Nativa digital, a atual geração de crianças e adolescentes nasceu imersa na internet e muitos fazem da rede uma extensão de sua vida cotidiana. Para o bem e para o mal. Um garoto de 17 anos do Espírito Santo vai ser julgado sob a acusação de praticar estupro virtual contra uma menina de 14 anos. Morador de Vila Velha, o adolescente é acusado de atrair vítimas utilizando-se de um jogo com personagens lúdicos e coloridos — o Roblox.
O caso corre em segredo de justiça já que vítima e agressor são menores de idade. O adolescente encontrou a menina, moradora de São Paulo, capital paulista, no jogo infantil. Segundo o coordenador do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), Tiago Pinhal, o capixaba se aproveitou do recurso de chat oferecido pelo game.
Na ferramenta de troca de mensagens, o adolescente entrava em contato com potenciais vítimas. As investigações apontam que o jogo, voltado para o público infantil, não era escolhido à toa. Na internet, o adolescente se dizia um “Lolicon”, termo que pode estar associado à pedofilia. Do jogo, o capixaba convencia suas vítimas a migrar a conversa para outra plataforma, o Discord.
Uma vez no outro aplicativo, ele a convencia a enviar fotos íntimas e cumprir "desafios" que, na verdade, se tratavam de situações em que a vítima agredia a si mesma. Em uma das situações que consta na investigação do MPES, a vítima foi convencida e introduzir um objeto no órgão sexual. Segundo o promotor Tiago Pinhal, essa violência é tratada como estupro. A apuração do caso contou com a colaboração do Ministério Público também de outros Estados, mas ainda não foi julgado.
Tiago Pinhal afirmou que a plataforma Discord vem colaborando com a investigação e, atualmente, dispõe de equipes para atendimento específico de autoridades de segurança.
Uma das características mais marcantes desse caso, conforme descreveu o promotor, é o alto grau de manipulação da vítima por parte de seu agressor. Tiago Pinhal contou que, para obter fotos íntimas e até fazer com que a vítima se machucasse, o agressor não precisou fazer chantagens ou ameaças, ele apenas a convencia com muita conversa. Com a estratégia do convencimento, a vítima nem mesmo se enxerga nessa condição de vulnerabilidade.
Nas conversas encontradas no celular apreendido do adolescente, ele admite o interesse sexual por crianças do sexo feminino. Nesse contexto, ele se autointitula um "Lolicon". A origem do termo é atribuída aos japoneses, mas com referência no livro russo Lollita, de 1955, do escritor Vladimir Nabokov.
Na história, um professor universitário, com mais de 40 anos, narra uma obsessão por uma menina de apenas 12 anos. Após se tornar padrasto da criança, o personagem passa a manter relações com ela. Apesar de ter muitos admiradores e até premiações, o livro é considerado controverso por ter um protagonista que admite abertamente ter interesse sexual em meninas entre 11 e 14 anos.
Chegando à cultura japonesa, a palavra “Loli” — que faz referência ao título de Nabokov — é usada como um termo genérico para um certo tipo de personagens de mangás e animes com características que lembram meninas muito jovens, como altura baixa, olhos grandes, jeito de falar infantilizado e timbre de voz agudos. É comum que a personalidade desses personagens seja carregada de ingenuidade e inocência.
Enquanto Loli é usado para falar das características, Lolicon se refere a indivíduos que têm atração por crianças e adolescentes que lembram esse tipo de personagem da cultura japonesa.
O caso do adolescente de Vila Velha não é o único envolvendo capixabas em estupro virtual. Em julho, A Gazeta publicou uma reportagem em que a Polícia Federal havia identificado uma menina de 16 anos, do interior do Espírito Santo, vítima do abuso pela internet, e outros dois jovens — de Pinheiros e Afonso Cláudio — acusados de praticar a violência pela plataforma Discord. Um deles, de 17 anos, foi detido por reincidência nos atos, mesmo após cumprimento de mandado de busca e apreensão em sua residência.
Além do estupro virtual, neste caso relatado pela polícia, havia incentivo à automutilação. Nos registros da Federal, imagens de seios mutilados, uso de faca para penetração, atos de dominação e humilhação compunham a farta documentação contra os investigados.
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