Na aviação, é comum aviões arremeterem por diversos motivos: vento, mau tempo, presença de animais na pista e muitos outros. Especificamente no Aeroporto de Vitória, incursões de bichos já foram registradas, mas nada parecido até então com o que ocorreu na noite desta segunda-feira (20).
Em algumas ocasiões, as operações haviam sido momentaneamente suspensas pela presença de capivaras, cachorros e até aves. Entretanto, o bicho da vez que obrigou ao menos uma aeronave a arremeter foi um... caranguejo! Vale lembrar que o terminal da Capital capixaba está situado em uma área onde a presença de crustáceos não é incomum.
Por volta das 23h, o comandante da aeronave da GOL, voo G32094, reportou a presença de "muitos deles" na pista. O fato para lá de inusitado teria sido reportado à torre de comando por outro piloto de uma aeronave que desceu momentos antes e avistou o crustáceo. A gravação do áudio foi feita por um passageiro enquanto a aeronave realizava a manobra de arremetida e reaproximação.
O comandante diz ainda que a torre de controle obrigou a aeronave a arremeter para que uma equipe do aeroporto fizesse uma vistoria no local e o recolhimento dos animais.
Procurada pela reportagem de A Gazeta, a assessoria do Aeroporto de Vitória confirmou o fato, mas explicou que não foram vários, e sim um caranguejo.
"A Zurich Airport Brasil informa que foi verificada a presença de 1 caranguejo na pista. A equipe de fauna do aeroporto foi acionada. Este é o procedimento padrão previsto para esses casos. Logo após a retirada do animal, as operações seguiram regularmente. A aeronave do vídeo pousou cerca de 10 minutos depois do speech do comandante, que não retratou a realidade da situação. Ocorrência por volta de 23h10 de segunda-feira", comunicou a empresa.
Na manhã desta quarta-feira (22), a assessoria da GOL respondeu, em nota, a reportagem de A Gazeta e informou que o piloto agiu conforme as recomendações de segurança da companhia aérea para situações que envolvam a presença de animais na pista quando na aproximação.
A GOL informa que o voo 2094, entre o aeroporto de Santos Dumont (SDU), no Rio de Janeiro, e a cidade de Vitória (VIX), realizado na noite de segunda-feira (20/03), efetuou uma arremetida durante o seu processo de aterrissagem na capital capixaba devido à presença de animais na pista. Todo o procedimento seguiu os protocolos de Segurança, valor número 1 da Companhia. Depois de liberada a pista, a aeronave retomou sua posição e pousou em Segurança às 23h06, hora local, sem nenhum atraso em relação à previsão inicial do horário de pouso.
A Companhia reforça que uma arremetida é o ato de descontinuar um procedimento de aproximação. Ela ocorre quando, após análise, o comandante verifica que o pouso não pode seguir cumprindo todos os requisitos de Segurança ou por determinação da torre de controle do aeroporto, como neste caso. A arremetida é uma manobra normal e segura e que permite que os pilotos iniciem nova aproximação em condições mais favoráveis de pista, nesta situação, sem a presença de animais na área de pouso.
A situação em que um caranguejo atrapalhou o pouso de uma aeronave não é para amadores, como diz a máxima popular. Inicialmente, foi divulgado que seria um caranguejo, mas sem detalhes sobre a espécie que apareceu no Aeroporto de Vitória. De acordo com a professora da pós-graduação em Oceanografia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Mônica Maria Pereira Tognella, pela região onde o animal apareceu e analisando uma foto tirada pelo responsável pela vistoria na área de pouso, é possível afirmar que o caranguejo é da espécie Guaiamum.
A especialista explica que o Guaiamum é associado ao ambiente de restinga, enquanto o Caranguejo-Uçá está ligado ao manguezal.
Segundo a professora da Ufes, as duas espécies não são as únicas existentes, mas despertam maior interesse comercial. A espécie Guaiamum é protegida de captura por conta do risco de extinção, explica Mônica Maria.
"Com certeza podemos dizer que o Guaiamum corre mais risco e é uma espécie mais rara, porque estamos ocupando mais a área de restinga do que a de manguezal. O Guaiamum, quando está presente, indica uma área ambiental de muita qualidade. Ele é mais suscetível à contaminação, depende da qualidade da água do lençol freático", completa.
Por estar localizado em uma área com presença constante de mamíferos e outras espécies, o sítio aeroportuário de Vitória possui uma equipe especializada no resgate de animais, inclusive conta com aves de rapina, como os falcões Malala e Abu, que afugentam a presença de outros pássaros, como urubus e garças, que podem ser sugados pelos motores dos aviões quando estes estão na aproximação ou taxiando para uma decolagem.
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