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A história da mãe que vende água na BR 101 para criar a filha no ES

A história da mãe que vende água na BR 101 para criar a filha no ES

Luana Haime, 27 anos, vende garrafas de água na BR 101, em Linhares. Ela já foi atropelada no local em março. Com o trabalho, ela cria a filha de 10 anos

Publicado em 22 de abril de 2021 às 07:05

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A história da mãe que vende água na BR 101 para criar a filha no ES
A história da mãe que vende água na BR 101 para criar a filha no ES. (Arte A Gazeta)
Vinicius Zagoto
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A vida em Linhares, no Norte do Espírito Santo, tem sido muito mais corrida do que em Montanha, na mesma região do Estado. Não só pelo tamanho das cidades, mas pelo trabalho que Luana Haime, de 27 anos, escolheu para conseguir criar sozinha a filha Lunna, de 10 anos. Desde o fim de 2020, ela largou o emprego formal e virou autônoma, correndo entre os carros na BR 101 para vender garrafas de água.

A empreendedora se tornou ainda mais conhecida após as imagens do atropelamento dela, enquanto vendia suas águas, repercutirem nas redes sociais. Ela teve que ficar um mês em casa sem trabalhar, mas voltou à rodovia após se recuperar.

Luana saiu de Montanha, município de quase 19 mil moradores, há quase 4 anos, com a filha e o marido, almejando maiores oportunidades em Linhares, maior cidade do Norte capixaba, com cerca de 177 mil habitantes. 

"Eu vim de Montanha para Linhares em busca de melhoria de vida. Morei no bairro de Bebedouro, vim para o Interlagos, trabalhei em loja, em pizzaria, já trabalhei em casa de família, em restaurante e, pelo fato de o salário mínimo não suprir minhas necessidades, tomei a decisão de vir vender água na rua", conta.

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Não é nem que esteja me dando dinheiro, mas consigo ter flexibilidade de horário, de tempo, que era o que eu mais precisava

Luana Haime
Empreendedora
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Vendedora de água sobrevive a atropelamento e usa a criatividade para criar filha no ES
Vendedora de água sobrevive a atropelamento e usa a criatividade para criar filha no ES. (Arquivo pessoal)

DECISÃO DE VENDER ÁGUA NA BR 101 

Entre tantas possibilidades de empreender, Luana optou por vender garrafas de água na BR 101. "Água é uma coisa que o corpo não consegue ficar sem, né? Eu pensei: o que é que o ser humano não pode ficar sem? Água eu posso vender à noite, na chuva, no calor... Água é uma coisa que a gente não vive sem", conta.

Empreender e tomar a decisão de ir para a rodovia vender água não foi tão fácil. A necessidade de obter renda se esbarrou com o ego e no perigo, como Luana explica.

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Foi difícil colocar em prática essa decisão. A questão do ego, do perigo, mas, graças a Deus, foi uma decisão que deu certo. Eu ficava com receio do que os outros e minha família iriam pensar

 Luana Haime
Empreededora
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Luana explica que, para escolher o ponto da BR 101 em que trabalharia, andou por vários dias de bicicleta à noite e de dia, analisou onde tinha mais sombras e se haviam lojas perto, para poder ir ao banheiro.

VISUAL DIFERENCIADO

Para o trabalho, ela usa maquiagem e um uniforme padronizado, com calças preta, blusa social e até gravata borboleta. "É um diferencial. Me traz segurança e ajuda a me proteger do sol. Me dá mais postura e segurança com os clientes. Eles ficam com menos receio de comprar meu produto", avalia.

CRIAR A FILHA

A decisão de ir trabalhar como autônoma na BR 101 veio através da necessidade de ter que criar sozinha a filha de 10 anos. Luana veio para Linhares com a filha e o marido, mas acabou se separando e se tornando mãe solo.

"Minha filha hoje ela tem 10 anos e precisa de muito tempo, de ser acompanhada. Eu sei que se eu tivesse hoje um trabalho de carteira assinada, em qualquer lugar, a empresa não me daria o tempo que preciso para levá-la no médico, na escola. Essas coisas que a mãe precisa ter com uma criança", conta.

Luana afirma que já recebeu diversas propostas de trabalho nesse período de quase cinco meses em que tem atuado na rodovia, mas prefere continuar na BR, pela flexibilidade enquanto autônoma.  

Luana Haime vendendo água na BR 101(Reprodução | TV Gazeta Norte)

RISCOS E DIFICULDADES DO TRABALHO NA BR 101 

Segundo a empreendedora, trabalhar na rodovia não é fácil. "Eu aqui vendendo água, as pessoas fingiam que não me viam".

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Muitas pessoas já me xingaram, mandaram eu vender água na cadeia. No início foi bem difícil. Já trouxe uma caixa de água e voltei para casa com ela cheia

 Luana Haime
Empreendedora
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Mesmo com a reação negativa por parte dos motoristas, a vendedora não desistiu e afirma que a persistência foi fundamental. Luana aponta ainda que o cansaço é outra dificuldade que tenta enfrentar diariamente. "Eu nunca parei pra contar, mas imagino que ando uns 30 quilômetros por dia nessas idas e vindas", disse.

O ATROPELAMENTO

Na tarde do dia 16 de março deste ano, Luana estava em mais um dia de trabalho. Quando o sinal abriu e ela se direcionou ao canteiro central, foi atingida por uma motocicleta. Veja o atropelamento no vídeo abaixo.

Sobre o atropelamento, Luana assume que errou em estar no meio da pista, mas afirma que "nada é por acaso" e serviu para que ela "prestasse mais atenção" e não se "empolgasse tanto".

"Eu fiquei um mês em casa, parada, me recuperando. Muita gente me procurou para me ajudar. Isso alimentou muito a minha vontade de querer vir. Não sinto mais nada do acidente. A única coisa que eu sinto é fome e sede de continuar mais ainda", finaliza.

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