a ocorrência, a agente Renata Belfort entrou em contato com o Ciodes para fazer o registro. O atendente conversou com um colega e isso chegou até o filho da idosa, o major Roberto. “Foi toda uma questão de estar no local e no momento certo. Eu e meu amigo da viatura, o Koehler, gostamos muito de animais. Foi um propósito de Deus estarmos ali. E o senhor Elias foi fundamental, sem ele nada teria acontecido. Foi um conjunto de fatores que contribuiu. Tudo foi obra de Deus”, completou.
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