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Acesso, iluminação, buracos: qual a situação das ciclovias da Grande Vitória

Acesso, iluminação, buracos: qual a situação das ciclovias da Grande Vitória

Diariamente, usuários esbarram em obstáculos, como a falta de ligação entre as vias, sinalização precária e falta de manutenção nas pistas exclusiva para as bikes; A Gazeta conferiu de perto como estão as vias em Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica

Publicado em 14 de maio de 2024 às 10:21

Ícone - Tempo de Leitura 8min de leitura
João Barbosa
Repórter / [email protected]

Mobilidade, benefícios para a saúde e um meio de transporte não poluente. Essas são algumas das variadas vantagens do uso de bicicletas no dia a dia. Na Grande Vitória, os municípios de VitóriaSerraCariacica e Vila Velha acumulam 218 quilômetros de malha cicloviária, entre ciclovias e ciclofaixas. Entretanto, diariamente, usuários esbarram em obstáculos como a falta de ligação entre as vias, sinalização precária, buracos e falta de manutenção nas pistas exclusivas para bikes.

Em busca de saber quais são os principais problemas relatados por ciclistas na Grande Vitória e para entender o que a gestão pública promete em melhorias, A Gazeta foi para as ruas para conferir de perto a situação das ciclovias. Confira:

Ciclovias em Vitória

Em Vitória, os ciclistas ganharam, nos últimos anos, vias exclusivas, como as das Avenidas Vitória, Leitão da Silva e Rio Branco. Entretanto, no caminho para esses trechos mais novos, quem depende do pedal esbarra em obstáculos a caminho do trabalho, da escola e também durante a prática de atividades físicas. Nas ruas, as principais reclamações estão relacionadas aos buracos, à falta de ligação entre as vias e a problemas de drenagem e sinalização.

"As ciclovias são aparentemente bem bonitas. Mas, realmente, a funcionalidade pega um pouco. Bonita qualquer coisa pode ser, mas também precisa ser funcional", aponta a gestora comercial Luiza de Paula, que costuma pedalar na região da Enseada do Suá, em Vitória.

"Na Enseada, a ciclovia tem muito buraco. E falta interligação. Para sair aqui da Enseada e ir para a Curva da Jurema, não existe esse caminho. É a mesma coisa da Curva da Jurema para Camburi. Tem uma ligação, mas aquela ‘pontezinha’ é muito desnivelada", complementa Luiza.

Ciclovias da Capital sem conexões
Ciclovia da Terceira Ponte não é interligada a outras vias. (Fernando Madeira)

Ainda na região da Enseada do Suá, os usuários reclamam da falta de ligação das vias com o acesso à Ciclovia da Vida, inaugurada em 2023, anexa à Terceira Ponte, ligando Vitória a Vila Velha.

“Eu venho de Camburi até um certo limite de ciclovias e, quando vai chegando até aqui (na Enseada), não se tem mais nada, só calçada. Então, às vezes, você tem que acessar a pista, andar na calçada e correr o risco até de atropelar um pedestre”, relata o ciclista Charles Tavares.

O receio de atropelamento não fica só entre os ciclistas que dividem a calçada com pedestres, mas também entre os usuários de ciclovias que precisam circular em meio a carros, ônibus e caminhões no trânsito da Capital.

“O que mais me incomoda é na Reta da Penha, que não tem calçada, nem ciclovia e na rua você corre risco de vida. Já para ir ao Centro, até tem um pouco, mas só no domingo, quando liberam a faixa. Fora isso, temos que ir cortando pelos bairros”, explica Tainá Costa, que pedala entre as vias de Jardim da Penha, passando pela Ponte da Passagem.

No local, para quem vai sentido Jardim da Penha, é possível observar o estreitamento da via de ciclistas e o fim da sinalização, onde pedestres e bicicletas dividem espaço com veículos maiores.

No sentido Centro, depois do acesso para a ciclovia da Avenida Leitão da Silva, até existe outra opção para quem vai sentido Avenida Maruípe passando pela Rua Dona Maria Rosa, mas a faixa para ciclistas acaba na esquina com a Rua Emílio Ferreira da Silva, colocando em risco quem pedala na região.

Ciclovia na Rua Dona Maria Rosa termina sem integração com o trânsito na região do bairro Andorinhas
Ciclovia na Rua Dona Maria Rosa termina sem integração com o trânsito na região do bairro Andorinhas. (Fernando Madeira)

Prefeitura diz que estuda melhorias

Questionado pela reportagem de A Gazeta sobre os problemas apontados por usuários das ciclovias na Capital, o secretário de Desenvolvimento da Cidade e Habitação de Vitória (Sedec), Luciano Forrechi, afirma que a pasta enxerga a necessidade de ampliar e melhorar as vias da cidade.

De acordo com Forrechi, a Sedec estuda os pontos críticos de interligação das ciclovias de Vitória. “Essas soluções vão depender de intervenções e de entendimento da população de que vai ser necessário adequar a cidade para atender a bike e, principalmente, valorizar que as pessoas utilizem mais esse meio de transporte.”

O secretário afirma, ainda, que, nas próximas intervenções no trânsito de Vitória, as ciclovias estarão entre as prioridades da pasta, para que a Capital se torne mais dinâmica com o uso de bicicletas.

Ciclovias em Vila Velha

Em Vila Velha, os problemas são parecidos com os da Capital. Se em bairros mais nobres e perto das praias as ciclovias têm bom estado, as regiões periféricas não contam com estrutura adequada, como aponta a turma do pedal.

Quem pedala pela orla das praias da Sereia, da Costa e de Itapuã, por exemplo, usufrui de pistas sinalizadas, faixas demarcadas no solo e placas de sinalização. Mas, saindo dessa região e entrando em bairros como Glória, Jaburuna, Aribiri e Centro, a situação é diferente.

Ciclistas se arriscam no meio do trânsito em Vila Velha
Ciclista precisa se arriscar no meio do trânsito em Vila Velha. (Fernando Madeira)

“Eu venho de Aribiri e vou para a Praia da Costa para trabalhar. Acho que, para melhorar esse caminho, precisamos de mais ciclovias e sinalização. Vejo que, indo para lá [sentido Aribiri], não tem muita faixa e o caminho é esburacado”, diz a cozinheira Kethelen Moraes, que pedala diariamente na região da Avenida Carlos Lindenberg.

Já a publicitária Taísa Diaz, moradora de Itapuã, afirma que as ciclovias do município canela-verde têm boa qualidade, mas ainda podem passar por readequações.

“A estrutura, considerando o que a gente tem na cidade, é até boa. Aqui nessa região [da Praia da Costa], eu sinto mais segurança porque a ciclovia não passa tão rente à via principal. Agora, de Itapuã para Itaparica, passa muito rente à avenida. Acho que precisamos de vias mais largas para as ciclovias e de ter uma faixa exclusiva para bicicletas elétricas e patinetes, que são muito rápidos”, sugere a ciclista.

Por conta da falta de ligação e de estrutura das ciclovias, o vigilante Moacir Cândido, morador de Itacibá, em Cariacica, sai de seu bairro, atravessa a Ponte Florentino Avidos e cruza Vitória até chegar à Ciclovia da Vida, na Terceira Ponte, para, aí sim, chegar à Praia da Costa, após um trajeto de aproximadamente 16 quilômetros.

“O caminho por Paul e São Torquato, não tem ciclovia. Temos que ficar disputando espaço com os carros, é difícil. Não tem aquela ciclovia, aquele padrão igual aqui (na Praia da Costa). Fora da orla é complicado. Parece que eles (gestores públicos) só veem a orla”, avalia Moacir.

Segundo a Prefeitura de Vila Velha, a cidade possui cerca de 50 quilômetros de ciclovias e tem feito investimentos da ordem de R$ 90 milhões para requalificação das já existentes e também para a construção de novas vias, que cruzam bairros como Novo México, Araçás, Divino Espírito Santo e Praia de Itaparica.

Ciclovias da Serra

Na Serra, em busca de identificar quais são os desafios para ciclistas, a reportagem fez um giro por pontos movimentados da cidade, principalmente aqueles que servem como caminho para quem vai trabalhar, estudar ou fazer atividades corriqueiras do dia a dia.

Na chegada pela Rodovia das Paneleiras, a Serra conta com um pequeno trecho de calçada ampla que serve como ciclovia e vai até a altura da Rua X, em Rosário de Fátima.

Entretanto, a via sinalizada para ciclistas só volta a aparecer na altura da Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, em Jardim Limoeiro, e termina no cruzamento da Avenida Carapebus, em Novo Horizonte.

Ciclistas dividem espaço com veículos maiores no trânsito da Serra
Ciclistas dividem espaço com veículos maiores no trânsito da Serra. (Fernando Madeira)

Já na altura do bairro Planalto de Carapina, a antiga BR 101 conta com uma breve ligação com a Avenida Eldes Scherrer Souza, onde a ciclovia segue até as redondezas do Terminal de Laranjeiras em um trecho esburacado.

Depois dali, a via para ciclistas só volta a aparecer na altura da recém-inaugurada Rotatória do Ó. Nesse local, a ciclovia é bem sinalizada e conta com a pintura nova, interligando-se com a Avenida Copacabana, que dá sequência à via para a Avenida Paulo Pereira Gomes, em Morada de Laranjeiras, terminando na ES 010, onde já não há um trecho exclusivo para bicicletas.

Ciclovia da Rotatória do Ó, na Serra
Ciclovia da Rotatória do Ó, na Serra, foi inaugurada recentemente. (Fernando Madeira)

Em meio a esses problemas, a Prefeitura da Serra afirma que estão sendo construídas ciclovias nos seguintes trechos: Avenida Norte-Sul, em frente ao Terminal de Laranjeiras; e na ligação Serra Dourada-Jacaraípe até o trevo com a Avenida Audifax Barcelos.

Por meio de nota, a administração municipal também divulga que pretende construir novos espaços para ciclistas, como em Porto Canoa, Serra Dourada II, Laranjeiras, Civit I, Balneário de Carapebus, entre outros bairros, chegando a 256 quilômetros de malha cicloviária ainda em 2024.

Ciclovias em Cariacica

Para quem se desloca de bicicleta por Cariacica, a novidade da vez é a orla em Porto de Santana, com aproximadamente dois quilômetros de ciclovia. Apesar da nova estrutura, o caminho para chegar até lá não é dos mais fáceis.

“Venho pedalar e correr sempre, e a estrutura está bacana. Só que o trajeto para vir até aqui está abandonado. É bem complicado”, diz a estudante Michelly Salles, que pratica atividades físicas na orla de Cariacica.

Contando com a nova estrutura, a cidade tem aproximadamente 25,5 quilômetros de malha cicloviária. Na rodovia José Sette (ES 080), a ciclovia é compreendida entre a saída do Terminal de Itacibá e a altura da sede da Prefeitura de Cariacica, sem ligação com nenhuma outra via a partir daí.

Entretanto, para sanar o problema, está sendo construída uma via multiuso na Avenida Mário Gurgel, o trecho municipalizado da BR 262. Essa ciclovia também poderá servir de acesso para a Avenida Alice Coutinho, que conta com via para ciclistas até o bairro Maracanã, onde já não há passagem exclusiva para quem anda de bicicleta.

Falta de ligação entre as vias é um dos principais problemas para ciclistas em Cariacica
Falta de ligação entre as vias é um dos principais problemas para ciclistas em Cariacica. (Fernando Madeira)

O armazenista Adilson Isidorio conta que usa a bicicleta como meio de transporte nos dias em que precisa fazer consultas médicas. Para ele, assim como os demais ciclistas entrevistados na Grande Vitória, a sensação ainda é de insegurança.

“Aqui [na Alice Coutinho] é até bom, mas depois dela já não tem mais ciclovia e aí a gente tem que vir pelo acostamento. É até arriscado um carro pegar a gente. Então, isso tem que ser melhorado”, diz o ciclista.

Em Cariacica, a reportagem também passou por pontos de grande movimentação de pessoas, como a região do Terminal de Jardim América, trechos da ES 080 na altura de Itacibá e no bairro de Tucum, cruzando a Rodovia José Sette. Em todos, os ciclistas dividem espaço com veículos maiores, colocando a vida em risco.

Visando à resolução de tais problemas, assim como as cidades vizinhas, Cariacica também promete novas obras para os amantes da bike. De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Cidade e Meio Ambiente (Semdec), o município faz orçamentos para elaboração de novos projetos de ciclovias e ciclofaixas.

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