As buscas pelos 11 desaparecidos na tragédia de Brumadinho, ocorrida em janeiro de 2019, foram retomadas pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais nesta quarta-feira (12). Entre as famílias que ainda seguem em busca de notícias, está a de Uberlândio Antônio da Silva, capixaba que prestava serviço para a Vale como mecânico de empilhadeira. Mais de dois anos após o rompimento da barragem pela qual a Vale era responsável, um sobrinho de Uberlândio conta que apesar da dificuldade, a família ainda tem esperança de dar um último adeus. Pelo menos 270 pessoas morreram por conta da tragédia.
Em contato com a reportagem de A Gazeta, Fernando Lima, sobrinho do capixaba, conta que não ficou sabendo sobre a retomada das buscas e disse imaginar que boa parte da família também não saiba. "É tudo com o seu tempo. O trabalho de buscas é um pouco mais difícil, porque às vezes o solo já está 'solado'", lamentou.
O trabalho de buscas pelos desaparecidos começou logo após a tragédia. Com o passar do tempo, o número de pessoas desaparecidas foi caindo, já que vários corpos foram encontrados e sobreviventes conseguiram ser resgatados. Mas a família de Uberlândio não teve o mesmo retorno do Corpo de Bombeiros.
Fernando diz acreditar que não tem chances de Uberlândio ser encontrado com vida. Desde a noite do dia 24 de janeiro de 2019, quando o mecânico conversou por telefone com a esposa, Rosemar Pinheiro, a família não tem nenhuma informação sobre o paradeiro do trabalhador.
O anúncio da retomada das buscas foi feito pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, após o Estado mineiro passar pela onda roxa – classificação de risco da Covid-19. Os trabalhos estavam suspensos desde o dia 17 de março devido às restrições adotadas pelo governo estadual. Segundo os Bombeiros, os trabalhos seguirão todos os protocolos sanitários definidos desde o ano passado.
Em nota, a Vale afirmou que apoia a retomada das buscas em Brumadinho feita pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Informou ainda que a remoção dos rejeitos é uma "atividade fundamental" na procura pelos desaparecidos e para a recuperação ambiental da área impactada.
A tragédia ocorreu no dia 25 de janeiro de 2019. Fernando Lima conta que foi até as proximidades de Brumadinho, logo após o rompimento da Mina Córrego do Feijão, para ter alguma informação sobre o seu tio.
"No outro dia eu estava lá. Saí daqui de carro com a Rosemar (esposa de Uberlândio). Fui o único da família. Ficamos por lá durante uma semana, numa cidade próxima a Brumadinho que fica depois de Ouro Preto. Ficamos lá, pensando que logo teríamos notícias dele. Voltamos quando a empresa falou que não tinha mais o que fazer", relata. "A família ainda sente falta dele", complementou o sobrinho.
Ainda de acordo com Fernando, a mãe de Uberlândio ainda não sabe que o filho está desaparecido há mais de dois anos. Ele conta que os familiares mais próximos optaram por não contar. "A mãe dele tem problema de Alzheimer e pressão alta, já não responde mais por ela. A família não falou para não deixá-la mais abalada", completou.
A viagem em busca de informações durou uma semana. A dor dos familiares, como a esposa, moradora da Serra, já dura quase dois anos e quatro meses. Em entrevista à reportagem de A Gazeta em janeiro de 2020, exatamente um ano após o desaparecimento, Rosemar Pinheiro contou que, diariamente, acende uma vela às 18h e reza por Uberlândio.
Ela contou, em janeiro do ano passado, que os filhos fizeram tratamento psicológico por oito meses, mas que "ainda não se recuperaram".
A reportagem de A Gazeta tentou contato com irmã, filhas e a então esposa de Uberlândio, mas as ligações não foram atendidas.
Durante a entrevista, ainda em 2020, Rosemar disse que não havia recebido qualquer ajuda financeira da Vale, além do salário do marido. Na época, a Vale informou que uma doação de R$ 100 mil havia sido destinada à filha menor de idade de Uberlândio Antônio, através da responsável legal.
O sobrinho lembrou que Rosemar não recebeu indenização da Vale, mas disse que outros familiares entraram na Justiça contra a empresa e tiveram êxito. "Irmãos todos por parte de mãe receberam indenização, os filhos também, todo mundo recebeu", diz.
A Vale informa que a lista é atualizada em prazo não superior a 24 horas. Porém, a última vez em que um nome foi retirado da lista, ou seja, uma pessoa que era considerada desaparecida foi encontrada, aconteceu em dezembro de 2019. Pelo menos 270 pessoas morreram na tragédia de Brumadinho.
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