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Advogado internado no ES pode ser vítima da mesma substância que matou casal

Advogado internado no ES pode ser vítima da mesma substância que matou casal

Segundo a esposa, homem de 65 anos está na UTI de hospital em Colatina com problemas intestinais. O nome dele estava na lista de clientes do mesmo fornecedor que vendeu o produto contaminado para o casal que morreu na Serra

Publicado em 13 de julho de 2021 às 20:17

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Esposa de advogado encaminhou produto para a Polícia Civil
Esposa de advogado encaminhou produto para a Polícia Civil . (Divulgação )

Um advogado internado na UTI de um hospital de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, pode ser mais uma vítima do falso óleo de semente de abóbora que ocasionou a morte de um casal da Serra no início deste ano. A suspeita surgiu após a polícia encontrar o nome do homem na lista de compradores do mesmo fornecedor que vendeu o produto contaminado para o casal — mercadoria continha a substância dietilenoglicol, que é tóxica. A substância é a mesma que contaminou lotes da Cervejaria Backer, em Minas Gerais, e matou pelo menos dez pessoas em 2019.

O advogado mora na cidade mineira de Aimorés, que fica na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo, por isso foi internado em um hospital particular de Colatina. O nome do advogado não está sendo divulgado a pedido da família. A esposa contou à reportagem que o homem de 65 anos comprou o produto pela internet em busca de qualidade de vida e regulação do colesterol. Segundo a mulher, ele consumiu o produto por alguns dias até apresentar problemas intestinais graves.

“As equipes médicas fizeram vários exames e não descobriram o motivo dos problemas. Ele foi internado em 6 de abril e teve alta no começo de maio, mas alguns depois voltou para o hospital com problemas cardíacos em função da primeira internação (segundo médicos disseram para ela)”, relatou a esposa do advogado.

Segundo a esposa da vítima, a família não desconfiava que os problemas do advogado pudessem ter alguma ligação com o óleo, até receber uma ligação da Polícia Civil do Espírito Santo informado que o nome do homem estava na lista de compradores do mesmo vendedor que forneceu os produtos para o casal que morreu na Serra. O responsável pela fabricação do produto vendido ao casal como óleo de semente de abóbora foi preso em flagrante em maio deste ano em São Bernardo do Campo (SP).

Polícia
Um litro do produto era vendido por mais de R$ 600 reais em sites de compra e venda na internet. (Divulgação/Polícia Civil)

A esposa informou que esse contato foi feito nos últimos dias e disse que ainda aguarda o resultado do laudo pericial para saber se o produto tinha alguma substância tóxica. A embalagem do produto comprado pelo advogado é do mesmo fabricante que vendeu o material para o casal.

No dia em que a Polícia Civil informou haver encerrado o inquérito sobre a morte do casal na Serra,  já havia adiantado que o site em que o óleo era vendido foi contatado para informar se mais pessoas compraram o produto e, consequentemente, fazer a identificação de outros possíveis contaminados.

A mulher contou que o advogado ainda segue na UTI, mas existe a expectativa que ele melhore e possa deixar a unidade nos próximos dias.

Questionada sobre a situação do advogado, a Polícia Civil informou que o caso está sendo apurado pelo 12º Distrito Policial e ressaltou que, para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação será repassada.

CASAL MORTO NA SERRA 

No dia 6 deste mês, a Polícia informou que concluiu o inquérito que investigou a morte do casal Rosineide Dorneles Mendes Oliveiras e Willis Penna de Oliveira. A mulher morreu em 15 de fevereiro e o companheiro foi a óbito em 16 de março deste ano, após ambos consumirem o produto denominado “óleo de semente de abóbora”, vendido para todo o Brasil pela internet.

O material foi o que a artesã e o cozinheiro passaram a consumir diariamente, na quantidade de uma colher por dia, mas o que eles ingeriram não continha nada do prometido, segundo perícia da Polícia Civil.

Rosineide Dorneles Mendes e o cozinheiro Willis Pena de Oliveira, que morreram na Serra
Rosineide Dorneles Mendes e o cozinheiro Willis Pena de Oliveira, que morreram na Serra. (Reprodução/ Facebook)

Segundo a investigação, o casal usou o produto por cerca de 14 dias e parou apenas quando começou a sentir os primeiros sintomas, como náuseas, dores de cabeça e vômitos. Inicialmente, ambos buscaram atendimento médico, mas foram liberados porque os sintomas foram classificados como leves. Somente na terceira ida a um pronto-atendimento, com o quadro já agravado e com insuficiência renal identificada, marido e mulher foram internados no Hospital Estadual Dório Silva, na Serra, em estado grave.

Exames laboratoriais e cadavéricos feitos nos corpos atestaram que o casal ingeriu dietilenoglicol, a mesma substância presente em um lote de cerveja da Cervejaria Backer, de Belo Horizonte (MG), que contaminou diversos consumidores, entre eles um capixaba, e provocou a morte de dez pessoas.

A INVESTIGAÇÃO

Após meses de investigação, que contou com a colaboração da Polícia Civil dos Estados do Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais, a polícia concluiu o inquérito e efetuou a prisão do responsável pela fabricação do produto vendido como óleo de semente de abóbora. A prisão ocorreu na cidade paulista de São Bernardo do Campo, em uma casa improvisada como laboratório, onde o fabricante produzia livremente o composto. Ele foi preso em flagrante no dia 25 de maio e cumpre prisão preventiva.

Além do falso óleo de semente de abóbora, no laboratório clandestino eram feitos cosméticos sem qualquer tipo de controle, desta forma é provável que tenha ocorrido uma contaminação por produtos diferentes ou até mesmo a rotulagem equivocada do que estava sendo envasado.

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O "óleo de semente de abóbora era fabricado e envasado em um laboratório clandestino em São Paulo. (Divulgação/Polícia Civil)

"Nesta mesma empresa, o responsável desenvolvia outras atividades, como cosméticos. Então ele tinha uma série de produtos que também eram vendidos pela internet. A gente acredita que ele possa ter misturados os ingredientes ou cometido um erro na hora de rotular e acabou vendendo uma substância por outra. A produção era completamente artesanal e ele não tinha formação alguma na área. Simplesmente achou que poderia envasar e vender", disse delegado Rodrigo Rosa, do 12º Distrito Policial, que comandou as investigações.

O homem preso foi autuado pelos crimes de estelionato, crime contra relações de consumo e por falsificação de produtos terapêuticos. As penas somadas podem chegar a 25 anos. O chefe do 12º distrito vai solicitar também a prisão pelo duplo homicídio do casal, comprovado ser pelo uso da substância em questão.

CONCENTRAÇÃO E CONTAMINAÇÃO

Segundo a perita Daniela de Paula, as primeiras análises do produto recolhido na casa do casal da Serra descartou a possibilidade de ser um óleo vegetal. Com isso, os trabalhos foram direcionados a identificar qual era a substância que causou a morte do casal.

Foram encontradas duas substâncias nesse suposto óleo de semente de abóbora: a glicerina e o dietilenoglicol. Para atestar se era realmente o mesmo composto que contaminou o lote de cervejas, a perícia técnica da Polícia Civil mineira foi solicitada para enviarem os parâmetros da substância. Feita a análise, foi comprovado e constatado o dietilenoglicol no produto comprado por Rosineide e Willis.

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Na sede da empresa, o produto que matou o casal era porcionado e envasado em frascos vendidos na internet. (Divulgação/Polícia Civil)

Com a substância identificada, a perícia investigou a quantidade presente nas amostras. Para surpresa até mesmo dos peritos e legistas, a concentração estava muito acima da permitida pela legislação vigente no país.

"A partir daí foi desenvolvida uma técnica para que a gente pudesse quantificar a quantidade deste produto em questão. Na glicerina, é permitido ter até 0,10% de dietilenoglicol na composição, nestes casos para o uso oral. Foi identificada a quantidade de 13% de dietilenoglicol na formulação. A glicerina em si também é um medicamento e usada em alguns xaropes de paracetamol e outros. Em resumo, é como se em 100 ml's de glicerina, encontramos 13 ml's de dietilenoglicol", detalhou Daniela de Paula.

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