No dicionário, alegre é o adjetivo de quem tem ou manifesta alegria. O significado serve perfeitamente para descrever como está se sentindo a bióloga capixaba Thayna da Silva Raymundo neste fim de ano. Recentemente, graças a uma descoberta feita por ela, a palavra ganhou outro significado, relacionado à fauna do Espírito Santo. A pesquisadora descobriu uma nova espécie de inseto, batizada de Thraulodes alegre — uma referência ao município do Sul do Estado, onde o animal foi encontrado.
Na última terça-feira (7), o estudo feito por Thayna como trabalho de conclusão da pós-graduação em Entomologia (ramo especializado no estudo de insetos) foi publicado na revista científica internacional Zootaxa, ou seja, foi revisado e validado por outros especialistas da área. Para a capixaba, foi um presente de Natal antecipado, mas que deu muito trabalho.
"O gênero Thraulodes é um dos mais ricos em espécies no mundo. Para catalogar todas, usamos as chamadas 'chaves taxonômicas', que são listas com características dos animais conhecidos. Diante de cada característica você vai seguindo um 'caminho' indicado até chegar a uma determina espécie (ou não), pela combinação delas. Há também os artigos de descrição das espécies já conhecidas", explica a bióloga.
Segundo a pesquisadora capixaba, entre os principais atributos particulares ao "alegre" estão:
A bióloga afirma que, para conseguir cravar que esse inseto de apenas oito milímetros é uma espécie nova, os órgãos sexuais do animal foram muito úteis — e ainda comentou dois fatos bastante curiosos, mas que são comuns a todos os indivíduos da ordem Ephemeroptera (que tem a mesma origem da palavra "efêmero").
De acordo com a pesquisadora, atualmente, apenas a fase adulta do "alegre" é conhecida. O estágio mais inicial, também chamado de "ninfa", é desconhecido. "Entre os insetos, é muito comum saber apenas uma dessas etapas da vida. Quando se conhece muito bem ambas, é quase um milagre", brinca.
Por enquanto, o que se sabe é que o Thraulodes alegre vive em ambientes aquáticos e pode servir de alimento para animais como aves, morcegos e sapos. Embora possa ser confundido com um mosquitinho comum, ele não representa nenhum tipo de prejuízo aos seres humanos, muito pelo contrário.
"Costumamos encontrá-lo em ambientes de água doce com correnteza, porque ele precisa de oxigênio para sobreviver. Assim, ele acaba sendo um bioindicador da qualidade de água. Se o encontramos em determinada água é um sinal potencial de que ela está boa", conta Thayna.
A informação é uma boa notícia para a Cachoeira da Fumaça, em Alegre, onde o inseto foi encontrado em 2011 por Jeane Marcelle Cavalcante do Nascimento, pós-graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e mestre em Entomologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Após ser coletado, o animal foi objeto de estudo da bióloga capixaba.
Na época em que a coleta foi feita, o objetivo era apenas identificar grupos taxonômicos. Ou seja, não houve um aprofundamento para descobrir espécie por espécie — trabalho árduo em que Thayna se dedicou a partir do final de 2017, analisando parte desse material que estava disponível na Ufes.
"Eu estudei o gênero Thraulodes até meados de 2018. Na metade daquele ano, nós batemos o martelo de que tínhamos encontrado uma espécie nova. A partir daí, começamos a trabalhar na descrição, mas essas coisas científicas demoram e só em julho deste ano é que enviamos o material", lembra.
Além do Thaulodes alegre, ela e os companheiros de equipe fizeram novos registros e descrições para a fêmea do Thraulodes itatiajanus e registraram pela primeira vez, no Espírito Santo, o Thraulodes luisae — espécies que são "parentes". Os três feitos foram incluídos na mesma publicação científica.
Junto da Thayna e da Jeane, também constam como autores do estudo Taís Barbosa Almeida, então aluna da pós-graduação em Biologia Animal da Ufes, e Frederico Falcão Salles, que era colega da Thayna na pós-graduação em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.
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