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'Agora eu tenho um anjo no céu', diz avó que perdeu neto em incêndio

"Agora eu tenho um anjo no céu", diz avó que perdeu neto em incêndio

Pablo Sandes Filho, de 4 anos,  não resistiu, após inalar muita fumaça. Idalba Soneghet criticou a demora do Corpo de Bombeiros no atendimento

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 22:29

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 Defesa Civil faz avaliação em apartamento  que pegou fogo na Praia do Canto
Defesa Civil faz avaliação em apartamento que pegou fogo na Praia do Canto. (Luciney Araújo)

"Agora eu tenho um anjo no céu". Foi assim que Idalba Soneghet Barros Alvares, avó do menino Pablo David Eliseo Sandes Filho, 4 anos, que morreu em um incêndio, tentou descrever a dor da perda. Ela participou da missa realizada pela comunidade católica da Praia do Canto, em Vitória,  em consideração ao sétimo dia da morte da criança, nesta segunda-feira (26). Os pais do menino não tiverem condições emocionais de comparecer. A avó participou da cerimônia, acompanhada do neto mais velho, de 6 anos.

Idalba, a filha, os netos, a babá das crianças e o pai de Pablo estavam no apartamento quando começou o incêndio em um dos quartos do imóvel, localizado na Avenida Rio Branco. A família morava no local havia dois meses. Moradores de outros prédios viram o fogo e ligaram para o Corpo de Bombeiros. Quando o resgate chegou, a equipe conseguiu acessar o local em que Pablo  estava no apartamento para socorrê-lo, mas ele não resistiu e morreu. 

"Não é apenas a perda de um neto. Para mim, ele era um filho. Agora, eu tenho dois filhos na terra e um anjo que está no céu, e é muito triste", desabafou Idalba, após a missa de Sétimo Dia. 

Para a avó,  o tempo de espera pelo Corpo de Bombeiros foi longo demais. "Parecia que só tinha ambulância lá para recolher corpos. Houve um descaso do Corpo de Bombeiros e do governo do Estado. Agradeço ao Corpo de Bombeiros, mas o atraso deles fez com que eu perdesse meu neto. Isso é uma coisa muito séria e que tem que ser revista", lamentou. 

Idalba e a filha conseguiram escapar com a ajuda de vizinhos por uma das janelas do imóvel, o neto mais velho foi retirado pela babá e o pai de Pablo tentou conter as chamas com extintor para chegar ao menino, que estava no quarto dos fundos do imóvel.  Ela se solidariza com todas as famílias e vítimas que já perderam alguém em um incêndio.

"Eu fui resgatada por pessoas que não eram do Corpo de Bombeiros.  Meu luto vai continuar a vida inteira, mas eu quero fazer uma fundação com o nome do Pablo para ajudar vítimas como ele. Eu fiz sucesso porque morava na Praia do Canto, mas quem mora no alto do morro? E quando o bombeiro demora 40 minutos,  sendo que  está a 6 minutos da Avenida Rio Branco? Infelizmente, é um negócio enlouquecedor",observou Idalba.  

Diante das declarações da avó, a reportagem procurou o Corpo de Bombeiros para que se manifestasse sobre o caso. Por meio de nota, a corporação informou que "busca, diariamente, o aprimoramento do atendimento à população, sempre no intuito de salvar vidas. A Corporação lamenta profundamente a perda da família e ressalta que buscou adotar todos os procedimentos necessários para salvar a criança, que foi retirada ainda com vida de dentro do apartamento. Cabe destacar que o governo do Estado está investindo fortemente na corporação, com aquisição de viaturas, reforma de unidades e o aumento do número de vagas no concurso em andamento. Ao final do ano, o objetivo é reforçar o efetivo com cerca de 200 militares, para reduzir ainda mais o tempo de resposta a ocorrências dessa natureza."

INCÊNDIO

Segunda-feira, 19 de outubro de 2020. Por volta das 20 horas, um incêndio começou no apartamento 304 no terceiro andar do Edifício Pintor Fanzeres, na Avenida Rio Branco, na Praia do Canto, em Vitória. Seis pessoas estavam no local na hora: mãe, pai, avó, dois meninos (um de 4 anos e outro de 6 anos) e a babá. O menino de 4 anos - identificado como Pablo - estava no quarto, ao lado do foco das chamas, e morreu.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a partir do momento em que a família ouviu "fogo", o pai das crianças pediu para que todos saíssem do apartamento. A babá pegou o menino de 6 anos, que estava na sala, e saiu do local. A mãe foi até o "quarto 1" para pegar a avó e o pai saiu para pegar o extintor no corredor.

Quase meia hora depois do início do incêndio, equipes do Corpo de Bombeiros que chegaram ao local foram fazer o resgate da mãe e da avó. Uma das equipes tentava retirá-las do local pela janela do edifício e outra por dentro do prédio.

Imagem da destruição causada pelo fogo no apartamento na Praia do Canto
Vídeo obtido pela TV Gazeta mostra interior do apartamento que pegou fogo em Vitória. (Reprodução/TV Gazeta)

Quando as mulheres saíram do local com a ajuda dos bombeiros, elas avisaram que tinha mais uma criança dentro do apartamento: o menino de 4 anos. Enquanto a equipe de contenção continuava a controlar as chamas no local, um dos bombeiros, que estava de pronto atendimento na porta do apartamento, entrou e resgatou o menino.

A criança foi levada desacordada para uma ambulância na porta do prédio. Os socorristas tentaram reanimá-lo por quase duas horas, mas não conseguiram. Moradores chegaram a fazer uma corrente de oração ao redor da ambulância enquanto a criança recebia o atendimento. Por volta das 23h40, ele foi declarado morto. 

APURAÇÕES

Na terça-feira (20), uma equipe do Corpo de Bombeiros e outra da perícia da Polícia Civil estiveram no apartamento para coletar informações e indicar o que teria provocado o incêndio. A Polícia Civil informou, por meio de nota, que as circunstâncias do incêndio estão sendo apuradas pela Delegacia da Praia do Canto e  o laudo pericial deve ser concluído em 30 dias.

Os moradores puderam retornar para o prédio na terça-feira (20), ainda com o forte odor de fumaça, após a limpeza dos corredores do condomínio. "O quarto da suíte foi o mais destruído. As primeiras informações são de que o fogo começou no quarto da suíte, onde havia, inclusive, duas araras de roupas. Eles moravam aqui no prédio havia pouco mais de dois meses, já que durante um mês apenas reformaram o apartamento", explicou o síndico Flaubert Fregonassi.

O porteiro Albert Coutinho, 54 anos, trabalha no prédio há 27 anos e contou que nunca passou por nada parecido. "Foram os moradores do prédio da frente que viram a fumaça saindo e me avisaram, pois, o apartamento atingido fica nos fundos. Eu subi com extintor nas mãos, outras pessoas já puxavam a mangueira. Mas a fumaça  estava intensa, não conseguíamos entrar no terceiro andar", lembrou o porteiro, que havia virado a noite acordado.

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