Perda permanente da visão no olho esquerdo. Este foi o diagnóstico dado à advogada Michaella Zukoski, de 26 anos, um ano e quatro meses após a pedrada que atingiu o rosto da jovem enquanto passava pela ES 060, conhecida como Rodovia do Sol, em Vila Velha. Além da tristeza, ela recebeu a notícia com indignação. Isso porque, segundo os médicos, o problema foi causado pela demora no começo do tratamento.
Quando o paralelepípedo pegou no lado esquerdo da cabeça da advogada, houve um afundamento de crânio. Foram diversas cirurgias e cuidados com o olho até que, em dezembro de 2023, um oftalmologista informou que ela estava com um edema ocular – inchaço localizado. Por causa dele, além da perda total da visão lateral causa pelo acidente, o olho esquerdo também ficou com a parte central deformada, conforme Michaella explicou em vídeo publicado em uma rede social (veja acima).
A ajuda poderia ter vindo com injeções oculares, processo negado pelo plano de saúde em dezembro de 2023. “Dei entrada, mas eles me negaram três vezes. Entrei na Justiça também com uma liminar para a Unimed custear”, explicou a Michaella.
Para obter ajuda, a advogada ficou por quatro meses nos Estados Unidos, com visto de saúde iniciado em julho deste ano, após arrecadar dinheiro por uma vaquinha na internet. Lá, realizou em consultas com oftalmologistas, cirurgiões plásticos, neurologistas e cirurgião bucomaxilofacial. Em terras norte-americanas, ela soube da permanência do problema.
Segundo os especialistas que a atenderam, uma pele se criou em volta do edema. Devido à espessura, qualquer injeção no local agora pode causar danos mais sérios, como uma hemorragia.
Michaella explicou em entrevista por telefone para A Gazeta que, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos podem cobrir tratamento para degeneração macular em casos de questões causadas por velhice e pessoas que nasceram com o problema.
“Sobre outros casos é algo muito vasto, existem jurisprudências que a justiça fez a Unimed acatar, só que até hoje eu não tive a resposta”, contou.
O inchaço dentro do olho causou a perda total da visão lateral inferior. Nesse lado, Michaella vê tudo preto. Já a visão central também foi afetada.
Se acostumar com a situação está sendo um dia de cada vez para a jovem. Construir uma nova vida baseada na forma como, literalmente, vê o mundo faz ela se sentir mais forte, mas, ao mesmo tempo, injustiçada.
O sentimento vem de saber que teriam chances de viver um cenário diferente. De acordo com a advogada, era 99% de chance do resultado das injeções serem positivas caso tivessem sido aplicadas em dezembro de 2023, quando foi descoberto o edema.
Agora ela teme que o tecido não cresça mais e prejudique a visão. Entre o penúltimo e o último exame, ele dobrou de tamanho.
“A Michaella de antes é totalmente diferente da de hoje. Eu tenho essa força que veio dentro de mim, que cresceu dentro de mim. Então eu fico feliz por mais que eu também fique triste pela situação que eu tô vivendo”, analisou.
Para custear o tratamento na clínica americana, Michaella recorreu a ajuda na internet. Ela abriu uma vaquinha e conseguiu arrecadar o valor para marcar exames na Mayo Clinic, em Minnesota, referência no tratamento ocular, em menos tempo do que ela imaginava.
“Como o povo brasileiro se uniu para poder me ajudar numa situação que na eu não te teria como, eu não teria como mover esse valor todo para poder estar lá durante esses meses. É muito bacana ver toda essa comunidade”, explicou a advogada.
No dia 8 de julho de 2023, a advogada, que tinha 25 anos, seguia em um carro com o pai e o irmão para Minas Gerais para o enterro do avô. A caminho, um homem jogou um PAVs – usado em calçamentos e conhecido como paralelepípedo – em direção ao veículo que quebrou o vidro da frente e pegou no rosto de dela.
"Um indivíduo saiu do canto da rua e lançou um paralelepípedo na direção do carro, acertando o carro das vítimas na região do para-brisa, quebrando-o", informou a PM na época.
O suspeito fugiu e não foi mais visto pelos ocupantes do veículo. Ferida, Michaella foi socorrida pelo pai e o irmão e levada para o hospital particular da Praia da Costa, e depois foi transferida para um hospital particular de Vitória, onde permaneceu internada.
Em nota, a Unimed Vitória informou que o procedimento não foi autorizado, pois a indicação feita para o uso da medicação pela paciente não se enquadra na Diretriz de Utilização, que trata dos critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde (ANS).
"A cooperativa reafirma seu compromisso em seguir todas as normas para garantir um atendimento justo e de qualidade a seus clientes", frisou.
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo foi demandado sobre o andamento do processo.
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