Os danos provocados pela Covid-19 são inegáveis, mas alguns indicadores revelam-se positivos: no Espírito Santo, as internações motivadas por outras doenças respiratórias reduziram em mais de 40% neste ano devido a medidas de segurança, como distanciamento, uso de máscaras e higienização frequente das mãos, que foram adotadas na pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).
Dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), demonstram que, de janeiro a agosto de 2019, 14.747 pessoas foram internadas por problemas no aparelho respiratório. Em 2020, esse número reduziu para 8.277.
Já o InfoGripe/Fiocruz revela que, até setembro, o Sars-CoV-2 foi a causa de cerca de 99,2% das mortes no país. Os vírus da Influenza (A e B) que, até 2019, matavam cerca de 6 mil pessoas todos os anos, em 2020 atingiu até agora 1.672.
Doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel avalia que as medidas de contenção contra a Covid-19 ajudaram a diminuir infecções por rinovírus, adenovírus, influenza e vírus sincicial respiratório, e também outros coronavírus mais brandos.
"Esses vírus respiratórios dão muito em crianças e, com o fechamento das escolas e o isolamento, houve uma diminuição da circulação. Os idosos também costumam ser bastante afetados, mas como estavam no grupo de risco da Covid, foram isolados e ficaram mais protegidos", atesta.
Questionada se os hábitos adotados na pandemia devem ser incorporados à rotina, mesmo depois que houver uma imunização para a Covid-19, Ethel Maciel sustenta que sim, e lembra que os asiáticos já têm essa conduta que, muitas vezes, foi vista com estranheza por outras culturas.
"Aprendemos, na marra, a prestar mais atenção e a valorizar os sintomas de síndrome gripal. Antes da pandemia era normal, mesmo com os sinais, ir para a escola, trabalhar, pegar ônibus. O uso de máscaras nessa condição é uma consciência que os asiáticos já desenvolveram há muito tempo. Se estão gripados, não saem sem a máscara, nem ficam em locais de aglomeração; fazem isso para proteger o outro. Agora, começamos a entender que, ainda que seja um sintoma leve, sem os devidos cuidados, podemos transmitir para alguém que pode morrer", argumenta a professora.
A coordenadora médica da UTI Pediátrica da Unimed Vitória, Silvia Louzada, conta que, entre abril e setembro, é comum que a unidade atinja a sua capacidade máxima de atendimento devido às internações por problemas respiratórios. Nas crianças, são frequentes os episódios de pneumonia e bronquiolite. Neste ano, entretanto, não houve sequer um caso no período comum a essas infecções.
Com a autorização do governo para reabertura das escolas, entretanto, a pediatra acredita que possa haver um aumento no número de notificações de doenças respiratórias entre as crianças.
Essa é também uma preocupação de Ethel Maciel, que faz ainda outro alerta: a importância da vacinação de outras enfermidades imunopreveníveis, como o sarampo. Para a ela, a liberação para a volta às aulas presenciais deveria ter sido precedida de uma campanha em prol da imunização.
Ethel Maciel diz que algumas doenças estão com baixa cobertura vacinal em sarampo, a meta é de 95% do público-alvo e está em 68%, por exemplo e, associada ao retorno para as escolas, pode favorecer o surto de outras infecções. "Essa é uma situação preocupante, e os pais devem ser alertados para verificar a carteira de vacinação e, se estiver faltando alguma dose para as crianças, colocá-la em dia", conclui.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta