Um grupo racista interrompeu, no último sábado (28), um seminário on-line de música negra realizado pelo sambista Tunico da Vila, filho de Martinho da Vila. Nas mensagens, uma advogada capixaba negra, que era uma das palestrantes, foi alvo de xingamentos. Os agressores usaram até sons de macaco. A Polícia Civil investiga o caso e tenta identificar os criminosos.
Com perfis anônimos, os agressores invadiram a live e, mesmo apos serem banidos, voltavam para continuar os xingamentos contra a advogada Fayda Belo.
A quantidade de ofensas foi tanta que Fayda precisou encerrar a palestra. Prints feitos pela organização do seminário mostram expressões como "passaram carvão" e "reunião de zoológico".
Fayda atua na área criminal e lida diariamente com casos de racismo. Por isso, a ousadia dos criminosos também chamou a atenção. "A ousadia e a certeza de que não vão ser encontrados, de que isso vai ficar impune. Racista tem que responder processo. É um crime muito bárbaro, que tenta colocar a gente, enquanto pessoas pretas, como coisas, como indivíduos, que não somos iguais aos brancos. Temos direitos de estar aqui. Temos uma lei máxima que diz que somos todos iguais. E se alguém diz o oposto, tem que virar réu por isso", completou.
Tunico da Vila é sambista e também um dos organizadores do seminário Negritar. Além do apoio à Fayda, o músico combate o racismo de forma diária, por meio da arte.
"Vou ser testemunha dela, obviamente. Toda a minha equipe será testemunha dela. Todo o material foi fornecido para ela, vai abrir um inquérito e correr atrás disso tudo. Se Deus quiser os responsáveis serão punidos. O racismo é estrutural. Religioso, psicológico e físico. Nelson Mandela é um líder negro que pagou um preço. Lutou contra o Apartheid e depois que foi liberto, disse 'perdoo meus opressores'. Nós também perdoamos, mas isso não quer dizer que não tenha um preço a ser pago. É um racismo educacional, infelizmente é uma herança de uma época escravocrata e até hoje vivemos com isso. Lido com isso fazendo samba, trazendo informação para o meu povo, visitando meu povo. Fazendo show para eles e fazendo show em todos os lugares, levando minha cultura, levando a arte. Foi assim que aprendi a combater. É assim que combato o racismo", disse o músico.
Mesmo em ambiente on-line, quando os autores se escondem com outros nomes e fotos, a polícia pode e deve ser acionada.
"É um tipo de crime que se iniciou quando as pessoas cumpriam a quarentena de Covid-19. Estavam mais em casa, a gente viu que os criminosos se aproveitaram da maior utilização de lives e reuniões virtuais, e colocavam ali ofensas, vídeos pornográficos contra determinado tipo de pessoa. Em um caso específico de ofensas sobre a cor de uma pessoa, o criminoso está cometendo um crime de injúria racial. Ele vai ser localizado pela polícia, processado e levado à Justiça. Infelizmente a gente vê uma quantidade grande desse tipo de situação acontecendo ainda. Eles têm uma falsa sensação de impunidade, porque é possível sim que sejam identificados por uma investigação e vão, sim, responder por isso", explicou o delegado Brenno Andrade, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) do Espírito Santo.
O caso foi registrado na delegacia nesta esta terça-feira (31), em Cachoeiro de Itapemirim.
Desde 2021, o crime de injúria racial pode ser equiparado ao de racismo e ser considerado imprescritível, ou seja, passível de punição a qualquer momento.
Com informações de João Brito, do g1 ES
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